por José Vítor Malheiros
Texto publicado no jornal Público a 4 de Fevereiro de 2014
Crónica 5/2014
A “avaliação” visa tornar evidente aos trabalhadores que estão todos a concorrer uns com os outros.
Se fosse preciso uma prova do controlo que a extrema-direita económica exerce sobre a sociedade e de como se apoderou do debate político e impõe a sua agenda mediática, bastaria ver como um dos seus representantes, o ministro Pedro Mota Soares, pôs toda a gente a discutir a melhor maneira de despedir trabalhadores, apesar de o principal problema que afecta o país ser o desemprego.
No espaço de poucos dias, saber “despedir bem” passou a ser uma competência fulcral para as empresas portuguesas e a lacuna neste “saber” o grande problema da economia nacional.
O Governo lembrou-se assim de definir uma lista hierárquica de critérios que devem servir para escolher os trabalhadores a despedir em caso de extinção de posto de trabalho e definiu como primeiro critério a “avaliação de desempenho”.
A lista de critérios destina-se apenas a dar uma aparência de objectividade a algo que está sujeito à mais absoluta arbitrariedade. Mas é espantoso como os próprios sindicatos se sentem constrangidos na sua argumentação pela aparente tecnicidade da expressão “avaliação de desempenho”.
De facto, a “avaliação de desempenho” apenas se encontra no topo desta lista por ser algo que permite todas as arbitrariedades às organizações, por restringir direitos aos trabalhadores e por ser, de uma forma geral, um instrumento de repressão das liberdades nas empresas, ao gosto da gestão moderna. E não por se revelar uma ferramenta de gestão das organizações mais justa ou mais geradora de inovação e de eficiência.
O recurso à “avaliação individual de desempenho” standardizada serve apenas para que empresários, gestores ou capatazes possam tomar decisões de despedimento ou recompensa de trabalhadores motivadas por razões pessoais ou políticas e as possam justificar com ar inocente apontando para uma tabela Excel.
Na prática, a “avaliação individual de desempenho” serve, antes de mais, como ferramenta de divisão entre trabalhadores, tornando evidente que todos eles estão a concorrer uns com os outros e que uma diferença de umas décimas numa pontuação pode ser a diferença entre manter o emprego ou ir para a rua. Não é por acaso que esta avaliação de desempenho é sempre individual mesmo quando só faria sentido avaliar equipas: o objectivo é impedir a união de trabalhadores em torno de interesses comuns. Não é por acaso que as consultoras que realizam estas “avaliações” incentivam as empresas a criar níveis salariais tão diferenciados quanto possível. O propósito é que cada trabalhador acabe por ficar sozinho numa “classe” profissional onde não poderá encontrar solidariedades. A receita é velha: dividir para reinar.
Esta “avaliação” promove a concorrência entre trabalhadores, em vez da cooperação, a rivalidade, em vez do trabalho de equipa, a delação, em vez da partilha de informação, a dissimulação de erros, em vez da sua correcção. Não o faz por acaso. É esse o seu objectivo. Não a eficiência ou a excelência da organização.
Com o pretexto de que a seriação promove a excelência, a avaliação individual de desempenho promove a desigualdade. É por isso que só se admite determinado número de trabalhadores em cada nível. É a táctica “escolha de Sofia”: o chefe de uma secção deve criar um ranking com todos os trabalhadores da sua secção, ordenados numericamente, mesmo quando isso não faz sentido. Em vez de uma equipa, cria-se uma fila indiana que representa a cadeia alimentar em vigor.
A “avaliação” pune o absentismo em termos objectivos, o que significa que regista as faltas, mesmo quando estas são dadas por razões legítimas e legais – como uma baixa de maternidade ou a redução de horas concedidas aos trabalhadores-estudantes.
O principal problema da “avaliação individual de desempenho”, porém, é outro. É que a avaliação não faz apenas uma análise quantitativa e qualitativa do trabalho realizado (o que não seria fácil só por si), mas inclui também uma componente “comportamental”. Para ter uma boa avaliação é importante ser “positivo“ (o que significa oferecer as suas ideias mas nunca criticar as ideias do chefe), ser “construtivo” (o que significa nunca criticar as opções da organização), ser um “team player” (o que significa obedecer às instruções mais cretinas que venham de cima e não sonhar em ter qualquer tipo de actividade sindical), estar “disponível” (o que significa fazer horas extraordinárias sem compensação), “vestir a camisola” (o que significa esconder ilegalidades cometidas pela organização), etc., etc..
O que está em causa aqui não é a avaliação em si. Todos os responsáveis por organizações avaliam os seus trabalhadores. Mas fazem-no em geral aceitando as naturais diferenças entre as pessoas e sem obrigar toda a hierarquia a uma prática indigna de vigilância e delação institucionalizada e sem criar um clima de medo. O problema da “avaliação individual de desempenho” de que a direita gosta é o seu carácter impessoal e totalitário. Não os objectivos que diz pretender. (jvmalheiros@gmail.com)
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terça-feira, fevereiro 04, 2014
terça-feira, agosto 06, 2013
Quando o trabalho obriga a vender o coração e o sorriso
por José Vítor Malheiros
Texto publicado no jornal Público a 6 de Agosto de 2013
Crónica 30/2013
1."I'm lovin'it!" A frase vem estampada nos uniformes, nos cartazes, nas embalagens e no material publicitário da cadeia de fast food McDonald's. O slogan foi criado em 2003 pela agência Heye & Partner (diz-nos a Wikipedia) e desde essa altura que invadiu os milhares de restaurantes da cadeia em todo o mundo. A Heye & Partner tem sede na Alemanha, perto de Munique, e o slogan ecoa num tom moderno esse outro lema alemão famoso: "Arbeit macht Frei." A primeira versão do "I'm lovin' it!" foi, por isso, "Ich liebe es". Gosto disto. Estou a adorar! Isto é mesmo porreiro, pá! Este Arbeit dá gozo, meu!
A particularidade do slogan é que não se trata da declaração de um atributo da marca, de um compromisso da empresa, de uma garantia de qualidade, de uma promessa de bom serviço ou de qualquer outra coisa. Este slogan foi criado pela empresa mas é posto na boca dos trabalhadores. Foi criado para que fossem eles a dizê-lo, como se eles o pensassem e o sentissem. A empresa defenderá que se trata de um contrato livre entre duas partes e que ninguém é obrigado a ir trabalhar para a McDonald's e, portanto, ninguém é obrigado a ostentar o slogan, o que é formalmente verdade, mas todos sabemos o grau de liberdade existente na negociação de contratos de trabalho. Quem vai trabalhar para a McDonald's tem de fazer o seu trabalho, depressa e bem, e tem de dizer que adora trabalhar ali, ainda que o seu trabalho seja duro, mal pago e precário.
Pode defender-se que isto não é muito diferente de tantas outras obrigações profissionais em que se incorre ao assinar um contrato de trabalho e é evidente que existe da parte de qualquer trabalhador um dever geral de protecção do bom nome da empresa onde se trabalha, mas este "I'm lovin' it!" vai um passo à frente. Este "I'm lovin' it!" não é uma mera defesa da reputação da empresa. Nem é sequer uma mera publicidade da marca, que seria entendível sempre como uma declaração da própria empresa. Este "I'm lovin' it!" obriga todos os trabalhadores a declararem activamente a todo o momento o seu gosto pelo trabalho que fazem e a sua adoração pela empresa que os emprega e a fazê-lo em nome pessoal. É uma usurpação da consciência individual que aqui tem lugar. É um abuso em termos de direitos individuais e um atropelo da liberdade de expressão porque limita a liberdade do indivíduo e se apropria, em benefício do empregador, de algo que é da esfera privada do trabalhador: o seu gosto pessoal, a sua liberdade de declarar aquilo de que gosta ou não gosta. Se cada empregado da McDonald's trouxesse um autocolante na camisa que dissesse "Os nossos hambúrgueres são os melhores do mundo!" isso seria entendido como uma alegação da empresa, que não comprometeria a identidade de cada trabalhador. Mas ao impor aquele "I" e aquele "lovin'", a McDonald's visa apropriar-se da alma e do coração das pessoas que trabalham para si. Estas pessoas pertencem-me. Não apenas o seu Arbeit, mas o seu Eu. A questão levanta problemas jurídicos interessantes: se declarar que se adora o seu trabalho faz parte dos deveres de um trabalhador da McDonald's, será que esse mesmo trabalhador da McDonald's, nas suas horas livres, pode dizer que detesta o seu trabalho? Repare-se que não se trata de difamar ou de fazer sequer uma crítica ao seu empregador, mas de fazer um comentário que é da estrita esfera pessoal ("não gosto de").
2. Há muitos exemplos de como as empresas limitam de uma forma cada vez mais insidiosa as liberdades dos seus trabalhadores, impondo ditaduras de facto que restringem o exercício das liberdades cívicas constitucionais a escassas horas da vida dos cidadãos - as que decorrem entre o trabalho e o sono - e se apropriam de uma forma cada vez mais invasiva de espaços reservados da sua vida social e privada.
Uma das formas de repressão laboral que se tornaram mais comuns - em particular nos trabalhadores que têm de atender o público - é a obrigação... de sorrir. Porquê? Pela mesma razão por que os empregados da McDonald's têm de dizer que adoram o que fazem: porque os magos do marketing descobriram que, assim, os clientes se sentem mais felizes e, quando os clientes se sentem mais felizes, compram mais. E porque, cada vez mais, os patrões pensam que são donos dos seus trabalhadores. Nos Estados Unidos, o sorriso pode ser uma obrigação contratual e a sua falta, justa causa de despedimento. Haverá coisa mais triste? É evidente que todos preferimos ser atendidos por empregados naturalmente alegres e sorridentes, mas será lícito impor, como condição contratual, o sorriso constante? Fará o sorriso parte das obrigações profissionais, como pesar a farinha ou dar informações sobre um frigorífico? Ou fará parte daquele eu íntimo que não queremos e não devemos pôr à venda? Que não se pode pôr à venda porque não é uma mercadoria, porque não foi feito para ser vendido?
Impor um sorriso como ferramenta de trabalho é dizer a uma pessoa que não é dona dos seus sentimentos nem da sua expressão, que eles pertencem "à companhia", que são meras ferramentas de produção. Impor um sorriso como ferramenta de trabalho é uma forma de proxenetismo, de esclavagismo light, aquele que a gestão moderna se tem empenhado em impor em substituição dos campos de trabalho. (jvmalheiros@gmail.com)
Texto publicado no jornal Público a 6 de Agosto de 2013
Crónica 30/2013
1."I'm lovin'it!" A frase vem estampada nos uniformes, nos cartazes, nas embalagens e no material publicitário da cadeia de fast food McDonald's. O slogan foi criado em 2003 pela agência Heye & Partner (diz-nos a Wikipedia) e desde essa altura que invadiu os milhares de restaurantes da cadeia em todo o mundo. A Heye & Partner tem sede na Alemanha, perto de Munique, e o slogan ecoa num tom moderno esse outro lema alemão famoso: "Arbeit macht Frei." A primeira versão do "I'm lovin' it!" foi, por isso, "Ich liebe es". Gosto disto. Estou a adorar! Isto é mesmo porreiro, pá! Este Arbeit dá gozo, meu!
A particularidade do slogan é que não se trata da declaração de um atributo da marca, de um compromisso da empresa, de uma garantia de qualidade, de uma promessa de bom serviço ou de qualquer outra coisa. Este slogan foi criado pela empresa mas é posto na boca dos trabalhadores. Foi criado para que fossem eles a dizê-lo, como se eles o pensassem e o sentissem. A empresa defenderá que se trata de um contrato livre entre duas partes e que ninguém é obrigado a ir trabalhar para a McDonald's e, portanto, ninguém é obrigado a ostentar o slogan, o que é formalmente verdade, mas todos sabemos o grau de liberdade existente na negociação de contratos de trabalho. Quem vai trabalhar para a McDonald's tem de fazer o seu trabalho, depressa e bem, e tem de dizer que adora trabalhar ali, ainda que o seu trabalho seja duro, mal pago e precário.
Pode defender-se que isto não é muito diferente de tantas outras obrigações profissionais em que se incorre ao assinar um contrato de trabalho e é evidente que existe da parte de qualquer trabalhador um dever geral de protecção do bom nome da empresa onde se trabalha, mas este "I'm lovin' it!" vai um passo à frente. Este "I'm lovin' it!" não é uma mera defesa da reputação da empresa. Nem é sequer uma mera publicidade da marca, que seria entendível sempre como uma declaração da própria empresa. Este "I'm lovin' it!" obriga todos os trabalhadores a declararem activamente a todo o momento o seu gosto pelo trabalho que fazem e a sua adoração pela empresa que os emprega e a fazê-lo em nome pessoal. É uma usurpação da consciência individual que aqui tem lugar. É um abuso em termos de direitos individuais e um atropelo da liberdade de expressão porque limita a liberdade do indivíduo e se apropria, em benefício do empregador, de algo que é da esfera privada do trabalhador: o seu gosto pessoal, a sua liberdade de declarar aquilo de que gosta ou não gosta. Se cada empregado da McDonald's trouxesse um autocolante na camisa que dissesse "Os nossos hambúrgueres são os melhores do mundo!" isso seria entendido como uma alegação da empresa, que não comprometeria a identidade de cada trabalhador. Mas ao impor aquele "I" e aquele "lovin'", a McDonald's visa apropriar-se da alma e do coração das pessoas que trabalham para si. Estas pessoas pertencem-me. Não apenas o seu Arbeit, mas o seu Eu. A questão levanta problemas jurídicos interessantes: se declarar que se adora o seu trabalho faz parte dos deveres de um trabalhador da McDonald's, será que esse mesmo trabalhador da McDonald's, nas suas horas livres, pode dizer que detesta o seu trabalho? Repare-se que não se trata de difamar ou de fazer sequer uma crítica ao seu empregador, mas de fazer um comentário que é da estrita esfera pessoal ("não gosto de").
2. Há muitos exemplos de como as empresas limitam de uma forma cada vez mais insidiosa as liberdades dos seus trabalhadores, impondo ditaduras de facto que restringem o exercício das liberdades cívicas constitucionais a escassas horas da vida dos cidadãos - as que decorrem entre o trabalho e o sono - e se apropriam de uma forma cada vez mais invasiva de espaços reservados da sua vida social e privada.
Uma das formas de repressão laboral que se tornaram mais comuns - em particular nos trabalhadores que têm de atender o público - é a obrigação... de sorrir. Porquê? Pela mesma razão por que os empregados da McDonald's têm de dizer que adoram o que fazem: porque os magos do marketing descobriram que, assim, os clientes se sentem mais felizes e, quando os clientes se sentem mais felizes, compram mais. E porque, cada vez mais, os patrões pensam que são donos dos seus trabalhadores. Nos Estados Unidos, o sorriso pode ser uma obrigação contratual e a sua falta, justa causa de despedimento. Haverá coisa mais triste? É evidente que todos preferimos ser atendidos por empregados naturalmente alegres e sorridentes, mas será lícito impor, como condição contratual, o sorriso constante? Fará o sorriso parte das obrigações profissionais, como pesar a farinha ou dar informações sobre um frigorífico? Ou fará parte daquele eu íntimo que não queremos e não devemos pôr à venda? Que não se pode pôr à venda porque não é uma mercadoria, porque não foi feito para ser vendido?
Impor um sorriso como ferramenta de trabalho é dizer a uma pessoa que não é dona dos seus sentimentos nem da sua expressão, que eles pertencem "à companhia", que são meras ferramentas de produção. Impor um sorriso como ferramenta de trabalho é uma forma de proxenetismo, de esclavagismo light, aquele que a gestão moderna se tem empenhado em impor em substituição dos campos de trabalho. (jvmalheiros@gmail.com)
terça-feira, maio 14, 2013
A vida tão barata e a propriedade tão sagrada
por José Vítor Malheiros
Texto publicado no jornal Público a 14 de Maio de 2013
Crónica 18/2013
Rana Plaza: um exemplo de “eficiência”, de “produtividade”, de “racionalização de custos” e de “optimização”
O crítico de arte vitoriano e reformador social John Ruskin, que morreu em 1900, dizia, num dos seus escritos sobre economia, que um dos mais sérios problemas do capitalismo era o facto de a concorrência entre produtos poder levar a uma situação onde os produtos de menor qualidade se sobrepõem e acabam por eliminar os produtos de maior qualidade, assim condenando à falência os artesãos mais competentes e mais empenhados. Produtores e consumidores, arte e indústria e comércio, podem assim entrar numa espiral descendente onde não só a dignidade do trabalho dos artesãos mas também a qualidade de vida dos cidadãos que utilizam os artefactos que saem das mãos dos primeiros se vai degradando sem apelo.
A este tipo de argumentos respondem os defensores do liberalismo económico que o mercado se encarrega de seleccionar os melhores produtos e respondem os social-democratas que a regulação do mercado pode evitar os males que Ruskin e outros anteciparam. E há argumentação de grande elegância para defender ambos os pontos de vista. Mas o que acontece de facto no mundo é o que nós vemos: 1127 pessoas mortas pelo desabamento de um edifício no Bangladesh onde trabalhavam 5.000 operários, em condições sub-humanas, com remunerações de miséria, para fazer a roupa que nós compramos nas lojas Benetton, Mango, Primark e outras.
Chama-se a isto deslocalizar a produção - algo que todas as empresas do mundo gostam de fazer, ainda que não para qualquer país. As empresas preferem os países onde as condições de trabalho se assemelham às da escravatura, aqueles onde os trabalhadores não têm direito nem a intervalos, nem a segurança física, nem sequer a sindicatos. Os patrões, que defendem nos salões o primado da lei e os direitos humanos, deslocalizam com tanta mais vontade para um país quanto menos regulado for aí o mercado de trabalho e quanto mais frágil for a sua lei. O capitalismo, na sua sede de “eficiência”, de “produtividade”, de “racionalização de custos”, de “optimização”, de “extrair o máximo valor” dos seus recursos, de “maximizar” os seus lucros, cumpre assim sem peias o seu destino selvagem: remeter os trabalhadores ou à miséria do trabalho escravo, nos países que acolhem as empresas “deslocalizadas”, ou à miséria do desemprego, nos países de onde retira as mesmas empresas. “A vida dos homens e das mulheres é tão barata e a propriedade é tão sagrada”, exaltava-se a admirável sindicalista Rose Schneiderman em 1911, poucos dias depois de um terrível incêndio num edifício de Nova Iorque, muito semelhante ao Rana Plaza, que matou então 146 operárias da confecção. Em Nova Iorque, as operárias, todas imigrantes, judias e italianas, não puderam fugir porque as saídas de incêndio estavam fechadas a chave, “para que não fizessem intervalos”. Sempre a eficiência. “Há tantas mulheres como nós por cada emprego, que não interessa muito se 146 como nós morrerem queimadas”, dizia Schneiderman. Ainda é assim. Cem anos depois, ainda é assim. O mesmo desprezo pela vida, a mesma ganância dos patrões, agora mascarada com expressões técnicas: deslocalizar, rentabilizar, adquirir competitividade. Deslocalizar é procurar os sítios onde ainda se pode praticar escravatura. Legalmente, claro.
Em 1911, o incêndio da Triangle Shirtwaist Factory incendiou as consciências e deu origem a regulamentações de segurança no trabalho que se estenderam pelo mundo. Mas hoje as empresas sabem como poupar e como continuar a extrair o máximo valor dos seus trabalhadores: deslocalizam-se para países onde nunca se ouviu falar da Triangle Shirtwaist Factory, onde não há salário mínimo e onde os trabalhadores só podem formar um sindicato com autorização prévia do patrão. Até agora. Porque ontem as notícias relatavam uma “vitória” dos trabalhadores: uma lei vai permitir sindicatos sem autorização dos patrões. E o activista e prémio Nobel Muhammad Yunus propunha às empresas fabricantes de roupa ocidentais algo igualmente radical: um salário mínimo de 50 cêntimos de dólar.
Já repararam nas fotos do Rana Plaza? Como é que é possível enfiar 5.000 pessoas naquele espaço? E já repararam no nome? Rana Plaza é um detergente de consciências em nove caracteres.
Que mundo é este? É o mundo dos colaboracionistas Passos Coelho e Portas, dos Gaspar e Mota Soares, que comentam estarrecidos as notícias do Bangladesh nos corredores de Bruxelas, desfiando o rosário com a mão esquerda enquanto com a direita assinam a condenação à miséria e à prisão domiciliária de mais uns velhos. O Rana Plaza é o neoliberalismo em todo o seu esplendor. O sofrimento das pessoas? A condenação à miséria, à ignorância e à violência de crianças só porque nasceram num determinado bairro? O abraço de morte dos dois operários do Rana Plaza captado pela fotógrafa Taslima Akhter? Aqueles dois corpos abraçados que dizem “Somos seres humanos como tu. A nossa vida é tão preciosa como a tua e os nossos sonhos também são preciosos” como explica a fotógrafa? Não têm mais importância que um bocejo. (jvmalheiros@gmail.com)
terça-feira, dezembro 06, 2011
O meu chefe é tão estúpido que...
por José Vítor Malheiros
Texto publicado no jornal Público a 6 de Dezembro de 2011
Crónica 49/2011
Mobilizar as pessoas é a única forma de garantir que se trabalha bem, que se trabalha mais, que se atingem objectivos, que se produzem as melhores ideias
A esmagadora maioria das coisas que dizemos que “só acontecem em Portugal” acontecem de facto por todo o mundo. Gostamos de pensar e de dizer que só em Portugal é que se vê uma capital com tantos buracos nas ruas ou que só cá é que se vê tantos políticos a passar da pobreza remediada para a opulência lamborghínica no tempo de uma legislatura, mas não é verdade. Há muitos outros países onde isso acontece. Não estão é na nossa lista de referências, o que é saudável.
Posto isto, é certo que há costumes e atitudes que me parecem tipicamente portugueses (ainda que talvez não o sejam).
À frente na minha lista está o hábito de pedir desculpa às visitas por a casa estar “tão desarrumada” – uma prática que nunca encontrei em nenhum outro país.
A verdade é que os desarrumados estrangeiros se estão borrifando para o facto e para o julgamento que as visitas possam fazer, enquanto nós receamos que elas pensem que somos desleixados ou – supremo pavor – que somos pobres, que nos habituámos a ter tudo assim desarrumado lá na barraca e que ainda não conseguimos adoptar o exigente protocolo de lida caseira da pequena burguesia onde acabámos de ascender.
Logo a seguir na minha lista está “dizer mal dos empregos”. Mais uma vez, não é que isso não aconteça noutros países. Mas entre nós é um desporto nacional de prática diária, uma espécie de jogging de salão. É como discutir cozinha durante o jantar: basta que alguém lance um comentário, para a discussão se generalizar com entusiasmo, com histórias que se encavalitam umas nas outras, com cada conviva a tentar (e a conseguir) suplantar o interlocutor (“oh, isso não é nada comparado com o que me disse o director do departamento quando...”). Muitas destas histórias pertencem à categoria “o meu chefe é tão estúpido, tão estúpido, tão estúpido que”, mas são mais frequentes críticas estruturais à ausência de estratégia, ao desperdício de talentos, à gestão irracional de recursos humanos, à inútil conflitualidade, à ausência de liberdade, à falta de informação e discussão, à corrupção e ao nepotismo, etc.
Pela amostra das minhas relações pessoais, Portugal é um país com uma muito baixa satisfação com o trabalho que se faz e as condições em que ele se faz. E, como confio na sensatez de muitas destas pessoas, que fazem parte do meu círculo de amigos e conhecidos, fico convencido de que predominam entre nós os chefes incompetentes, as organizações sem estratégia e as empresas esclavagistas. Os portugueses estão infelizes com os seus empregos porque muitos deles são não só melhores do que os seus chefes como são melhores do que os seus empregos. Os seus empregos não os merecem e eles não merecem aqueles empregos.
Mesmo nas actividades intelectuais, vemos dirigentes que se comportam como capatazes, capazes de fiscalizar horários e regras mas incapazes de suscitar ideias e de coordenar equipas, capazes de controlar um orçamento mas incapazes de mobilizar as pessoas. E, no entanto, mobilizar as pessoas é a única forma de garantir que se trabalha bem, que se trabalha mais, que se atingem objectivos, que se produzem as melhores ideias, que todas as pessoas contribuem com o seu melhor e que vivem mais felizes.
Pode-se perguntar (ouço uma vozinha liberal esganiçada no ouvido) por que não criam estas pessoas os seus empregos? Por que não se tornam empresários? Respondo, com paciência, à vozinha esganiçada: nem toda a gente quer ou pode fazê-lo, nem deve ser o objectivo do país ter cinco milhões de empresas unipessoais.
Vem isto a propósito da ideia peregrina da meia hora de trabalho suplementar e do fim dos feriados, que o Governo imagina que vai contribuir para resolver os nossos problemas de produtividade. Não vai.
Não há nenhuma forma de aumentar a produtividade de forma sensível e sustentável que não passe pela mobilização dos trabalhadores e pela sua inclusão no processo de tomada de decisão nas organizações. Adoptar uma pose de capataz de fábrica do século XIX e obrigar as pessoas a ficar mais meia-hora sentadas à secretária ou na cadeia de montagem não vai aumentar a produtividade – e até a pode baixar, pois a produção arrisca-se a ser a mesma.
Este tipo de medidas paternalistas, onde os trabalhadores são vistos não como o principal capital das empresas mas como adolescentes relapsos que é preciso disciplinar (como o inimigo, de facto), não só não respondem às necessidades actuais como aumentam a conflitualidade nas empresas e agudizam tensões que o Governo e os empresários deveriam estar interessados em evitar.
O Governo faria muito mais pela produtividade nacional tentando promover um ambiente de boa convivência laboral e apostando na inovação (eu sei que fazem discursos, mas estou a falar de outras coisas) do que propagandeando a ideia de que os trabalhadores portugueses são uns calões, que aproveitam todas as oportunidades para não trabalhar e que é necessário amarrá-los às bancadas através de meios legais como a extinção de feriados e a extensão de horários de trabalho.
A insatisfação generalizada suscitada por estas medidas e por esta cultura de suspeição e de confronto cria o tipo de ambiente que eu, se fosse empresário, sei que não quereria na minha empresa.
Os trabalhadores são um recurso demasiado importante para não investir neles. E o investimento em formação, em diálogo, em participação nas decisões, em confiança, em satisfação, é sempre rentável. Porque é que o investimento é algo tão fácil de perceber para um patrão quando se trata de dinheiro e tão difícil de explicar quando se trata de pessoas? (jvmalheiros@gmail.com)
quarta-feira, maio 25, 2011
Uma família às esquerdas e uma gestão à esquerda
Nota publicada no Facebook on Wednesday, May 25, 2011 at 4:59pm (http://www.facebook.com/note.php?note_id=214473561906595&comments)
O Bloco de Esquerda de Coimbra organiza amanhã (dia 26 de Maio de 2011) uma reflexão sobre a família, vista pela esquerda (Uma família às esquerdas http://www.facebook.com/event.php?eid=116879458397871).
O tema é fundamental, pois "a família" tem sido uma temática de que a direita se apropriou com naturalidade, perante a indiferença ou mesmo um certo mal-estar da esquerda (pouco à-vontade perante aquilo que foi durante os últimos cem anos uma bandeira da direita e mesmo dos fascismos). No entanto, é evidente que tem de haver uma política de esquerda de apoio à família e que esta tem de ser clara e assumida. Uma política de apoio à natalidade, de conciliação família-trabalho, de apoio à vida familiar, etc.
Da mesma forma, seria interessante que a esquerda se lançasse ao desafio de debater o que poderá ser uma gestão de esquerda. Aqui, o mal-estar da esquerda é ainda maior. Não existe, fora do modelo do confronto laboral clássico, da dicotomia trabalhadores-patronato herdada do modelo da luta de classes, um modelo de empresa. A empresa (entenda-se "empresa privada"), para a esquerda, é, antes de mais, o lugar da luta de classes.
A direita afirma que existe apenas uma forma de gerir (a tecnocrática), com os olhos no mercado e no aumento da produtividade e denuncia todas as intervenções da esquerda neste domínio como pondo em causa a sobrevivência da empresa ou, pelo menos, o seu progresso.
Há um problema importante: na prática, as técnicas que se escondem por trás dos slogans da direita em nome da produtividade são quase sempre tácticas de repressão e de redução das liberdades cívicas (em nome da busca de eficiência), de destruição do espírito de grupo (em nome da competitividade interna), de redução dos direitos e da qualidade de vida dos trabalhadores e de destruição do sindicalismo (de forma a reduzir custos do trabalho e a eventual contestação).
De facto o fascismo não só não morreu mas está vivo nas empresas, perante a indiferença envergonhada de quase todos. Ao mesmo tempo que se refinaram as técnicas de manipulação e controlo dos trabalhadores (sob designações orwellianas como “gestão de recursos humanos”) estes são considerados como meros “meios de produção” – quando não como “custos”.
Apesar disto, as empresas precisam realmente de aumentar a sua produtividade, de garantir financiamentos, promover a inovação, crescer e conquistar mercados.
O que será gerir de forma democrática? O que será gerir de forma igualitária? O que será gerir em liberdade? O que será gerir de forma solidária?
A questão vale bem uma missa.
terça-feira, fevereiro 02, 2010
O trabalho não pode ser o lugar do desespero
por José Vítor Malheiros
Texto publicado no jornal Público a 2 de Fevereiro de 2010
Crónica 5/2010
Uma das técnicas que lhe merecem mais reservas é a chamada "avaliação individual de desempenho", que praticamente hoje todas as empresas utilizam - e que tantos gestores idolatram pelo poder repressivo que lhes oferece. Para Dejours, a avaliação individual modificou totalmente o mundo do trabalho ao pôr em concorrência entre si não só as empresas, mas também os indivíduos. Como a avaliação está em geral associada a prémios ou promoções e, por vezes, mesmo à própria manutenção do emprego, ela é uma ferramenta geradora de medo, que destrói a cooperação entre trabalhadores sobre a qual se baseia todo o trabalho e o próprio tecido social do local de trabalho. "Aos poucos, todos os elos que existiam até aí - a atenção aos outros, a consideração, a ajuda mútua - acabam por ser destruídos. As pessoas já não se falam, já não olham umas para as outras. E quando uma delas é vítima de uma injustiça, quando é escolhida como alvo de um assédio, ninguém se mexe..." E acrescenta: "[Antes] Quando alguém era assediado, beneficiava do olhar dos outros, da ajuda dos outros, ou simplesmente do testemunho dos outros. Agora estão sós perante o assediador (...). O mais difícil em tudo isto não é o facto de ser assediado, mas o facto de se viver uma traição - a traição dos outros."Texto publicado no jornal Público a 2 de Fevereiro de 2010
Crónica 5/2010
É possível ter empresas competitivas a nível global e internamente coesas, onde dê prazer trabalhar
Na semana passada, o PÚBLICO publicou uma entrevista de Ana Gerschenfeld a Christophe Dejours, um psiquiatra e psicanalista francês que estuda a relação entre trabalho e doença mental. A entrevista (Um suicídio no trabalho é uma mensagem brutal, 30/1/2010), que pode ser lida numa versão mais longa no site deste jornal, tem como tema central os suicídios de trabalhadores causados pelo assédio moral nas suas empresas e debruça-se, em particular, sobre o caso da France Telecom, mas nela Christophe Dejours faz acusações à gestão moderna que merecem consideração.Não há, nas declarações de Dejours, para alguém que conheça minimamente o mundo do trabalho, nenhuma surpresa. Todos sabemos que as coisas são assim - à esquerda e à direita, trabalhadores e patrões, sindicalistas e directores de Recursos Humanos - mas ensinaram-nos a pensar que isso era inevitável, que essa pressão e essa submissão que os gestores tentam impor possuíam alguma racionalidade. Que os fins, em suma, justificavam os meios. Não têm e não justificam. Nunca justificam, como já devíamos ter aprendido.
O que as palavras de Dejours nos dizem, claramente, é que as empresas se transformaram muitas vezes em locais de submissão e de sofrimento inútil - às vezes de verdadeira tortura, às vezes de morte. E também nos explica - como devia ser evidente - que isso não tem de ser assim, que é melhor para todos, e também para as empresas, que as coisas não se passem assim.
Nos últimos anos, por todo o mundo, mulheres e homens de esquerda (e os sindicatos...) acederam a abdicar dos seus princípios e aceitaram que as empresas podiam ser parêntesis da democracia, da liberdade, da igualdade, da fraternidade, da solidariedade. Pequenas ilhas de tirania e de submissão em nome da eficiência, da produtividade, do crescimento, da competitividade global. É uma falsa equação. Toda a investigação moderna nos mostra que o stress mata a inovação, que o medo estrangula a criatividade, que a submissão não produz maior empenho, que o desânimo não estimula a cooperação - essa inovação e criatividade e empenho e cooperação que são o pão da boca da economia e da produtividade. E, mesmo que isso não acontecesse, deveria bastar a nossa consciência para traçar os limites da decência.
Agora que começamos a perceber o buraco em que nos metemos, que começamos a ver os frutos dos ovos de serpente que deixámos que fossem incubados no mundo do trabalho, não será altura de arrepiar caminho? (jvmalheiros@gmail.com)
segunda-feira, fevereiro 01, 2010
"Um suicídio no trabalho é uma mensagem brutal" - uma entrevista a não perder
"Um suicídio no trabalho é uma mensagem brutal"
01.02.2010 - Sociedade - PUBLICO.PT
Uma entrevista ao investigador francês Christophe de Dejours por Ana Gerschenfeld. A não perder.
As condições de trabalho impostas pelos modernos métodos de gestão em nome da Santa Eficiência, da Nossa Senhora da Produtividade e da Congregação da Competitividade Global.
Quantas centenas de milhões de escravos trabalham em países ditos modernos e democráticos sob este regime?
terça-feira, outubro 20, 2009
Gestão: o novo fascismo
por José Vítor Malheiros
Texto publicado no jornal Público a 20 de Outubro de 2009
Crónica x/2009
Texto publicado no jornal Público a 20 de Outubro de 2009
Crónica x/2009
As histórias falam de medo, de isolamento, humilhação, perda de auto-estima, de sentido e de identidade, falam de morte
Nos últimos 20 meses, houve 25 suicídios entre os empregados da empresa francesa de telecomunicações France Telecom. O último foi na semana passada, mas o caso já estava há semanas nas páginas dos jornais (desde o vigésimo suicídio) e já tinha desencadeado uma vaga de condenação, à medida que se iam tornando conhecidos pormenores sobre as condições de trabalho da empresa e as histórias pessoais dos suicidas, além de se ter sabido da existência de várias tentativas de suicídio frustradas.
Num clima de crescente indignação, as centrais sindicais francesas marcaram para hoje “uma jornada de luta” na France Telecom para exigir medidas “susceptíveis de modificar de forma durável e profunda a organização, o conteúdo e as condições de trabalho” na empresa e instaram os trabalhadores “a agir de todas as formas” possíveis para mostrar a sua recusa das condições de trabalho desumanas a que são submetidos.
Apesar de tudo isto, aquilo que sabemos das condições de trabalho e da chamada “gestão dos recursos humanos” na France Telecom não parece diferente, em essência, daquilo que se passa em milhares de outras empresas. A própria France Telecom tem aliás referido, em sua defesa, que a percentagem de suicídios é a normal e que o elevado número é de esperar numa empresa de 100.000 trabalhadores. Onde o spin é mais difícil de aplicar é nas mensagens deixadas por alguns dos suicidas, onde o ambiente desumanizado da empresa e a pressão colocada sobre os trabalhadores é responsabilizada directamente.
As histórias que ficámos a saber sobre a France Telecom nos últimos dias são terríveis: trabalhadores obrigados a mudar constantemente de posto e de funções contra sua vontade em nome da “flexibilidade”; a quem são impostos objectivos irrealistas e que são penalizados por não os atingir; destruição sistemática de equipas de trabalho e do espírito de equipa em nome da “adaptabilidade”; empregados que se vão buscar à casa de banho porque ultrapassaram os dez minutos da pausa-chichi; esquemas de “auto-avaliação” que apenas servem para intimidar os trabalhadores e para os obrigar a reconhecer que falharam e a aceitar penalizações; total ausência de discussão ou sequer de explicação dos objectivos da empresa, sempre impostos de cima; pessoas mantidas isoladas por medidas de “mobilidade” que destroem as relações pessoais entre trabalhadores; obrigadas a competir com os colegas para evitar a “redundância” e o despedimento; com medo da delação dos colegas e das punições dos capatazes, desconfiadas.
As histórias falam de medo, de isolamento, de humilhação, de perda de confiança, de ausência de solidariedade, de perda do gosto no trabalho, de perda de auto-estima, de sentido e de identidade, falam de morte. E, no entanto, repito, nada disto é novo, nada disto é diferente. Cada vez mais as empresas se parecem mais com isto, cada vez mais este discurso da competitividade desumana ganha direito de cidade, cada vez mais o stress e o burnout se consideram como o preço justo a pagar pelos elos mais fracos da cadeia, cada vez mais o discurso da “aposta no capital humano”, da “promoção da criatividade” e da “prioridade à inovação” esconde uma prática esclavagista, desumana, repressiva, atentatória dos direitos, da liberdade e do espírito humano. Cada vez mais as empresas são exemplo de uma prática ditatorial, esmagadora das liberdades, da crítica, da expressão e dos indivíduos que, se acontecesse cá fora, na rua, no espaço público, todos julgaríamos inaceitáveis. Dentro da empresa, em nome da competitividade ou por medo do desemprego, aceitamos o fascismo. (jvmalheiros@gmail.com)
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