tag:blogger.com,1999:blog-371744272024-02-19T02:17:06.860+00:00VersaletesUm blogue de José Vítor Malheiros.<br>Crónicas publicadas na imprensa e outros textosJosé Vítor Malheiroshttp://www.blogger.com/profile/16533268797205629025noreply@blogger.comBlogger608125tag:blogger.com,1999:blog-37174427.post-22052004870494619492017-12-06T12:03:00.000+00:002017-12-09T12:54:22.423+00:00Em memória da Maria Manuel Ramos Pinto<div dir="ltr" style="background-color: white; line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 5pt;">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 12pt; font-style: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><u>Texto lido no funeral da Maria Manuel Ramos Pinto</u></span></div>
<div dir="ltr" style="background-color: white; line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 5pt;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Igreja de S. João de Deus, Lisboa - 6 Dezembro 2017</i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="background-color: white; line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 5pt;">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A Manel foi uma das pessoas mais solidárias e mais generosas que conheci.</span></div>
<div dir="ltr" style="background-color: white; line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 5pt;">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Generosa com a sua casa, sempre aberta aos amigos e aos amigos dos amigos, generosa com as suas coisas, mas, principalmente, como as pessoas verdadeiramente boas, a Manel era generosa com o seu tempo, com a sua atenção, com o seu carinho, nos pequenos e nos grandes gestos.</span></div>
<div dir="ltr" style="background-color: white; line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 5pt;">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Generosa também com o seu interesse pelas pessoas e pelo mundo, porque a Manel era uma pessoa curiosa de tudo, da política e da cultura, da literatura e dos jornais, dos países distantes e das aldeias vizinhas, do presente e do passado, sempre disponível para ver e ouvir, para partilhar e conversar. E disponível para ler, porque a Manel era uma apaixonada leitora de largo espectro e uma crítica exigente e perspicaz de tudo o que lia.</span></div>
<div dir="ltr" style="background-color: white; line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 5pt;">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A Manel adorava discutir e estava sempre disponível para discutir qualquer tema importante. E discutia em termos que podiam ser bem veementes, porque uma das grandes qualidades da Manel era a sua absoluta e impenitente falta de paciência para com a hipocrisia, a maldade, a injustiça, a estupidez e a arrogância, que gostava de cilindrar com uma sem-cerimónia implacável.</span></div>
<div dir="ltr" style="background-color: white; line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 5pt;">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A Manel não tinha papas na língua e era admirável vê-la durante uma das suas justas fúrias. Ou ouvi-la contar, com a sua habitual vivacidade, com o colorido que emprestava sempre às suas histórias, uma aventura no mundo da burocracia ou das grandes empresas em defesa dos seus direitos como consumidora e como cidadã, naquelas narrativas que a inflamavam e podiam fazer a audiência rir às gargalhadas.</span></div>
<div dir="ltr" style="background-color: white; line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 5pt;">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Porque a Manel era indómita. Educada numa grande família burguesa do Porto para ser uma menina prendada e submissa, mãe, esposa e dona de casa, temente a Deus e obediente aos homens, a Manel furou os esquemas pré-desenhados a que a sua vida devia ter obedecido e viveu até ao fim a sua vida nos seus termos, como verdadeira livre-pensadora, sem obedecer a cânones nem catecismos, sem cedências às conveniências, ao medo e aos preconceitos.</span></div>
<div dir="ltr" style="background-color: white; line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 5pt;">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Mais do que indómita a Manel era uma rebelde. Alguém que não aceitava ditames de ninguém e que não hesitava em combater como podia o que considerava injusto.</span></div>
<div dir="ltr" style="background-color: white; line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 5pt;">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A Manel era uma pessoa de esquerda (e estava cada vez mais radical) preocupada com a injustiça social e que acompanhava de perto a vida política, como atesta a sua actividade no Facebook, sempre com posts muito assertivos. Mas nunca deixou que os rótulos ideológicos influenciassem a apreciação que fazia das pessoas ou a sua escolha das amizades.</span></div>
<div dir="ltr" style="background-color: white; line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 5pt;">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A Manel era também uma grande contadora de histórias e fazia verdadeiros frescos da sua infância no Douro ("vivíamos no século XIX..." era assim que começavam ou terminavam muitas das suas histórias) e relatos muito divertidos das férias da família na Granja, que algumas das pessoas que estão hoje aqui provavelmente partilharam. Eu insistia sempre para que ela escrevesse essas histórias (deliciosas ainda que as ouvíssemos pela quinta vez) para as poder partilhar com outros e, eventualmente, publicar numa recolha de memórias, mas ela minimizava-os como se se tratasse de coisas sem importância.</span></div>
<div dir="ltr" style="background-color: white; line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 5pt;">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">"Tenho para aí umas coisas escritas, mas aquilo não interessa a ninguém" dizia ela, sem nunca me ter mostrado uma dessas páginas. Gostaria, hoje ainda mais, que pudéssemos ler essas “coisas escritas” e tenho a certeza de que teríamos, de que teremos todos, gosto e proveito na leitura.</span></div>
<div dir="ltr" style="background-color: white; line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 5pt;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Uma das grandes qualidades da Manel era a sua capacidade para fazer amigos e, muito antes de se inventar a palavra </span><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-size: 12pt; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">networking</span><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, a sua capacidade para fomentar amizades entre os amigos. Pedia-me muitas vezes para convidar um amigo para Almoster porque o queria apresentar a outro amigo que achava que tinha alguma coisa em comum com o primeiro e sei que fazia isso com muitas outras pessoas.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="background-color: white; line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 5pt;">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Como todas as pessoas verdadeiramente inteligentes, a Manel tinha um grande sentido de humor, uma aguda consciência do absurdo e da fugacidade da vida e da aleatoriedade do destino e uma perfeita noção do que era realmente importante e do que era fútil e supérfluo. E nunca dedicava mais do que a atenção estritamente indispensável a estas minudências. </span></div>
<div dir="ltr" style="background-color: white; line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 5pt;">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Conhecemo-nos há 34 anos e fomo-nos tornando amigos, naquelas aproximações mútuas que tecem cumplicidades silenciosas e uma amizade sem hesitações.</span></div>
<div dir="ltr" style="background-color: white; line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 5pt;">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A última vez que falámos ao telefone disse-me: “Não venhas visitar-me que os hospitais são sítios muito deprimentes. Depois de eu sair combinamos um jantar."</span></div>
<div dir="ltr" style="background-color: white; line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 5pt;">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Fica combinado.</span></div>
<div dir="ltr" style="background-color: white; line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 5pt;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="background-color: white; line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 5pt;">
<span id="docs-internal-guid-1d35f416-30d9-e103-d4b0-601bcbe85f03" style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></div>
<div dir="ltr" style="background-color: white; line-height: 1.2; margin-bottom: 5pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 700; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Lisboa, 6 Dezembro 2017</span></div>
José Vítor Malheiroshttp://www.blogger.com/profile/16533268797205629025noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-37174427.post-89768021454985746452017-08-30T15:24:00.000+01:002017-09-07T09:46:27.290+01:00Tavira, Agosto 2017<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 10pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">São quase oito da manhã e a praça está quase deserta. Deserta, silenciosa e ainda fresca da noite.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 10pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Uma praça deserta e silenciosa na frescura da manhã. Parece uma cena de filme. Não porque estejam a acontecer coisas que parecem saídas de um filme mas porque a cena convida a um </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 10pt; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">travelling</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 10pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> lento, um deslizar calmo e perscrutador, que nos desafia a ver para além da superfície das coisas, as coisas escondidas à frente dos nossos olhos, coisas que nos dizem coisas sobre nós e o mundo.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 10pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">No pequeno jardim central um homem rega os canteiros. Não parece um empregado da câmara. Está vestido normalmente, os seus gestos são lentos e tranquilos e a mangueira não tem o ar robusto dos equipamentos camarários. É uma mangueira de jardim e do seu extremo sai um chuveiro aberto e plácido, que cai num arco suave sobre as flores. Parece ser um vizinho apiedado das plantas que vão ter de sobreviver a mais um dia de canícula. O homem rega como quem pensa, anda de um lado para o outro, despeja o arco de chuva sobre um canteiro florido, depois sobre outro e outro e a chuva brilhante cai tão pensativamente como ele, em agulhas de luz, sob o olhar orgulhoso do busto de bronze do Doutor António Padinha, que dá o nome à praça.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 10pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O sino de igreja bate as oito horas. São exactamente 07h57. Daqui a um minuto outro sino baterá as mesmas oito. Cinco minutos depois tocará um terceiro sino e ainda serão as mesmas oito horas. As horas passam devagar em Tavira em Agosto.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 10pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Na esplanada do café Távila a empregada enrola as copas dos enormes guarda-sóis que ficaram abertos durante toda a noite.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 10pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O único ruído que se ouve é o guincho da manivela com que o dono da Pastelaria Alagoa, do outro lado da praça, desenrola o toldo. Uma mulher passa um pano nas mesas.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 10pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Um carro pára na praça e de lá de dentro saem dois rapazes a cair de bêbados. Riem-se, provocam-se, empurram-se, cambaleiam. Estão a acabar a noite. Do carro sai uma rapariga magra. Os dois rapazes falam com a rapariga que ficou no carro. A rapariga magra tenta despedir-se dos rapazes que não a ouvem. As atenções dos dois estão concentradas na rapariga que ficou no carro, que tem a cabeça fora da janela. A rapariga que saiu faz nova tentativa para chamar a atenção dos dois rapazes, sacode-os, grita-lhes, mas eles continuam a falar à rapariga que está à janela e a dizer-lhe graçolas de que ela ri. A rapariga magra encolhe os ombros e mete pela rua que leva à ponte.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 10pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Nas esplanadas da praça há só três mesas ocupadas. Um casal de turistas asiáticos, que toma um pequeno-almoço de mesa cheia e faca e garfo, uma família de turistas provavelmente franceses que toma um pequeno-almoço colorido por grandes copos de sumo de laranja com rodelas de laranja penduradas na borda e uma mulher que toma um café com a trela de um cão enfiada na perna da mesa.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 10pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A empregada do Távila senta-se na esplanada depois de enrolar os guarda-sóis. Não tem a chave e espera o patrão, que não vai vir.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 10pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Um camião branco de caixa fechada pára no meio da praça. Entrega de pão.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 10pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Uma família de ciclistas, equipada como se fosse para a Volta a Portugal, pára de pé no chão e negoceia o percurso a fazer.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 10pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Um casal idoso senta-se a meu lado e pega na ementa para escolher o pequeno-almoço. Não são portugueses. Os portugueses não escolhem o pequeno-almoço pela ementa.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 10pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Na esplanada do lado senta-se uma mulher. Olha em volta de pescoço esticado como se procurasse alguém. Não é nova mas é lindíssima. Olha em volta mas só quer ser vista. Olho-a com a segurança de que o meu olhar não lhe desagrada.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 10pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Uma mulher entra na praça com uma trela pela mão, saída de uma das ruas estreitas, também a olhar em volta e ar ligeiramente perdido, e chama “Cooper!” ou “Cuca!”. Um cão vem buscá-la, num passo alegre, e a dona abana a cauda com um sorriso. Já não está sozinha.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 10pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">De vez em quando um carro passa, devagar, sem fazer demasiado ruído, em sinal de respeito pelo silêncio da praça e pela paz da hora matinal.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 10pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O único sinal do que virá depois é uma mota ruidosa, que não repara na hora, nem na calma, nem na paz e passa a acelerar como se quisesse rebentar com o dia inteiro. Mas nem isso consegue estragar a praça e atrás de si fica o mesmo silêncio de antes.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 10pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Uma mulher puxa um miúdo de uns oito anos, carregado com uma mochila de escola a abarrotar. Não é dia de aulas. Deve ir passar uns dias de férias a casa de alguém e a roupa deve ir no lugar dos livros. A mãe puxa-o e diz-lhe alguma coisa, impaciente. Estão atrasados, mas não vão nem em direcção à estação de comboios nem de autocarros.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 10pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A praça está tão calma que se vê tudo. Tão silenciosa que se ouve tudo.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 10pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O meu olhar continua a deslizar pela praça e roda em torno desta ou daquela cena para a mostrar de todos os ângulos possíveis, como no início de um filme.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 10pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Um homem de gravata deambula de mãos atrás das costas, num passo lento bem marcado, para deixar claro que é uma pessoa séria, preocupada com coisas sérias e pára de supetão em frente do busto de bronze, de pernas abertas, e olha-o pensativo. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 10pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Daqui a umas horas a praça vai encher-se de carros que passam e de gente que grita. As esplanadas vão encher-se de clientes e tudo vai deixar de fazer sentido. A praça vai tornar-se uma cacofonia, com o bulício de um formigueiro, gente a andar em todos os sentidos. O ruído de fundo vai tornar indistinguíveis os sons isolados que agora têm um significado preciso.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 10pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">No café a empregada já sabe que o patrão não virá e que o café afinal não vai abrir. “Aconteceu uma coisa muito má!” O filho do dono do café deu uma queda na noite anterior. Caiu da açoteia da casa da avó. Uma criança de quatro anos. Fractura de crânio. Morte imediata. Uma altura de nada. Seis metros. Podia não ter sido nada. Pouca sorte. Açoteia. Tragédia algarvia.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 10pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Uma turista gorda e loura, máquina fotográfica em riste, levanta-se de uma mesa disposta a caçar a primeira imagem que lhe salte à vista. Vê o busto do Doutor António Padinha, aproxima-se, assesta a máquina, dispara. Olha a máquina para verificar se a foto ficou mesmo lá dentro. Ficou. O busto do Doutor António Padinha incha de orgulho. Acontece muito. Raros são os turistas que resistem a um busto de bronze. A turista avança para a presa seguinte. A fachada da igreja.</span></div>
<span id="docs-internal-guid-c401637d-5793-adbb-9e88-f79817be5921"></span><br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 10pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Hoje à tarde os vizinhos e os conhecidos vão vir e parar na esplanada, que vai manter os guarda-sóis fechados apesar do sol abrasador, os clientes vão interrogar-se da razão das portas fechadas e serão informados pelos que sabem a resposta. Todos olharão por entre os taipais que cobrem as janelas e para as portas cobertas por cartazes de gelados e uma ementa antiga que propõe cocktails com nomes alegres e agora sem sentido. Vão tentar procurar explicações para uma coisa sem sentido, trocarão olhares de espanto e incredulidade apesar de já saberem tudo e de não haver nada a explicar.</span></div>
José Vítor Malheiroshttp://www.blogger.com/profile/16533268797205629025noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37174427.post-70492284498266275512017-06-08T14:43:00.000+01:002017-06-08T14:43:13.358+01:00A propósito da entrevista de António Costa à SIC no dia 7 Junho 2017 - Post Facebook<div class="_5pbx userContent" data-ft="{"tn":"K"}" id="js_g" style="font-size: 14px; line-height: 1.38;">
<div style="margin-bottom: 6px;">
<i style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: "trebuchet ms", sans-serif; font-size: 13.3333px; white-space: pre-wrap;">Post publicado no Facebook a 8 de Junho de 2017</i></div>
<div style="margin-bottom: 6px;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Podia ter sido um debate com o primeiro-ministro, mas José Gomes Ferreira não tem qualquer legitimidade política nem estatuto pessoal ou intelectual para debater em pé de igualdade com o primeiro-ministro. José Gomes Ferreira pode pensar isso, porque a notoriedade lhe subiu à cabeça, mas isso é apenas porque José Gomes Ferreira não se enxerga.</span></div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Podia ter sido um debate com o primeiro-ministro, mas um jornalista não deve adoptar uma atitude de opositor político nem de porta-voz do governo anterior. José Gomes Ferreira pode pensar que sim, mas isso é apenas porque não distingue a função de jornalista da de propagandista. Acontece muito.</span></div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Podia ter sido um debate com o primeiro-ministro, mas esta entrevista não o era, porque um jornalista deve acima de tudo fazer perguntas e obter respostas do entrevistado, para que os cidadãos fiquem a conhecer o pensamento e a acção do entrevistado (é esse o objectivo de uma entrevista). Mas José Gomes Ferreira confunde a função (que um entrevistador deve ter) de confrontar o entrevistado com dados eventualmente em contradição com o seu discurso com a exposição da sua própria visão política e das suas opiniões ("isto para manter Catarina Martins e Jerónimo de Sousa sossegadinhos"). José Gomes Ferreira nunca aprendeu o que é uma entrevista e já não vai aprender.</span></div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Podia ter sido um debate com o primeiro-ministro, mas esta entrevista era ainda mais importante que um debate, porque num debate político confrontam-se duas visões pessoais que têm à partida igual peso e numa entrevista um jornalista deve ser a voz das cidadãos e deve conseguir confrontar o entrevistado não apenas com a opinião do interlocutor (como acontece num debate), mas com dados objectivos, com a realidade, com opiniões de outrem. José Gomes Ferreira não percebe o papel do entrevistador, acha que o papel de jornalista é demasiado apagado e quer ser um actor político. José Gomes Ferreira é demasiado vaidoso para fazer entrevistas. Recusa-se a aceitar que, numa entrevista, o entrevistador não é (e não deve ser) a pessoa mais importante. José Gomes Ferreira só devia fazer comunicações ao país.</span></div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Podia ter sido um debate com o primeiro-ministro, mas o objectivo de uma entrevista é ouvir o entrevistado (confrontado com verdadeiras questões, de preferência difíceis) e José Gomes Ferreira gosta demasiado do som da sua própria voz para deixar ouvir o entrevistado. José Gomes Ferreira acha que interromper constantemente o entrevistado para dar a sua opinião é sinal de firmeza. Não é. É apenas sinal de nervosismo e falta de profissionalismo.</span></div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">José Gomes Ferreira pensa que um jornalista deve fazer política e até ter um programa de governo. Não deve, mas José Gomes Ferreira não percebe porquê e nunca percebeu que a única política que um jornalista deve fazer é produzir informação idónea e ser intelectualmente independente.</span></div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">A grosseria e a falta de profissionalismo de José Gomes Ferreira é tal que chegou a tratar o primeiro-ministro (porque era o primeiro-ministro que estava a ser entrevistado) por “o António" no tom displicente com que trata as personalidades à esquerda e em contraste com a subserviência com que trata os empresários e os poderosos da direita e por lhe lançar tiradas como “Ah, já percebi, andou a estudar jornalismo” com uma grosseria rara em circunstâncias semelhantes.</span></div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">A entrevista foi útil para os portugueses, apesar de José Gomes Ferreira, porque António Costa esteve tão bem e teve tanta paciência que conseguiu manter um discurso coerente e claro e teve a elevação de não responder a nenhuma das provocações do entrevistador.</span></div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Mas José Gomes Ferreira devia ir inscrever-no no PSD do seu coração, deixar o jornalismo e continuar na SIC a fazer comentário político e comunicações ao país.</span></div>
<div style="display: inline; margin-top: 6px;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Em concreto e para já, a SIC deve uma desculpa ao Governo e à pessoa do primeiro-ministro, no mínimo por aquele “o António”.</span></div>
</div>
<div class="_3x-2">
<div data-ft="{"tn":"H"}">
<div class="mtm" style="margin-top: 10px;">
<div class="_6m2 _1zpr clearfix _dcs _4_w4 _59ap" data-ft="{"tn":"H"}" id="u_0_v" style="background-color: white; box-shadow: rgba(0, 0, 0, 0.1) 0px 0px 0px 1.5px inset, rgba(0, 0, 0, 0.05) 0px 1px 1px; max-width: max-content; overflow: hidden; position: relative; z-index: 0; zoom: 1;">
<div class="clearfix _2r3x" style="zoom: 1;">
<div class="lfloat _ohe" style="float: left; width: 476px;">
<span class="_3m6-"><div class="_6ks" style="line-height: 0; position: relative; z-index: 1;">
<a href="http://expresso.sapo.pt/sic-noticias/2017-06-07-Na-integra-a-entrevista-de-Antonio-Costa-a-SIC" rel="nofollow noopener" style="color: #365899; cursor: pointer; text-decoration-line: none;" tabindex="-1" target="_blank"><div class="_6l- __c_" style="position: relative;">
<div class="uiScaledImageContainer _6m5 fbStoryAttachmentImage" style="background-position: 50% 50%; background-repeat: no-repeat; height: 249px; overflow: hidden; position: relative; width: 476px;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><img alt="" class="scaledImageFitWidth img" height="249" src="https://external.flis7-1.fna.fbcdn.net/safe_image.php?d=AQBmwASvMRFtSDfF&w=476&h=249&url=http%3A%2F%2Fimages-cdn.impresa.pt%2Fexpresso%2F2017-06-08-antonio-c.JPG%2Ffb%2Fwm&cfs=1&upscale=1&sx=0&sy=1&sw=1200&sh=628&_nc_hash=AQDYNm72aMJS1-1d" style="border: 0px; height: auto; min-height: initial; position: relative; vertical-align: bottom; width: 476px;" width="476" /></span></div>
</div>
</a></div>
<div class="_3ekx _29_4">
<div class="_6m3 _--6" style="color: #1d2129; font-size: 12px; height: auto; letter-spacing: -0.24px; margin: 10px 12px; max-height: 100px; position: relative;">
<div class="mbs _6m6 _2cnj _5s6c" style="font-size: 18px; letter-spacing: normal; line-height: 22px; margin-bottom: 5px; max-height: 110px; overflow: hidden; transition: color 0.1s ease-in-out; word-wrap: break-word;">
<a href="https://l.facebook.com/l.php?u=http%3A%2F%2Fexpresso.sapo.pt%2Fsic-noticias%2F2017-06-07-Na-integra-a-entrevista-de-Antonio-Costa-a-SIC&h=ATMii5A4sE2on_ZBTyaLR42Gv9qEkwEwOE3BSQ_DI5Eceb1F1oL6xJXQhrK8AzKEOUHxShIEbNJkghgvZzg3MXBoqjPw6T41hyI-yF4ehrYjeVssfK3RPJsMeXpMWjRzbFMtzvR17J5towM&enc=AZOgGdnCQVxNRA5KMxsi3s4GqvqAcB3S1QBsVjE1lkYjpmuw7BYfhad0HwaVWpo3m3GFegRxEAJD4IhLsgk4MPYnSzjA3a5wHPJRcQUDU71xMoUJHgwvWfBxOp1ssMAN2qbiQ3A-BcTgMQKCszdUe_CdJDzPh0iMQTsUXlqdq0Qu_4NNBlAr8CoutppEQD9AERE&s=1" rel="nofollow noopener" style="color: #1d2129; cursor: pointer; text-decoration-line: none; transition: color 0.1s ease-in-out;" target="_blank"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Na íntegra: a entrevista de António Costa à SIC</span></a></div>
<div class="_6m7 _3bt9" style="line-height: 16px; max-height: 80px; overflow: hidden;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">António Costa desdramatiza a greve dos professores marcada para um dia de exames nacionais do ensino secundário. Em entrevista à SIC, o primeiro-ministro falou também sobre temas como a revisão dos escalões do IRS, o défice, a saída…</span></div>
<div class="_59tj _2iau" style="padding-top: 9px; position: relative;">
<div>
<div class="_6lz _6mb ellipsis" style="color: #90949c; font-size: 11px; line-height: 11px; overflow: hidden; text-overflow: ellipsis; text-transform: uppercase; white-space: nowrap;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">EXPRESSO.SAPO.PT</span></div>
<div>
<br /></div>
<div class="" style="font-family: inherit;">
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</span></div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
José Vítor Malheiroshttp://www.blogger.com/profile/16533268797205629025noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37174427.post-4230058095601735162017-06-01T12:53:00.000+01:002017-06-02T12:59:35.553+01:00A propósito do jackpot de 152 milhões de euros que o Euromilhões vai sortear esta semana - Post Facebook<div dir="ltr" style="background-color: white; line-height: 1.38; margin-bottom: 5pt; margin-top: 0pt;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: 13.3333px; white-space: pre-wrap;"><i>Post publicado no Facebook a 1 de Junho de 2017</i></span></span></div>
<div dir="ltr" style="background-color: white; line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 5pt;">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-size: 10pt; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Gosto da irracionalidade da lotaria. Gosto do facto de a lotaria ser completamente aleatória e de não depender de qualquer razão. Se a atribuição dos prémios da lotaria fosse racional eu não teria a mínima hipótese de ganhar um prémio, porque não sou certamente nem o mais necessitado nem o mais merecedor. Mas, como a lotaria é irracional, tenho a possibilidade de ganhar, tal como qualquer outra pessoa. É a irracionalidade da lotaria que nos coloca a todos ao mesmo nível, que garante a igualdade de oportunidades que a racionalidade (invocando as melhores razões) nunca permitiria.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="background-color: white; line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 5pt;">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-size: 10pt; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">De facto, se houvesse critérios racionais para a atribuição destes prémios, para serem justos eles teriam de ser critérios perfeitos e de ser geridos de uma forma perfeita - o que é, na prática, impossível. Que critérios seriam esses? Quais seriam os critérios de escolha dos critérios? Como se poderia garantir a independência da sua definição e da sua gestão? Como se poderiam ter em conta os múltiplos aspectos a considerar, muitos deles provavelmente contraditórios?</span></span></div>
<div dir="ltr" style="background-color: white; line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 5pt;">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-size: 10pt; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A verdade é que existe uma democraticidade na cegueira do sorteio que não existe em nenhum processo racional.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="background-color: white; line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 5pt;">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-size: 10pt; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O filósofo norueguês Jon Elster propôs há uns anos que a melhor solução possível para certos problemas era o sorteio. Um exemplo dado era o da tutela de crianças em casos de divórcios litigiosos entre os pais. A proposta foi recebida de início com sorrisos irónicos, mas Elster não brincava. O que acontecia, dizia, era que ou havia uma forte razão (em geral evidente) para recusar a tutela a um dos pais ou o custo da procura da solução óptima entre duas soluções igualmente boas era desmesuradamente grande, nomeadamente para o bem-estar da criança, muitas vezes entretanto retirada do convívio dos pais. Mas, como explicava Elster, temos esta maldição da racionalidade, da procura da solução óptima custe o que custar.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="background-color: white; line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 5pt;">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-size: 10pt; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Na democracia ateniense alguns dos cargos políticos eram atribuídos por sorteio e este método era considerado um elemento essencial da democracia, de forma a não restringir à partida as eleições à escolha de pessoas no seio de um grupo pré-determinado por razões de poder, classe ou outra. A escolha dos júris de julgamentos é ainda feita desta forma em muitos países.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="background-color: white; line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 5pt;">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-size: 10pt; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Penso que existem boas razões para não descartar à partida o papel igualitário que os sorteios podem ter nos processos de decisão, políticos e outros, associando-os aos processos tradicionais de mediação e representação.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="background-color: white; line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 5pt;">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-size: 10pt; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Elster tem razão em criticar a fé absoluta na racionalidade. É por vezes pueril a fé que as sociedades modernas depositam na capacidade para encontrar as soluções óptimas para todas as questões através da razão. Uma pulsão que pode acabar por levar-nos a atitudes contrárias à própria razão.</span></span></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span id="docs-internal-guid-b1dd5bb7-68a5-ed84-df15-161017f8544a"></span></span><br />
<div dir="ltr" style="background-color: white; line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 5pt;">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-size: 10pt; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Temos o vício do sentido, da racionalidade, da causalidade. A evolução foi moldando o nosso cérebro para procurar regras, ordem, padrões, repetições, causas e efeitos. E, por isso, tentamos encontrar sentido, um sentido humano, por todo o lado, mesmo em sítios onde não há razão nenhuma para procurar sentido. Olhamos para uma nuvem e tentamos ver caras e paisagens como se tivesse de haver caras e paisagens nas nuvens. E tentamos encontrar sentido também na vida, como se ela tivesse de ter sentido. Não nos parece plausível que a vida exista sem sentido, sem uma razão, sem uma finalidade. Achamos que temos de ser parte de um enredo, parte de uma história maior, que nos dá sentido, de que nos possamos orgulhar e, talvez, até com um final feliz. É por isso que adoptamos (muitos de nós) respostas de tipo teológico que nos aliviam momentaneamente essa angústia, nos dão a ilusão de dar sentido a uma história que não tem sentido nem tem de ter, porque nem tudo tem de ter sentido e nem tudo tem. Mas acabamos por aceitar com mais conforto o papel de personagens numa narrativa escrita por um demiurgo ex machina qualquer do que de joguetes de um destino aleatório.</span></span></div>
José Vítor Malheiroshttp://www.blogger.com/profile/16533268797205629025noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37174427.post-35409434239365070962017-05-19T22:29:00.000+01:002017-05-25T22:35:52.409+01:00Grandes poderes, nenhum escrutínio - Crónica no Jornal Económico<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Por José Vítor Malheiros</span><br />
<div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /><b>Empresas globais como a Google e o Facebook possuem um poder ilimitado de manipulação dos comportamentos.</b><br /><br />19 Mai 2017 - Crónica no Jornal Económico/5 e última<br /><br />“Um grande poder acarreta uma grande responsabilidade”. A frase tem vários autores ilustres, desde Churchill a Jesus Cristo, mas a versão que conquistou a imortalidade (“With great power comes great responsibility!”) é a de Benjamin Parker, o “Tio Ben” de Peter Parker, mais conhecido como Homem-Aranha.<br /><br />A noção é central na filosofia política e no exercício da política em democracia, onde a preocupação em equilibrar um poder com outros poderes e em construir formas de escrutínio, controlo, limite e responsabilização de todos os poderes é tanto maior quanto maior for o seu alcance.<br /><br />Nenhum sistema político moderno defende a concentração de poderes numa só pessoa ou organização e muito menos uma concentração de poderes isenta de escrutínio. Apesar disso, assistimos hoje a uma concentração crescente de poder na mão de um número limitado de empresas globais que, precisamente devido ao seu carácter global e à sua não-territorialidade, não são submetidas a nenhum escrutínio digno desse nome e cujo poder não é praticamente limitado por nenhuma instância jurídica ou outra.<br /><br />De uma forma geral, olhamos com complacência estes poderes, que nos parecem benignos e que nos fornecem a baixo preço serviços sem os quais hoje viveríamos dificilmente. Mas qual é o verdadeiro preço que estamos a pagar?<br /><br />Nos últimos meses, foram publicados na imprensa vários artigos sobre o envolvimento de empresas especializadas em guerra psicológica nas campanhas de Donald Trump nos EUA e do referendo do Brexit no Reino Unido. Estas empresas, ligadas aos meios da direita e extrema-direita globais, podem ter influenciado o comportamento de votantes indecisos através de campanhas de publicidade online extremamente eficazes, construídas com base em dados coligidos, nomeadamente através do Facebook, que permitem conhecer os valores, gostos, atitudes e comportamentos de grupos de pessoas mesmo sem conhecer a identidade pessoal dos seus membros. A questão é que um poder desta dimensão, capaz de manipular o comportamento de massas, exige um enorme escrutínio e controlo, sem o que a nossa actual e imperfeita democracia se pode ir transformando, insensivelmente, num sistema totalitário onde apenas julgamos fazer escolhas livres.<br /><br />O Google, por seu lado, determina hoje quase toda a informação a que temos acesso. No passado, jornais e TV com um poder infinitamente menor, eram submetidos a regras estritas para limitar a sua influência, mas o Google, escudando-se atrás de uma falsa neutralidade dos seus algoritmos, possui um poder virtualmente ilimitado de manipulação de crenças e comportamentos. O debate sobre o controlo destes poderes é essencial, se queremos manter alguma esperança de democracia.<br /><br /><i>O autor escreve segundo a antiga ortografia.</i></span></div>
<div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i><br /></i></span></div>
<div>
<i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Link para o artigo no site do Jornal Económico: </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><a href="http://www.jornaleconomico.sapo.pt/noticias/grandes-poderes-nenhum-escrutinio-160577">http://www.jornaleconomico.sapo.pt/noticias/grandes-poderes-nenhum-escrutinio-160577</a></span></i></div>
José Vítor Malheiroshttp://www.blogger.com/profile/16533268797205629025noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37174427.post-23144063943251619122017-05-05T22:26:00.000+01:002017-05-25T22:35:42.400+01:00Lições de francês - Crónica no Jornal Económico<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Por José Vítor Malheiros</span><br />
<div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /><b>Há uma dificuldade, que é política e retórica, em combater, ao mesmo tempo, duas coisas que se opõem entre si.</b></span><br />
<div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b><br /></b>5 Mai 2017 - Crónica no Jornal Económico/4<br /><br />O último acto das eleições presidenciais francesas ainda não se jogou e ainda se pode saldar por uma experiência trágica, mas existem aprendizagens relevantes que vale a pena recensear desde já.<br /><br />A mais evidente é o processo de desagregação dos partidos clássicos do centrão e a perda de atractividade das receitas tradicionais que preconizam. Viu-se noutros países, vê-se em França. Esta será a primeira segunda volta de eleições presidenciais da V República Francesa onde não se encontra nem um socialista nem um gaullista e onde os respectivos partidos jogam a sua sobrevivência. Os eleitores querem manifestamente outra coisa, algo que estes partidos já não lhes conseguem dar. Note-se o extraordinário resultado de uma candidatura de última hora e sem apoio formal de partidos como a de Macron. Os eleitores estão dispostos a correr riscos para experimentar novas soluções. O êxito de Le Pen é também um sinal disso.<br /><br />A segunda é a constatação da ineficácia do sistema de eleições primárias como forma de escolher os candidatos com maior possibilidade de sucesso. Seja qual for a razão, as primárias não cumprem as suas promessas e produzem candidatos que geram resultados decepcionantes.<br /><br />Outra constatação é que não só a extrema-direita de Marine Le Pen obtém um excelente resultado – tão bom que a sua eleição no próximo domingo deixou de ser considerada “impossível” para passar apenas a ser “improvável”. O Front National conseguiu ultrapassar o cordão sanitário a que o sistema político o tinha relegado, fazer eleitores esquecer as suas raízes nazis e normalizar a sua imagem, deixando de se apresentar como o partido do ódio e apresentando-se como um partido com soluções.<br /><br />Outro facto a sublinhar, e não o menor, é o panorama de extrema confusão ideológica que se reflectiu nestas eleições, com a coexistência de discursos que identificam Le Pen e Mélenchon ou Le Pen e Macron, tornando clara a insuficiência da classificação das candidaturas no eixo esquerda-direita e a necessidade de trabalhar conceitos como o de soberania ou identidade nacional.<br /><br />Finalmente, é de notar a dificuldade da esquerda protagonizada por Mélenchon em identificar o combate de hoje como o combate pela democracia e contra Le Pen (votando tacticamente Macron) apelando ao combate, a partir de dia 8 de Maio, contra o neoliberalismo de Macron. A dificuldade não se deve apenas à vaidade de Mélenchon. Há uma dificuldade, que é política e retórica, em combater, ao mesmo tempo, duas coisas que se opõem entre si. É mais fácil dizer que ambas representam duas faces da mesma moeda, que ambas representam a vitória Le Pen (ou este domingo ou daqui a cinco anos). É falso. Mas este é um problema que a esquerda tem de resolver.<br /><br /><i>O autor escreve segundo a antiga ortografia.</i></span></div>
</div>
<div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i><br /></i></span></div>
<div>
<i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Link para o artigo no site do Jornal Económico: </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><a href="http://www.jornaleconomico.sapo.pt/noticias/licoes-de-frances-154389">http://www.jornaleconomico.sapo.pt/noticias/licoes-de-frances-154389</a></span></i></div>
José Vítor Malheiroshttp://www.blogger.com/profile/16533268797205629025noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37174427.post-64049022792440539902017-04-21T22:22:00.000+01:002017-05-25T22:35:01.317+01:00Vacinação: obrigar ou pressionar? - Crónica no Jornal Económico<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Por José Vítor Malheiros<br /><br /><b>Apresentação do boletim de vacinação ou da declaração da oposição dos pais à vacina deveria ser obrigatória no acto de matrícula escolar.</b><br /><br />21 Abr 2017 - Crónica no Jornal Económico/3<br /><br />Entre 1987 e 1989 ocorreram em Portugal 12 mil casos de sarampo, 30 dos quais mortais. Em 2016, a OMS declarou a doença erradicada em Portugal.<br /><br />A razão da erradicação da doença? A generalização da vacina gratuita e a sua inclusão no Programa Nacional de Vacinação.<br /><br />Na passada quarta-feira, morreu uma adolescente com sarampo internada num hospital de Lisboa. E os dados da Direcção-Geral de Saúde indicam que houve, nos primeiros quatro meses de 2017, mais casos de sarampo em Portugal (23 casos confirmados) que nos dez anos anteriores. O panorama é semelhante noutros países.<br /><br />A razão do regresso da doença? A ausência de vacinação causada pelo desleixo ou ignorância dos pais e por um movimento crescente de pessoas que são contra a vacinação (a do sarampo e a vacinação em geral) por considerarem que ela é perigosa ou desnecessária. Uma das principais razões da oposição destes pais à vacinação dos seus filhos é um falso artigo científico publicado em 1998 na prestigiada revista médica The Lancet por um médico britânico, Andrew Wakefield, onde este declarava que a vacina tríplice que tantos de nós tomámos na infância (contra o sarampo, papeira e rubéola) causava autismo. O artigo era comprovadamente fraudulento e foi retirado pela revista, mas continua hoje a ser citado como verdadeiro por muitos dos críticos das vacinas.<br /><br />O reaparecimento do sarampo e o receio de que a mesma coisa possa acontecer com outras doenças actualmente erradicadas graças à vacinação fez reaparecer o debate sobre a necessidade e a legitimidade de tornar a vacinação obrigatória (não o é em Portugal) com oponentes da obrigatoriedade a invocar o argumento da liberdade individual e os seus defensores a invocar a defesa da saúde pública e o dever da sociedade de proteger as crianças da negligência ou ignorância dos pais.<br /><br />Não tenho dúvidas sobre a legitimidade do recurso à obrigatoriedade da vacinação (ou “quase obrigatoriedade”, através da sua exigência para efeitos de frequência da escola pública e outros serviços), pelas razões referidas, que são as mesmas que nos levam a decretar outras medidas compulsivas de protecção das crianças, mesmo contra a vontade dos pais. No entanto, antes de chegar a esse ponto, penso que é razoável explorar o modelo actual de não obrigatoriedade, que se tem revelado eficaz e não levanta qualquer dúvida quanto à sua legitimidade.<br /><br />É necessário no entanto que o modelo seja de facto reforçado, com mais informação disponibilizada aos pais e à população e com, por exemplo, a real obrigatoriedade de apresentação do boletim de vacinação ou da declaração da oposição dos pais à vacina no acto de matrícula escolar.<br /><br /><i>O autor escreve segundo a antiga ortografia.<br /><br />Link para o artigo no site do Jornal Económico: <a href="http://www.jornaleconomico.sapo.pt/noticias/vacinacao-obrigar-ou-pressionar-148984">http://www.jornaleconomico.sapo.pt/noticias/vacinacao-obrigar-ou-pressionar-148984</a></i></span>José Vítor Malheiroshttp://www.blogger.com/profile/16533268797205629025noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37174427.post-79948408167428415232017-04-07T22:18:00.000+01:002017-05-25T22:34:24.847+01:00Uma estratégia ambiciosa para 2023 - Crónica no Jornal Económico<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Por José Vítor Malheiros<br /><br /><b>É pela forma como vivem os seus elementos mais desprotegidos que devemos avaliar a qualidade de uma sociedade.</b><br />7 Abr 2017 - Crónica no Jornal Económico/2<br /><br />O grau de desenvolvimento de uma sociedade não se avalia pela forma como vivem os seus elementos mais afortunados. Os ricos vivem bem em todos os países do mundo e têm sempre acesso a todas as comodidades que a civilização produz. E também não se avalia por indicadores de bem-estar médio, que escondem desigualdades gritantes. É pela forma como vivem os seus elementos mais desprotegidos que devemos avaliar a qualidade de uma sociedade. E isto é assim porque os direitos que uma sociedade democrática visa garantir não se destinam apenas a um grupo de pessoas, nem sequer à maioria das pessoas, mas a todas as pessoas sem excepção. Uma sociedade que não garante a dignidade a todos os seus elementos é uma sociedade que não garante a dignidade de ninguém.<br /><br />Tornou-se um lugar-comum dizer que a erradicação da pobreza é uma tarefa impossível, mas o que queremos dizer quando dizemos isso é apenas que a erradicação da pobreza não constitui uma prioridade da nossa política e que preferimos gastar o nosso tempo, recursos e empenho noutras coisas. Os desvalidos não possuem uma capacidade reivindicativa e de auto-organização que lhes permita garantir a defesa dos seus direitos e interesses e, por isso, raramente surgem no radar da política e dos media. Assim, paradoxalmente, os problemas que afectam de forma mais dramática a vida das pessoas são com excessiva frequência esquecidos da política. E, no entanto, é para isso que ela existe. Para organizar a nossa vida colectiva e para solucionar os problemas sociais que enfrentamos. Haverá algum problema mais urgente, para uma família que não tenha casa e que durma na rua, que resolver o seu problema de habitação? Todos os outros problemas (saúde, educação, segurança, emprego, auto-estima) dependem da solução do primeiro para poderem ser resolvidos por sua vez. A única razão para não atribuirmos uma alta prioridade à resolução do problema dos sem-abrigo é o facto de ele não nos afectar a nós, aos que podemos influenciar a tomada de decisões colectivas. Mas o problema é resolúvel, com uma combinação de acções a nível nacional e local.<br /><br />Este mês, o Governo deverá divulgar e colocar em discussão a sua Estratégia Nacional de Integração de Pessoas Sem-Abrigo (ENIPSA 2017-2023), que deverá retomar o plano anterior (2009-2015) cuja implementação a nível nacional foi suspensa em 2013 pelo governo anterior. Seria positivo que a nova ENIPSA definisse como seu objectivo não apenas a mitigação mas o fim da tragédia dos sem-abrigo e disponibilizasse os instrumentos necessários para o fazer.<br /><br />Haverá em Portugal 5.000 a 10.000 sem-abrigo. Seria uma bela vitória para um governo apoiado pela esquerda que, em 2023, não houvesse nenhum.<br /><br /><i>O autor escreve segundo a antiga ortografia</i></span><br />
<div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i><br /></i></span></div>
<div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Link para o artigo no site do Jornal Económico: <a href="http://www.jornaleconomico.sapo.pt/noticias/uma-estrategia-ambiciosa-para-2023-143622">http://www.jornaleconomico.sapo.pt/noticias/uma-estrategia-ambiciosa-para-2023-143622</a></i></span></div>
José Vítor Malheiroshttp://www.blogger.com/profile/16533268797205629025noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37174427.post-16314601116769944062017-03-24T22:13:00.000+00:002017-05-25T22:33:52.603+01:00O prazer como pecado mortal - Crónica no Jornal Económico<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Por </b></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">José Vítor Malheiros</span><br />
<div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b><br /></b></span></div>
<div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Dijsselbloem, e provavelmente muitos outros, sonham com o pecado dos países do sul que não só gastam, como gastam em coisas que lhes dão prazer.</b></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b><br /></b><br />24 Mar 2017 - Crónica no Jornal Económico/1<br /><br />As recentes declarações do líder do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, a propósito dos povos da Europa do Sul receberam uma invulgar mas justificada condenação de todos os quadrantes políticos da União Europeia.<br /><br />As declarações de Dijsselbloem, como bem disse António Costa, são “racistas, xenófobas e sexistas” ainda que o mais grave nas suas declarações possa ser, como sugeriu Augusto Santos Silva, o facto de o ministro das Finanças holandês continuar “sem compreender o que verdadeiramente se passou” na crise das dívidas soberanas e preferir continuar a usar a caricatura dos meridionais preguiçosos versus os setentrionais industriosos. De um presidente do Eurogrupo esperar-se-ia mais rigor técnico mas, como sabemos, a caricatura serve melhor os interesses dos grupos financeiros que o Eurogrupo existe para defender. E não se pode esperar excessivo rigor de alguém que declarou na sua biografia ter um mestrado em Business Economics da University College Cork, quando esta universidade não outorga semelhante diploma nem atribuiu qualquer outro grau ao político holandês.<br /><br />Mas vejamos a imagem escolhida para criticar o comportamento dos países do sul: “Não se pode gastar todo o dinheiro em álcool e mulheres e depois vir pedir ajuda”. É de espantar o sexismo, não só ao identificar “as mulheres” como objectos ou produtos onde “se gasta dinheiro”, a par do álcool, mas também “os homens” como sendo os agentes nestes países em crise. E é surpreendente, como se disse, a redução da crise financeira a um problema de gastos excessivos de um grupo de países, esquecendo problemas intrínsecos à moeda europeia, o comportamento dos países superavitários e os problemas estruturais das economias do sul. Mas é mais surpreendente ainda a identificação do problema como devendo-se não apenas a gastos excessivos mas imaginando-o como devendo-se a gastos hedonistas, ligados à procura do prazer pessoal. Dijsselbloem podia ter falado da escassa formação dos trabalhadores ou da preguiça dos povos do sul, mas preferiu dar livre curso ao moralismo calvinista e criticar estes portugueses, espanhóis, italianos e gregos que bebem vinho e se divertem com mulheres.<br /><br />Max Weber, numa obra célebre publicada há cem anos, “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, atribuía a ascensão do capitalismo ao apego ao trabalho e à frugalidade e ascetismo protestantes, calvinistas em particular. Dijsselbloem, e provavelmente muitos outros, sonham com o pecado destes países do sul que não só gastam, como gastam em coisas que lhes dão prazer. Conseguem ver a ponta da língua da serpente verde de inveja? Como não sorrir com piedade para Dijsselbloem e dizer-lhe que compreendemos a azia com que nos olha, porque a verdade é que aqui o vinho e as mulheres são de facto maravilhosos.</span></div>
<div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Link para o artigo no site do Jornal Económico: <a href="http://www.jornaleconomico.sapo.pt/noticias/o-prazer-como-pecado-mortal-137354%C2%A0">http://www.jornaleconomico.sapo.pt/noticias/o-prazer-como-pecado-mortal-137354 </a></span></div>
José Vítor Malheiroshttp://www.blogger.com/profile/16533268797205629025noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37174427.post-80988306931386308772016-06-27T15:52:00.000+01:002016-07-25T15:59:43.659+01:00A reunião de 23 de Junho de 2016 de Coimbra (um post politicamente incorrecto)<div class="_39k2" style="margin: 0px auto; padding: 40px 0px; position: relative;">
<h4>
<br />
<ul class="_5a_q _5yj1" dir="ltr" style="box-sizing: border-box; list-style-type: none; margin: 0px auto 32px; padding: 0px 0px 0px 14px; width: 676px;"><span id="docs-internal-guid-f2553b1c-228f-a6f9-5a6a-003e6e8f2a4e" style="font-weight: normal;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
Texto publicado como Doc no Facebook a 27 de Junho de 2016</div>
<br /><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Por José Vítor Malheiros</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">(Desculpem a extensão e o relativo atraso desta publicação, mas o Brexit ocupou-me quase em exclusivo nos últimos dias).</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Em Portugal não gostamos de criticar nem de ser criticados, nem de críticos nem de críticas. Dizemos que as críticas são "destrutivas" quando apontam erros e defeitos e só consideramos que são "construtivas" quando são elogiosas. Mas, se só fizermos elogios nada muda e nada melhora, porque até nos elogios nos abstemos de sublinhar o que está bem e deve ser estimulado porque isso evidenciaria o que está mal e deve ser corrigido.</span><span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Criticar, em Portugal, é considerado falta de educação.</span><span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Isto tem muito de país pequeno (somos todos primos, frequentamos os mesmos sítios, não queremos indispor família e amigos) e de país pobre (sabemos que não devemos desperdiçar o pouco que há, desincentivar as poucas iniciativas, os poucos entusiastas).</span><span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">São boas razões, mas são más razões.</span><span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Esta aversão à crítica é transversal à sociedade e existe mesmo naqueles sectores e actividades que vivem da crítica e a exaltam no seu discurso. Nas artes e nas ciências, por exemplo. </span><span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">(É verdade que vemos críticas na política mas, mesmo aqui, trata-se mais da construção de controvérsias e da definição de antagonismos que de um exercício crítico. Porque a crítica se exerce sobre um campo comum e porque a política tenta definir campos alternativos em oposição. A política não tenta melhorar a produção alheia mas atacá-la para, em seu lugar, construir uma realidade diversa.) </span><span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Se existe entre nós uma aversão à crítica em geral existe um verdadeiro anátema sobre a crítica pública. Criticar in camera pode ser indelicado e mal-visto, mas criticar em público é uma violência, uma afronta.</span><span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Podíamos dizer que esta aversão à crítica é a nossa natureza, mas penso que esta "natureza" tem tudo de cultural e se pode reformar pela vontade e pela prática. Temos apenas de nos habituar a ser um tudo-nada mais exigentes connosco e com os outros. Não muito, porque não seria justo sermos muito mais exigentes com os outros do que connosco, mas apenas um tudo-nada.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Vem tudo isto a propósito da reunião que a SECTES (Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior) organizou na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra sobre Comunicação de Ciência no passado dia 23 de Junho e que gostaria de aqui criticar, publicamente, com a esperança de que isso possa contribuir para melhorar futuros processos.</span></div>
<div>
<span style="line-height: 19.2px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<ul style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<li dir="ltr" style="list-style-type: disc; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Antes de mais, é positivo que a SECTES tenha decidido fazer uma reunião nacional, aberta a todos os profissionais e interessados, para discutir a Comunicacão de Ciência. A Comunicacão de Ciência (um sector que inclui actividades diversas e muitas profissões) é uma área que se desenvolveu de forma notável nos últimos vinte anos em Portugal e que atingiu uma maturidade evidente, que se manifesta, nomeadamente, pela multiplicidade de organizações, de profissionais, de projectos e de cursos dedicados a esta área. É positivo porque isso significa que a SECTES e o MCTES (Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior) compreendem que a Comunicacão de Ciência é um conjunto de actividades que tem não só uma influência directa positiva na sociedade, através da promoção da cultura científica e da cidadania, mas que tem também a capacidade de ampliar o impacto da própria ciência na sociedade (nomeadamente, mas não só, em termos de inovação). Isso é bom.</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="list-style-type: disc; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O que não foi feito da melhor forma foi o anúncio da reunião. Tratando-se de uma reunião de âmbito nacional, que obrigou a maior parte dos participantes a dedicar-lhe um dia inteiro de trabalho e alguns deles a percorrer 1000 quilómetros para estar presentes, teria sido importante que o convite e o programa (porque é este que nos leva a decidir participar ou não) tivessem sido publicados o mais cedo possível e da forma mais pública possível. Tanto quanto sei, o programa apenas foi enviado, três dias antes da reunião, para os directores dos laboratórios, que fizeram (ou não) a divulgação dele que entenderam. </span><span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">É profundamente lamentável que os diferentes ministérios e secretarias de Estado não possuam todos eles sites na Web, com informação clara, rigorosa e actualizada sobre as suas actividades, mas não sendo essa a prática actual, penso que a forma mais expedita e mais eficaz de publicitar uma reunião como esta e de fazer chegar a informação ao público interessado teria sido criar um evento no Facebook (com toda a informação, incluindo o programa) e partilhar atempadamente esse evento na página</span><a href="https://www.facebook.com/RedeSciComPt/?fref=nf" style="text-decoration: none;"><span style="color: #1155cc; text-decoration: underline; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> Rede SciComPt</span></a><span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, que reúne todos os profissionais e interessados em Comunicação de Ciência em Portugal, para além dos mailings institucionais que se entendesse fazer. Sugiro que futuras reuniões sigam esta prática.</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="list-style-type: disc; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Se a intenção da reunião era, de facto, ouvir os profissionais de Comunicação de Ciência, as pessoas que trabalham no domínio da Comunicação de Ciência ou que se interessam por ele, teria sido mais produtivo organizar a reunião de forma diferente, com um número muito reduzido de curtas intervenções iniciais (em vez das 13 intervenções programadas) e a maior parte do tempo dedicado a intervenções do público.</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="list-style-type: disc; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Teria sido importante que as apresentações iniciais enquadrassem o debate ou, pelo menos, identificassem tópicos a debater, em vez de apresentar visões generalistas pouco relevantes ou projectos específicos que os presentes já conheciam. Teria sido importante que, dias antes da reunião, se recolhessem opiniões sobre quais deveriam ser esses tópicos. O recurso às redes sociais poderia ter permitido fazer isto de forma expedita.</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="list-style-type: disc; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Penso que a reunião deveria ter seguido um modelo de "audição pública" (“public hearing”) e não um modelo de "sessão com painel” (“panel session”). O modelo seguido foi improdutivo não só porque ocupou quase todo o tempo que deveria ter sido dedicado a intervenções da plateia, porque a maioria das apresentações não constituiu novidade para nenhum dos presentes, porque esgotou a energia e a paciência de quase todos os presentes antes de se dar inicio à parte mais relevante da reunião e porque, o que é mais grave, deixou a sensação que, de facto, não se pretendia ouvir a comunidade.</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="list-style-type: disc; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Essa sensação foi reforçada quando, no escasso período de intervenções do público, as intervenções que colocaram perguntas mais concretas e mais urgentes (precisamente os tópicos que deveriam ter sido objecto de debate) foram respondidas num tom defensivo e às vezes cortante. O contrário do que se deseja se se pretende, de facto, ouvir e discutir o que fazer para promover a Comunicação de Ciência.</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="list-style-type: disc; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Nao era de esperar, numa reunião deste tipo, que fossem anunciadas decisões. Era apenas de esperar que a SECTES e as restantes entidades presentes tomassem nota dos comentários, críticas e sugestões dos presentes para futura discussão e decisão. No entanto, alguns dos temas mais complexos colocados pela audiência foram imediatamente respondidos de forma definitiva, deixando a dúvida sobre o que pretende afinal ouvir e debater.</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="list-style-type: disc; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Uma reunião deste tipo recomendaria uma intervenção inicial de fundo que enquadrasse, do ponto de vista político, a questão da Comunicação de Ciência e, em particular, as seguintes questões:</span></div>
</li>
<ul style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<li dir="ltr" style="list-style-type: circle; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O papel da Comunicação de Ciência na estratégia nacional do MCTES e da SECTES.</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="list-style-type: circle; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A empregabilidade e a precariedade dos profissionais de Comunicação de Ciência (bolsas e contratos de trabalho) distinguindo a Comunicação de Ciência como prática profissional da Comunicação de Ciência como objecto de investigação científica.</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="list-style-type: circle; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A Comunicação de Ciência como prática a desenvolver no âmbito dos projectos de investigação (recursos e financiamento dedicado, peso na avaliação ex ante e ex post dos projectos)</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="list-style-type: circle; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A clarificação do duplo papel da Ciência Viva como agência financiadora e entidade executora de projectos.</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="list-style-type: circle; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A definição de calendários de concursos, critérios de avaliação de financiamento de projectos, formação de júris, divulgação e avaliação de projectos concluídos.</span><span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br class="kix-line-break" /></span></div>
</li>
</ul>
</ul>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-left: 36pt; margin-top: 0pt;">
<span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Essa intervenção não existiu.</span></div>
<br /><ul style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<li dir="ltr" style="list-style-type: disc; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Foi positivo que a SECTES tivesse adoptado a visão de integrar a questão da cultura cientifica na questão mais vasta da cultura e tivesse convidado para estar presentes responsáveis de instituições culturais, da área dos arquivos e património. Trata-se de um cruzamento enriquecedor que deveria ser feito de forma sistematica. Posto isto, a Comunicação de Ciência possui quadros de acção e problemas específicos que estão por debater e que é necessário clarificar antes de explorar colaborações transdisciplinares. É evidente que existe um campo possível de interessantes colaborações e reflexões cruzadas entre arquivos e centros de ciência ou entre o teatro e os museus, mas existe um tipo de acção e uma responsabilidade específica de cada um destes agentes que não se deve diluir numa nebulosa de "acção cultural" que não permita atribuir objectivos e responsabilidades especificos a cada um dos actores.</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="list-style-type: disc; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">É positivo que a SECTES tenha enviado, no dia seguinte ao encontro de Coimbra, uma mensagem aos participantes a pedir o envio, até dia 30 de Junho, de “contributos, identificando problemas, necessidades e oportunidades para a comunicação de ciência em Portugal”. Espero que a disponibilidade para ouvir e para debater se manifeste de forma clara numa segunda fase deste processo.</span></div>
</li>
</ul>
<div>
<span style="line-height: 16px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<a href="https://www.facebook.com/jvmalheiros" style="text-decoration: none;"><span style="color: #1155cc; text-decoration: underline; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">José Vítor Malheiros</span></a><span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> - Junho 2016</span></span></span><span id="docs-internal-guid-f2553b1c-228f-a6f9-5a6a-003e6e8f2a4e" style="font-weight: normal;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
</span><span id="docs-internal-guid-f2553b1c-228f-a6f9-5a6a-003e6e8f2a4e" style="font-weight: normal;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
</span><span id="docs-internal-guid-f2553b1c-228f-a6f9-5a6a-003e6e8f2a4e" style="font-weight: normal;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
</span><span id="docs-internal-guid-f2553b1c-228f-a6f9-5a6a-003e6e8f2a4e" style="font-weight: normal;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
</span></ul>
</h4>
</div>
José Vítor Malheiroshttp://www.blogger.com/profile/16533268797205629025noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37174427.post-51095612787087361872016-04-05T16:19:00.003+01:002016-04-05T16:21:36.814+01:00Os impostos são só para os trabalhadores e para os pobres<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>por José Vítor Malheiros<br />Texto publicado no jornal Público a 5 de Abril de 2016<br />Crónica 2016</i><br /><br /><b>Esta fuga de informação diz respeito apenas a UMA empresa de advogados, com sede no Panamá, a Mossack Fonseca. Muitas outras do mesmo tipo existem no mundo.</b><br /><br />O escândalo revelado pelos <a href="https://www.publico.pt/panama-papers">Panama Papers</a> não constitui uma surpresa. Há décadas que sabemos que as coisas se passam assim.<br /><br />Sabemos que existem paraísos fiscais que proporcionam este tipo de serviços – muitos deles no seio da própria União Europeia, apesar do hipócrita discurso moralista dos seus dirigentes.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Sabemos que esses paraísos fiscais servem apenas para criar e albergar empresas fictícias onde pode ser parqueado dinheiro de origem clandestina ou criminosa. Sabemos que essas empresas são criadas e geridas por advogados e consultores fiscais que trabalham em gabinetes que gozam dos favores dos poderes.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Sabemos que as pessoas que recorrem a estes paraísos fiscais desejam esconder dinheiro oriundo de negócios sujos, ter acesso a dinheiro cuja origem não possa ser localizada para financiar actividades ilegais e, acima de tudo, não pagar impostos em país algum.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Sabemos que entre as pessoas que usam estes paraísos fiscais que financiam o crime e que defraudam os estados se encontram figuras poderosas dos negócios e da política que costumamos ver nos telejornais a debitar discursos sobre moral e justiça, a defender o primado da lei ou a apresentar-se como exemplos de empreendedorismo.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Sabemos que muitos destes paraísos fiscais são entidades legais, que albergam empresas cuja criação é legal e cuja actividade é legal – mas isso apenas é assim porque os legisladores nacionais e internacionais ou se abstêm de legislar sobre estes espaços invocando a inutilidade de legislação que não seja aplicada ao nível planetário ou porque têm o cuidado de deixar na lei os alçapões necessários para proteger os prevaricadores que serão um dia seus clientes ou patrões.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Sabemos que este mesmo dinheiro que se encontra nos paraísos fiscais é dinheiro que foi roubado à economia, ao erário público, aos contribuintes e que, se houvesse um combate decidido contra esta evasão fiscal, muitos dos problemas sociais que afectam o mundo poderiam ser resolvidos e muitos dos conflitos poderiam ser evitados.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Sabemos que a actividade desses paraísos fiscais não se faz sem a cumplicidade dos bancos, já que é a partir deles, através deles e para eles que o dinheiro acaba sempre por fluir.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Sabemos que os paraísos fiscais, mesmo quando não são ilegais, são imorais e ilegítimos e promovem a desigualdade, a pobreza, o crime organizado, a corrupção, as ditaduras e as guerras, sendo como são espaços impenetráveis ao escrutínio dos cidadãos.<br /><br />Sabemos tudo isso. Sempre soubemos tudo isso. Há milhares de indícios que apontam nestas direcções e que sabemos que são minúsculas pontas de um gigantesco iceberg.<br /><br />A diferença é que agora – graças a uma fuga de informação de um denunciante não identificado, ao trabalho do diário alemão Süddeutsche Zeitung, do International Consortium of Investigative Journalists (ICIJ) e de 378 jornalistas de 107 meios de comunicação de 77 países – temos uma extensa lista de nomes de pessoas e de empresas e milhões de documentos que podem ajudar a provar a ilicitude de algumas dessas transacções e a denunciar (e a condenar?) alguns dos seus autores.<br /><br />A massa de informações contida nesta fuga dá-nos uma noção da dimensão mundial da fraude em que vivemos e do número de “personalidades” (na política, nos negócios, no desporto, no crime organizado) que não só fogem impunemente aos impostos como conseguem esconder a sua riqueza para esconder os seus crimes. É conveniente ter em conta que esta fuga, com os seus terabytes de dados, diz respeito apenas a UMA empresa de advogados com sede no Panamá, a <a href="https://www.publico.pt/1728004">Mossack Fonseca</a>, e que muitas outras do mesmo tipo existem no mundo.<br /><br />O facto que esta fuga de informação põe em evidência é algo que a esmagadora maioria dos cidadãos continua a não querer ver: o facto de as leis serem aplicadas à massa de cidadãos trabalhadores, os cidadãos com menos rendimentos ou mesmo declaradamente pobres, que são obrigados a pagar os seus impostos, mas poupando ilegitimamente os mais poderosos, uma minoria de pessoas que detém quase toda a riqueza do mundo e que consegue viver à custa do sacrifício de todos os outros, comprando Lamborghinis com o dinheiro que não pagaram em impostos e que deveria ter sido usado para aliviar a pobreza, a fome e a doença. O sistema impõe regras aos mais pobres e permite todas as batotas aos mais ricos.<br /><br />Esta é uma iniquidade moralmente intolerável e socialmente destruidora. Mas tem sido tolerada por legisladores, governantes e até pelos cidadãos eleitores, que aceitam com bonomia que um homem como Jean-Claude Juncker, cujo governo ajudou a transformar o Luxemburgo numa estância de evasão fiscal (como a LuxLeaks, uma outra fuga de informações, mostrou), seja, para nossa vergonha, presidente da Comissão Europeia.<br /><br />Esperemos os próximos capítulos deste escândalo e esperemos os nomes dos políticos ocidentais e portugueses, que não deixarão certamente de vir à superfície. Depois, iremos deixar os paraísos fiscais na mesma, como temos feito até aqui?<br /><br /><a href="mailto:jvmalheiros@gmail.com">jvmalheiros@gmail.com</a><br /><br />Artigo no Público: <a href="https://www.publico.pt/mundo/noticia/os-impostos-sao-so-para-os-trabalhadores-e-para-os-pobres-1728110?page=-1">https://www.publico.pt/mundo/noticia/os-impostos-sao-so-para-os-trabalhadores-e-para-os-pobres-1728110?page=-1</a><br /><br /></span>José Vítor Malheiroshttp://www.blogger.com/profile/16533268797205629025noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37174427.post-55172760973425261322015-10-28T14:27:00.000+00:002015-10-29T13:00:36.782+00:00Especialistas e não-especialistas (Post no Facebook - 27 Outubro 2015)<b style="color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Post publicado no Facebook, no mural de Eduardo Rego - 27 Outubro 2015</b><br />
<span style="color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif;"><span style="font-size: 14px; line-height: 19.32px;"><b>(https://www.facebook.com/eduardo.rego.52)</b></span></span><br />
<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;"><br /></span>
<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Quero fazer um comentário ao seu comentário ao meu comentário a um post do Jorge Buescu e sei que posso confiar na sua abertura para esta discussão. Quando fala da "forma demasiado assertiva, cheia de certezas, que algumas pessoas não especialistas exibem" quando falam sobre economia ou direito (ou outro assunto qualquer) conhecendo muito pouco da matéria em causa, e se depreende a sua incomodidade ou irritação por esse facto, todos sabemos de que fala. Pode de facto ser muito irritante ouvir alguém que tem apenas um conhecimento superficial de um assunto pretender apresentar-se como um profundo conhecedor.</span><br />
<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Mas gostaria de fazer algumas observações sobre este ponto:</span><br />
<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">1- Penso que essa situação é rara. Receio que o que aconteça com frequência, é que, ao ouvirmos alguém falar em público sobre uma questão qualquer e exprimir a sua opinião (sobre a constitucionalidade da formação deste ou daquele governo, por exemplo), consideramos, de forma apressada, que essa pessoa pretende “armar em especialista” quando está apenas a exprimir uma opinião como cidadão ou como comentador generalista. Todos, leigos e especialistas, têm direito a ter, exprimir e defender a sua opinião e fazê-lo, mesmo de forma demasiado assertiva, não significa pretender assumir um estatuto que não se possui. A opinião de uma pessoa leiga, sensata e com um conhecimento superficial da Constituição (para prosseguir com o exemplo que escolhi), não é menos válida que a de um constitucionalista para o debate público - para nos ajudar a considerar várias possibilidades e pensar sobre elas como cidadãos. Digo acima que “receio” porque, implícito naquele julgamento, que fazemos com frequência, está a ideia de que apenas os especialistas devem comentar certos assuntos. Assim, ao ouvirmos um jornalista ou um empresário falar sobre a Constituição, podemos dizer, com demasiada leviandade, que está a “armar em especialista” quando está apenas a fazer o que, como cidadão e como profissional, lhe compete.</span><br />
<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Dito de outra forma: acho que estamos, como sociedade, pouco habituados ao exercício da cidadania e ainda achamos demasiado estranho o facto de um simples cidadão, não -especialista, comentar um assunto da esfera social/política/jurídica/económica. Temos dificuldade para lhe reconhecer idoneidade para o fazer, como simples cidadão. No entanto, não existem peritos em cidadania que tenham, sobre esta questão, maior autoridade que todas as outras pessoas.</span><br />
<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">2 - É verdade que há não-especialistas que falam de "forma demasiado assertiva, cheia de certezas" e que isso pode ser irritante. Mas a mesma coisa acontece, exactamente nos mesmos termos, com os especialistas. Penso que isso acontece até com muito mais frequência entre os especialistas do que entre os não-especialistas e que isso é, não só mais frequente, mas muito mais perigoso. Pode dizer-se “Ah… mas os especialistas têm autoridade para o fazer, porque eles conhecem o assunto de que falam”. Se estivermos a referir-nos a factos sobre genética ou sobre sismos, isso pode ser verdade. Mas certamente que não é (ou apenas raramente o é) quando se fala de política económica ou da interpretação das leis, para prosseguir com o mesmo exemplo.</span><br />
<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Penso mesmo que um dos maiores problemas políticos actuais (e, secundariamente, um sério problema de ética científica) é o facto de termos a paisagem mediática invadida por especialistas, técnicos, investigadores, professores, pessoas academicamente certificadas como peritos mas na realidade alinhadas com os poderes que, abusando da sua posição de especialistas e apresentando-se sob a pele de sábios independentes, confundem propositadamente factos com opinião e defendem posições sectárias, por vezes profundamente polémicas e ideológicamente extremas, apresentando-as como “factos científicos” indiscutíveis e consensuais e sustentando assim a famosa TINA.</span><br />
<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Basta ouvir um painel de politólogos para perceber do que estou a falar.</span><br />
<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Penso que é muito mais pernicioso para a sociedade que o especialista “se arme em especialista” para servir interesses particulares que não revela ou para defender a posição de uma facção política do que que o sindicalista “se arme” em constitucionalista para servir uma posição que é publicamente assumida e que todos sabemos qual é.</span><br />
<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">3 - As questões de economia ou de direito (ou de defesa, ou de ordenamento do território ou…) têm, evidentemente, um enorme conteúdo técnico, mas são essencialmente questões políticas, de cidadania, que todos devemos discutir e temos capacidade para discutir. Os especialistas de todas essas áreas tem uma responsabilidade maior nessa discussão, deveres mais exigentes, porque devem fornecer toda a informação possível à sociedade (e “informação” inclui dar a conhecer as diferentes opiniões e os debates em curso) mas não possuem nenhum direito particular. As decisões sobre todas estas questões são de ordem política e, para definir o tipo de sociedade que queremos, todos somos especialistas, em pé de igualdade.</span>José Vítor Malheiroshttp://www.blogger.com/profile/16533268797205629025noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37174427.post-80200042436972592292015-10-27T15:10:00.000+00:002015-10-27T15:10:04.493+00:00Fernando Negrão (Post no Facebook a 24 de Outubro de 2015)<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">"Se me perguntar a minha opinião, eu direi que os partidos que são contra a integração na União Europeia, os partidos que são contra a moeda única, os partidos que são contra as alianças militares como a NATO não devem integrar um governo na União Europeia".</span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">As palavras são de Fernando Negrão, candidato apresentado pelo PSD e CDS à presidência da Assembleia da República, ontem felizmente derrotado, e foram proferidas ontem, diante das câmaras de televisão.</span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Se considerarmos qu</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">e Negrão é um verdadeiro jurista (não daqueles que fez Direito apenas para facilitar o tráfico de influências e ganhar dinheiro em negócios escuros), um juiz de direito e uma pessoa geralmente considerada como um democrata e uma pessoa de bom senso, podemos apreciar bem o nível de desnorte, de fúria revanchista e de radicalismo anti-democrático que invadiu as fileiras do PSD.<br />O que Cavaco nunca soube mas aparentemente até um deputado até aqui legalista e institucionalista como Negrão esqueceu é que quem “não deve” integrar um governo não são as forças que defendem ou criticam esta ou aquela política, mas sim e apenas as forças que não possuam apoio parlamentar suficiente. São apenas essas as forças que “não devem” estar no Governo. Ser contra a moeda única, o euro ou a NATO não é proibido e não é um crime. É apenas uma opinião e não existem em Portugal crimes de opinião. Negrão e todo o PSD e todo o CDS podem ter uma opinião diferente, mas isso não torna a sua opinião mais correcta e certamente não a torna mais respeitável. Negrão pode dizer que não gosta, pode dar argumentos para justificar por que razão não gosta, mas não pode dizer, em abstracto, que algumas forças “não devem” integrar o Governo para mais quando, em concreto, essas forças até possuem todos os requisitos políticos e constitucionais para o fazer e tudo, na política e na Constituição, diz que “devem”. Não há, nos programas dessas forças políticas com quem Negrão não simpatiza, nada que esteja em choque com a Constituição – como aliás o Tribunal Constitucional tem de garantir.<br />O que lamentavelmente Negrão deixou de perceber é que o único dever que existe em relação a quem deve ou não deve integrar o Governo é o dever de respeitar a Constituição e a vontade do povo expressa nas eleições, que se traduz na composição do Parlamento. É lamentável que um deputado como Negrão considere que o seu “achómetro” se deve sobrepor à soberania da Assembleia da República.<br />A decisão sobre quem deve ou não deve estar no Governo pertence ao povo. Isto, pelo menos por enquanto, enquanto o PSD, o CDS e Cavaco não conseguirem lançar o país numa guerra civil para instaurar um regime autoritário sem máscaras, como é cada vez mais claro que sonham fazer.</span>José Vítor Malheiroshttp://www.blogger.com/profile/16533268797205629025noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37174427.post-4844784707744761162015-10-27T14:58:00.001+00:002015-10-28T14:27:55.346+00:00Cavaco, Boliqueime e a PIDE (Post no Facebook - 27 Outubro 2015)<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Há uns anos, depois de não sei que mesquinhez de Cavaco, Marcelo Rebelo de Sousa terá feito o seguinte comentário assassino: "Pois... pode tirar-se o homem de Boliqueime, mas não se pode tirar Boliqueime do homem!"</span><br />
<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Houve quem tivesse visto no comentário uma reacção classista do eixo Cascais-Lisboa contra um homem oriundo de classes modestas. Mas a verdade é que nunca ninguém se lembraria de dizer que "não se consegue tirar a Azinhaga do Ribatejo de José Saramago" ou "não se c</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">onsegue tirar Loulé de António Aleixo" com o mesmo sentido. Não há naturalmente nada contra Boliqueime (que poderia até ter ficado no homem com geniais resultados, como Sernancelhe ficou em Aquilino Ribeiro) mas algo que tem a ver com a mesquinhez de terra pequena, com os pequenos ódios e pequenas rivalidades e bisbilhotices de aldeia, com a vontade de "ser alguém" acima dos outros, de ganhar uma respeitabilidade que se acha que não se tem ou que não se sente reconhecida, com a vontade revanchista de, um dia, mostrar a todos os outros do que se é capaz e poder enfim humilhá-los, que ficou em Cavaco e em torno do qual a sua vida se construiu.<br />Mas Cavaco não é só de Boliqueime e não é só Boliqueime que não se consegue tirar do homem. É a PIDE que não se consegue tirar do homem.</span>José Vítor Malheiroshttp://www.blogger.com/profile/16533268797205629025noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37174427.post-14359288587507678362015-10-27T14:45:00.000+00:002015-10-28T14:28:19.014+00:00Comentário publicado no Facebook 27 Outubro 2015 a um post de Jorge Buescu<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Comentário publicado no Facebook, na timeline de Jorge Buescu (https://www.facebook.com/jorge.buescu), em resposta a um seu post de 27 Outubro 2015.</span><br />
<div>
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Post de Jorge Buescu: <i>“Em Portugal não vale a pena estudar Economia nem Direito. Em 2011-2013 descobri que todos os utilizadores portugueses do Fb eram afinal especialistas ocultos em Economia. A quantidade de comentários definitivos sobre dívida, défice, crescimento, austeridade e respectiva convicção de argumentação convenceram-me de que todos sabem tudo sobre Economia. Em 2015 passa-se o mesmo com a Constituição: afinal, sem que eu imaginasse, todos os portugueses conhecem as subtilezas mais recônditas da nossa Lei Fundamental, e não hesitam mesmo em interpretá-la, realizando um exercício de jurisprudência pessoal que não deixa espaço para dúvidas. Enquanto ignorante de ambos os campos, estou impressionado. Espero apenas que não se siga a Matemática, senão aguarda-me o desemprego.”</i><br /><br />Comentário de JVM: "Este é o tipo de comentário que nunca esperaria de alguém que se dedica à divulgação de ciência. Considerar que as pessoas que comentam questões de direito e de economia estão a armar em “especialistas” e a pretender que “sabem tudo” equivale a dizer que deviam estar caladas e que deviam deixar a conversa para os verdadeiros especialistas. <br />Penso, pelo contrário, que é bom que uma quantidade crescente de cidadãos se tenha começado a interessar por economia e por direito (a ler artigos e livros, a discutir, a ler e a participar em blogs) porque essas questões são questões essenciais da cidadania e não devem, de forma alguma, ficar restringidas aos especialistas. Tal como as questões das ciências duras ou naturais não devem ficar limitadas às discussões dos especialistas - nem sequer a matemática, como penso que Jorge Buescu concordará.<br />Acho, igualmente, que o esforço feito por muitas dezenas de especialistas de economia e de direito nos últimos anos para divulgar estas disciplinas e para fomentar a sua discussão cidadã, organizando reuniões, publicando livros e artigos e animando discussões online (pessoas como os investigadores José Maria Castro Caldas, Ricardo Paes Mamede, Francisco Louçã, Ricardo Cabral, Paulo Trigo Pereira, Luís Aguiar-Conraria ou Alexandre Abreu, como os jornalistas Rui Peres Jorge, Sérgio Aníbal ou João Ramos de Almeida, como os políticos José Gusmão ou Pedro Nuno Santos, economistas consagrados internacionalmente como Paul Krugman, Joseph Stiglitz ou Thomas Piketty, especialistas de direito como Eduardo Paz Ferreira, António Hespanha ou o Observatório Permanente da Justiça Portuguesa) não devem ser ignorados e devem, pelo contrário, ser reconhecidos, agradecidos e estimulados. A verdade é que, nos últimos anos, graças ao esforço das pessoas que cito e de muitas mais, a cultura cidadã dos portugueses e, em particular, na área da economia e do direito, sofreram um enorme progresso, que nada autoriza a ridiculizar."</span></div>
José Vítor Malheiroshttp://www.blogger.com/profile/16533268797205629025noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37174427.post-86895368678127494552015-10-26T15:00:00.000+00:002015-10-27T15:08:10.704+00:00Um PR que... (Post no Facebook a 26 de Outubro de 2015)<br />
<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Um PR que ameaça não cumprir a Constituição que jurou defender, cumprir e fazer cumprir. Um PR que faz chantagem com os deputados da esquerda, ameaçando-os com um eterno governo de gestão de direita se não aprovarem um Governo que eles consideram que atenta contra o interesse nacional. Um PR que tenta dividir um partido apelando sibilinamente à desobediência dos seus deputados não só em relação às orientações da sua direcção, o que seria grave, mas apelando à sua desobediência em relação às suas próprias promessas eleitorais, o que é estarrecedor. Um PR para quem existem votos de primeira e votos de segunda, cidadãos de primeira e de segunda, deputados de primeira e de segunda, partidos de primeira e de segunda. Um PR que se arroga o direito de examinar e de condenar ao index os programas dos partidos que não lhe agradam, apesar de devidamente sancionados pela lei constitucional e pelo povo soberano. Um PR que não hesita em apelar à intervenção das forças internacionais que mais podem prejudicar o país, para o ajudar a impedir a entrada em funções de um governo constitucional com apoio de esquerda. Um PR que se arroga o direito inconstitucional de fazer um exame prévio de um programa de Governo apenas porque este é um Governo de esquerda. Um PR que considera que a lei deve ser diferente para cada um, conferindo mais direitos às pessoas e organizações de direita que às pessoas e organizações de esquerda. Um PR a quem não se conhece um gesto de esboço de tentativa de defesa da soberania nacional e que sempre se pôs de cócoras perante os poderes estrangeiros e o poder financeiro. Um PR que dobra a espinha perante a ditadura da Guiné Equatorial e a cleptocracia angolana e que nunca teve um gesto ou uma palavra em defesa dos direitos humanos quando isso lhe podia causar algum dissabor. Um PR que acha normal que um amigo banqueiro lhe proporcione lucros extraordinários na compra de umas acções e que se indigna quando o interrogam sobre o facto. Um PR que nunca respondeu às suspeitas de comportamento impróprio porque se considera acima da lei e do julgamento moral. Um PR que se julga inimputável e que talvez devesse ser. Um PR que diz - e talvez pense - que está para nascer uma pessoa mais honesta do que ele próprio, o que faz supor que considera a honestidade uma marca de papel higiénico. Um PR que se recusa a comparecer no funeral do único prémio Nobel português porque ele era comunista. Um PR que transborda rancor e azedume e ressentimento. Um PR que semeia o ódio e aduba o terreno da guerra civil. Um PR que é um exemplo de tudo o que não se deve fazer na vida pública. Um PR que é um exemplo de arrogância, de autoritarismo e de opacidade. Um PR que não dignifica a sua função, que se desonra quando actua no âmbito das suas funções, que nos envergonha e envergonha o país. Um PR que está convencido de que é o soberano do país. Um PR que está convencido de que é a rainha de Inglaterra. Um PR que não tem a noção do que é honra, pátria, democracia ou estado de direito. Um PR que poderia ser substituído com vantagem num sorteio feito entre os cidadãos nacionais. Um PR a respeito do qual nunca se poderia falar de grandeza. Um PR por quem é impossível ter respeito. Um PR que não se dá conta de metade disto. Um PR que está muito satisfeito consigo próprio. Um PR como nunca se viu e espero que nunca mais se verá. Um PR rasca.</span>José Vítor Malheiroshttp://www.blogger.com/profile/16533268797205629025noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37174427.post-40400067254630839932015-10-25T15:03:00.000+00:002015-10-27T15:06:50.587+00:00A Confederação do Turismo de Portugal e a formação do Governo - Post no Facebook a 25 de Outubro de 2015 <span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">A notícia já tens uns dias, mas vale a pena comentar.<br />Gostava de saber se os associados da Confederação do Turismo de Portugal mandataram mesmo o seu presidente Francisco Calheiros para vir defender em público um Governo de direita. Um bocadinho de decência e de seriedade institucional ficava tão bem.<br /><br />("Confederação do Turismo defende "diálogo" entre coligação e PS" - http://www.noticiasaominuto.com/politica/463322/confederacao-do-turismo-defende-dialogo-entre-coligacao-e-ps)</span>José Vítor Malheiroshttp://www.blogger.com/profile/16533268797205629025noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37174427.post-23228111051875762382015-10-22T15:59:00.000+01:002015-10-27T16:00:14.229+00:00A cavacada<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Comentário publicado no Público online a 22 Outubro 2015 - 21h32<br /><br /><b>Por um momento pensei que poderia já ter mandado uma canhoneira bombardear a Soeiro Pereira Gomes e a Rua da Palma. Não é um bom sinal.</b><br /><br />A indigitação de Pedro Passos Coelho como primeiro-ministro pelo Presidente da República é juridicamente sustentável e politicamente legítima e não constitui uma surpresa.<br /><br />Se a declaração do Presidente da República se ficasse por aqui, não haveria muito mais a dizer, apesar da “perda de tempo” que essa decisão representaria.<br /><br />Só que Cavaco Silva entendeu, tristemente, mais uma vez, falar como Cavaco, em vez de como Presidente da República, ser ainda mais Cavaco do que nos tem habituado até aqui e acrescentou algumas barbaridades que não só estão longe do respeito pela tradição política democrática que Cavaco tanto diz respeitar, como estão longe do papel de árbitro do sistema político que compete ao Presidente da República e constituem uma verdadeira descarga de petróleo na fogueira da disputa partidária que vivemos. Cavaco, mais uma vez, mostrou que gosta de falar de estabilidade política e de sensatez, mas que não consegue promover a primeira, nem sabe usar a segunda.<br /><br />Cavaco foi, de facto, muito mais longe do que a indigitação de Pedro Passos Coelho e não só fez um discurso inflamado em favor do “arco da governação”, que lamentou amargamente não ter podido dar origem a um acordo governativo a três (PS-PSD-CDS), como se enfureceu com o PS por não ter chegado a acordo com o PSD e o CDS – algo incompreensível, já que os seus programas “não se mostram incompatíveis, sendo, pelo contrário, praticamente convergentes quanto aos objectivos estratégicos de Portugal” –, como se lançou numa diatribe contra os partidos que, no seu entender, não devem sequer fazer parte deste clube restrito dos autorizados a governar.<br /><br />É verdade que Cavaco disse que, agora, a palavra era do Parlamento, mas antes disso fez questão de sublinhar de uma forma pouco ambígua que só por cima do seu cadáver é que os partidos de esquerda teriam o gosto de ver em S. Bento um governo da sua preferência (“Em 40 anos de democracia, nunca os governos de Portugal dependeram do apoio de forças políticas antieuropeístas, de forças políticas que, nos programas eleitorais com que se apresentaram ao povo português, defendem a revogação do Tratado de Lisboa, do Tratado Orçamental, da união bancária e do Pacto de Estabilidade e Crescimento, assim como o desmantelamento da união económica e monetária e a saída de Portugal do euro, para além da dissolução da NATO, organização de que Portugal é membro fundador”). O que Cavaco disse equivaleu a lançar na clandestinidade (e certamente fora do governo) o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista e a forma como espumou na fase final da sua comunicação deixou-me convencido de que, se pudesse, tê-lo-ia feito. Por um momento pensei que poderia já ter mandado uma canhoneira bombardear a Soeiro Pereira Gomes e a Rua da Palma. Não é um bom sinal.<br /><br />Cavaco considerou mesmo que a solução de governo à esquerda que lhe foi apresentada – e que não tinha sequer necessidade de qualificar nesta fase – era “uma alternativa claramente inconsistente”, o que deixa no ar a possibilidade de o Presidente não a aceitar nem sequer como uma segunda escolha. Estando Cavaco condenado a ser Cavaco, certamente por pecados graves cometidos noutra vida, é evidente que esta ameaça constitui uma deselegante (e antidemocrática e inconstitucional) forma de pressão sobre o Parlamento, para forçar a mão a alguns deputados do PS e convencê-los a aprovar o programa PSD-CDS.<br /><br />Num lamentável desnorte, Cavaco foi mesmo ao ponto de incentivar os deputados do PS a votar contra o seu compromisso eleitoral, sublinhando que a decisão não é da Assembleia da República, mas de cada um dos seus deputados (“A última palavra cabe à Assembleia da República ou, mais precisamente, aos deputados à Assembleia da República.” “É aos deputados que cabe apreciar o programa do governo…” “É aos deputados que compete decidir, em consciência e tendo em conta os superiores interesses de Portugal, se o governo deve ou não assumir em plenitude as funções que lhe cabem.”) De facto, o órgão de soberania chama-se “Assembleia da República” e não “deputados”.<br /><br />O que se segue? Cavaco quis sugerir que irá até onde for preciso para manter o BE e o PCP fora do poder (“É meu dever tudo fazer para impedir que sejam transmitidos sinais errados às instituições financeiras, aos investidores e aos mercados, pondo em causa a confiança e a credibilidade externa do país”).<br /><br />Pode esta loucura antidemocrática de Cavaco levá-lo a manter um governo de gestão PSD-CDS no poder até que outro Presidente possa dissolver a Assembleia da República? A resposta sensata é não. Seria péssimo para o país, impedido de tomar decisões que urgem, seria péssimo para a nossa credibilidade externa, péssimo para a situação política, que viveria uma crispação inédita, péssimo para cada um dos portugueses. Mas Cavaco habituou-nos a tudo. Sabemos que o país e os portugueses contam pouco ao lado dos seus ódios figadais.</span>José Vítor Malheiroshttp://www.blogger.com/profile/16533268797205629025noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37174427.post-37162702179334181222015-10-21T15:55:00.000+01:002015-10-27T15:56:45.403+00:00O desespero é mau conselheiro - Post no Facebook de 21 Outubro 2015<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">O desespero é mau conselheiro<br /><br />Primeiro, foi a alegria de ser a candidatura mais votada.<br />Depois, a preocupação ao constatar que afinal a maioria era de esquerda.<br />A seguir o terror por o PS, BE e PCP estarem a caminho de um entendimento parlamentar. Finalmente o desespero por o acordo de esquerda estar a chegar a bom porto.<br />Só que o desespero é mau conselheiro e vieram as acusações de “fraude”, “usurpação”, “golpe de estado” e os outros disparates como “o partido que tem mais votos deve governar”.<br />Uma das formas que este desespero está a tomar (e uma das razões por que a coligação PSD-CDS insiste na indigitação de Pedro Passos Coelho por Cavaco Silva) é a tentativa de pressionar os deputados do PS simpatizantes de uma solução “Bloco Central” a viabilizar o governo minoritário.<br />Aqui sim, seria uma verdadeira vitória na secretaria e uma entorse clara àquilo que podemos intuir sobre o sentido do voto no PS - que sempre disse que seria uma alternativa a direita e que não teria sentido viabilizar um governo da direita.<br />Este apelo à pressão sobre os deputados do PS (que será interessante ver até que extremos irá) é visível, por exemplo, no artigo “4 razões, mais uma, para Cavaco não nomear Costa“ (<a href="http://l.facebook.com/l.php?u=http%3A%2F%2Fionline.pt%2F417751&h=uAQGRlnfo&s=1">http://ionline.pt/417751</a>), publicado no jornal i, da autoria de Graça Canto Moniz, coordenadora do Gabinete de Estudos do CDS mas que por razões que não conheço o i identifica apenas como “blogger”.<br /><br />Outro texto na mesma linha foi publicado no DN pela mão de Diogo Feio (<a href="http://l.facebook.com/l.php?u=http%3A%2F%2Fwww.dn.pt%2Fopiniao%2Fopiniao-dn%2Fconvidados%2Finterior%2Fclareza-normalidade-e-estabilidade-4845501.html&h=WAQENH8a4&s=1">http://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/convidados/interior/clareza-normalidade-e-estabilidade-4845501.html</a> ).<br /><br />Já deu para perceber que, neste momento de desespero, o PSD e o CDS estão dispostos a tudo (a tresler a constituição, a mentir sobre as regras democráticas de formação dos governos, a inventar uma “tradição de governo” que beneficia a direita, a acirrar os mais básicos terrores da população contra os supostos malefícios de um governo de esquerda, a difamar os seus adversários políticos, a procurar aliados no estrangeiro que se disponham a colaborar no ataque a um governo nacional constitucional).<br /><br />É quase cómico ouvir representantes da coligação de direita falarem hoje no "radicalismo" do BE ou do PCP. Há muitos anos que não se via um governo tão radical em Portugal. Só é pena que o radicalismo não lhes dê para defender a pátria no contexto internacional, para preservar o património nacional e para reforçar a dignidade das instituições, algumas das bandeiras que a direita digna soube levantar no passado.</span>José Vítor Malheiroshttp://www.blogger.com/profile/16533268797205629025noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37174427.post-59154946928352570102015-10-03T13:04:00.000+01:002017-06-02T13:05:32.149+01:00Nove razões por que será bom ter um governo de esquerda<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">3 Outubro 2015</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<br /></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 13.3333px; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b>Como será bom ter enfim uma governação e uma acção política que não seja apenas obediência.</b></span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">José Vítor Malheiros</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A primeira razão é mesmo aquela que o PSD e o CDS já adivinharam e vieram denunciar nos debates televisivos em tom inflamado, como se fosse razão para uma pessoa honesta ter vergonha. A primeira razão por que será bom ter um governo de esquerda é mesmo (confesso, confesso) não ter de continuar a ver e ouvir Pedro Passos Coelho nove vezes em cada noticário, primeiro como primeiro-ministro, depois como presidente do PSD, depois como candidato às eleições, depois como representante de Portugal (vá-se lá saber porquê) num Conselho Europeu, depois como conferencista numa conferência, depois como entrante numa feira agrícola, depois como sainte de uma audiência com Cavaco, depois como visitante daquilo e comentador da outra coisa. Isso, só por si, é um alívio. Não é que seja pessoal, que não é. Não é só porque os seus lábios eternamente crispados e a escassez do seu léxico me arrepelam a vesícula. Não é só porque a sua cerviz curvada e as suas mãos postas frente a Angela Merkel me encanzinam. É mais político. Mas pôr fim à sua ubiquidade será uma benção.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A segunda, mais séria, é porque poderemos ter um governo que, para equilibrar as contas, vai recorrer a outras medidas que não sejam rapar os rendimentos do trabalho, confiscar subsídios, aumentar o IRS, criar prestações extraordinárias sobre os salários, cortar pensões, reduzir prestações sociais, cortar serviços públicos, vender empresas públicas estratégicas fundamentais para a economia e vai (espero) encontrar meios de aumentar a receita fiscal olhando também para o património e para os rendimentos do capital e, principalmente, reduzindo a “fuga legal” aos impostos das grandes empresas e das grandes fortunas. Poderemos ter um governo que não acha que os trabalhadores são mimados, que os desempregados são preguiçosos, que os beneficiários de subsídios são parasitas, que os emigrantes são piegas. Poderemos ter um governo que olha para nós não como contribuintes mas como pessoas e cidadãos.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A terceira razão é porque o novo governo vai (espero) defender os interesses nacionais em Bruxelas e noutros fóruns internacionais, o que é uma novidade bem-vinda (quase que nos esquecemos como é que é, mas é possível) e discutir com os parceiros da União Europeia como se fossem parceiros em vez de sermos empregados deles apanhados em falta.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A quarta razão é porque o novo governo vai tentar fazer crescer a economia, o investimento, o emprego e o rendimento disponível dos portugueses, apostando na educação, que garante o reforço das competências; na investigação, que produz o conhecimento que é a matéria-prima mais importante que há; na inovação, que transforma o conhecimento em riqueza; na sustentabilidade social e ambiental, que garante que as próximas gerações não encontrarão um país delapidado e que criará novos mercados; no financiamento das PME, que representam a maioria da economia nacional.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A quinta razão é porque acabou o ilegal, ilegítimo, inconstitucional, imoral e estúpido cordão sanitário que impedia que os partidos à esquerda do PS se aproximassem do poder (veja-se como Cavaco reage à ideia de PCP e BE possam </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 13.333333333333332px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">apoiar </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">o futuro governo!) e que desperdiçava assim uma imensa quantidade de ideias e de capacidade de intervenção e afastava milhões da política ao certificá-la como um jogo viciado à partida, onde só a direita e a esquerda </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 13.333333333333332px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">light </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">podiam actuar.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A sexta razão é porque vamos enfim ter bancadas parlamentares que apoiarão o governo mas que não serão apenas a voz do dono, exemplos vergonhosos de submissão, de obediência e de subserviência mas que farão o seu dever como representantes do povo, apoiando quando necessário mas também discutindo e propondo alterações.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A sétima razão é porque teremos um governo que não confunde o Estado Social com a sopa dos pobres - como a pobre, pobre Isabel Jonet - e que sabe que o Estado Social é de todos para todos porque só assim se garante a justiça e a equidade e só assim se garante a qualidade e a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde, da escola pública, da Segurança Social, dos programas sociais.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A oitava razão é porque vamos ter um governo que sabe o que é a Cultura e que não a confunde com a decoração de interiores, que sabe que a cultura é um factor de progresso social e individual, de bem-estar social e individual, algo essencial para a vida intelectual de cada um de nós e, por isso, para a nossa vida em sociedade, para o estímulo do conhecimento, da criatividade, do prazer da fruição, do sentido crítico e do sentido de humor sem os quais não se consegue inventar uma sociedade onde seja bom viver.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A nona razão é porque poderemos ter enfim uma governação e uma acção política que não é apenas obediência (à Comissão Europeia, ao Banco Central Europeu, ao FMI, ao Eurogrupo, à Alemanha, aos mercados, à Goldman Sachs, aos tratados existentes e a existir, aos poderes estrangeiros em geral) mas que pode ser invenção, imaginação, participação, debate e criação. A nossa invenção. Como numa democracia!</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "verdana"; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">jvmalheiros@gmail.com</span></div>
<br />José Vítor Malheiroshttp://www.blogger.com/profile/16533268797205629025noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37174427.post-53411817865232923522015-09-01T14:52:00.000+01:002015-10-27T14:53:33.073+00:00Um mundo de coisas a esconder - Artigo publicado no número 1 da revista da CNPD - Julho 2015<div dir="ltr" style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 13.3333333333333px; line-height: 1.38; white-space: pre-wrap;">por José Vítor Malheiros</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b style="font-size: 13.3333330154419px; line-height: 18.3999996185303px;">Artigo publicado no número 1 da revista da CNPD - Comissão Nacional de Protecção de Dados - Julho 2015</b></span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSAmA4SaBmJ5NOCmusKa7M0uYQg-QZExgu6qEN0IR2niqzRgVO7sYK9YdM_SRhUPlx0MF3LwYKbUeMH3EBhf5CUnE_d6nvtylKuSS9paUtVlzG6kIR3aq_Uv0FLqp3HTNlcHp4/s1600/Capa+do+n%25C2%25BA1+da+revista+Fo%25CC%2581rum+de+Protecc%25CC%25A7a%25CC%2583o+de+Dados+-+Julho+2015.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSAmA4SaBmJ5NOCmusKa7M0uYQg-QZExgu6qEN0IR2niqzRgVO7sYK9YdM_SRhUPlx0MF3LwYKbUeMH3EBhf5CUnE_d6nvtylKuSS9paUtVlzG6kIR3aq_Uv0FLqp3HTNlcHp4/s320/Capa+do+n%25C2%25BA1+da+revista+Fo%25CC%2581rum+de+Protecc%25CC%25A7a%25CC%2583o+de+Dados+-+Julho+2015.png" width="246" /></a><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">“Se quiserem vasculhar a minha vida que vasculhem! Não tenho nada a esconder!”</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">É um argumento que ouvimos muitas vezes, em tom displicente, às vezes dito </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">com orgulho ou mesmo em modo de desafio. No entanto, penso que é uma das posições mais lesivas da liberdade pessoal que existe nas nossas sociedades modernas, crescentemente vigiadas.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">É um argumento que fragiliza mais ainda os mais fracos (os vigiados ou potencialmente vigiados), que reforça mais os poderes dos mais fortes (os que vigiam ou que podem vigiar) porque lhes garante total liberdade de acção, que apresenta como alienável um direito que é de facto inalienável, que compromete mais o nosso futuro, que põe em causa o nosso direito a viver a nossa vida como queremos, sem ser submetido ao escrutínio permanente dos nossos pares, dos nossos chefes, de todos aqueles que queiram submeter-nos e reduzir a nossa liberdade.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Porquê? Porque transforma a defesa de um direito fundamental numa suspeita, numa acusação, quase num crime, invertendo totalmente os valores em causa. Porque transforma a defesa de um direito numa infâmia. Porque insinua que quem protege a sua vida da devassa de outros, dos vizinhos, das empresas, dos patrões, das polícias, do Estado, dos sites da Internet, o faz porque comete ou cometeu actos inconfessáveis, ilegais, ilícitos, vergonhosos. Porque é uma posição que não compromete apenas aquele que a enuncia, mas contribui para definir um padrão social que irá limitar a liberdade de todos os outros.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Numa sociedade democrática (e não preciso de dizer democrática liberal porque a liberdade é condição da democracia, tem de estar na sua base, sem o que não há democracia) as pessoas têm direito a reservar a sua vida, diferentes aspectos da sua vida (aqueles que queiram, </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">à la carte</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">), do escrutínio de outros (aqueles que queiram, </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">à la carte</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">).</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: bold; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Não é só a intimidade</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">É costume falarmos da “reserva da vida privada” e a Constituição da República Portuguesa defende o direito (artigo 26º) “à </span><span style="background-color: white; color: #404040; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">reserva da intimidade da vida privada e familiar”, </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">mas não se trata apenas da “vida privada e familiar”. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Para além deste </span><span style="background-color: white; color: #252525; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">sanctum sanctorum</span><span style="background-color: white; color: #252525; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> da nossa identidade, cuja devassa poucos hesitam em condenar, </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">há inúmeros aspectos da nossa vida que, não sendo estritamente privados nem familiares, não nos importamos de revelar a uns mas queremos proteger do conhecimento de outros.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Uma pessoa pode frequentar aulas de </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">ballet </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">e, ainda que isso seja do domínio público no clube onde frequenta as aulas, que até podem ter assistência, pode querer manter isso em segredo dos seus colegas de trabalho. Outra pessoa pode querer manter em segredo de certas pessoas o seu emprego, porque o considera por alguma razão embaraçoso, mas este pode ser do domínio público num outro contexto. E a divulgação dessas informações no contexto errado poderia constituir uma violência imensa para a pessoa em causa, fonte de sofrimento, de culpa, vergonha, de possível coacção ou extorsão.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Todos conhecemos exemplos semelhantes e - mais significativamente - todos protegemos certas informações “não íntimas”, “não privadas” e “não familiares” dos olhos de certas pessoas. Não porque sejam crimes ou sequer pecados, mas porque queremos moldar a </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">persona </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">que mostramos às pessoas com quem nos relacionamos. E temos esse direito. Todos mostramos diferentes personagens, diferentes </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">personas</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, diferentes facetas a diferentes grupos e a diferentes pessoas. Não porque as queremos enganar, mas porque, tratando-se de pessoas diferentes, as tratamos como pessoas diferentes. Alguém conta as mesmas anedotas aos colegas da tropa e aos sogros? Alguém apresentará a mesma atitude nas reuniões do trabalho e quando fala ao namorado da filha? Será isso hipocrisia? Será isso um pecado? Ou será apenas o direito a exercermos a nossa liberdade de sermos diferentes conforme a circunstância, o interlocutor, o momento, o nosso objectivo nesse momento e a nossa história?</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: bold; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Os graus de cinzento e o contexto</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A questão é que não existem de um lado dados que não nos importamos de revelar (públicos) e do outro lado dados que queremos preservar da observação dos outros (privados). A distinção não é tão clara e muito menos binária. Não é por acaso que discriminamos: dados familiares, pessoais, privados, íntimos. Informação sobre a nossa situação bancária, saúde, vida amorosa, sexualidade, sonhos. Existe um longo </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">continuum </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">entre estes dois mundos, público e privado, plenos de matizes e ramificações, de cinzentos infinitesimamente mais escuros ou mais claros.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">E, para tornar tudo mais complexo, para cada informação não existe apenas o contexto de onde ela é originária, o contexto onde essa informação foi recolhida, o seu mundo de origem (saúde, finanças) mas o contexto em que ela é difundida, que muda tudo. Há informações absolutamente privadas num dado contexto, que constituiriam uma violência para a pessoa se fossem tornadas públicas nesse contexto, e que são partilhadas abertamente noutro grupo. A informação mais íntima, uma informação sobre a nossa saúde, sobre uma doença que nos aflige, que mantemos secreta do mundo, no nosso emprego, que podemos esconder até da nossa família e dos nossos amigos, pode ser partilhada num grupo de entre-ajuda de doentes, entre pessoas quase desconhecidas. A relação que mantemos com estas pessoas e com a nossa família é diferente e a faceta que queremos mostrar-lhes também.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Teremos esse direito? O direito de modular a informação sobre nós que permitimos que os outros consultem, que permitimos que os outros vejam? Penso que sim. Penso mesmo que essa deve ser a regra e que todas as invasões da nossa vida privada e todas as divulgações de dados pessoais devem ser as excepções, cuidadosamente e criteriosamente decididas. Felizmente, também a lei e a CNPD pensam, em geral, assim. E isso porque a relação de poder que temos com as diferentes pessoas com quem nos relacionamos é diferente. Há informação que receamos que possa ser, de alguma forma, usada contra nós num dado contexto e que não temos razão para recear difundir noutro contexto.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Colher informação num dado contexto e transplantá-la para outro - ou colher toda a informação que disponibilizamos voluntariamente “publicamente” nos vários contextos e disponibilizá-la em todos os outros contextos seria uma enorme violência. Seria literalmente despir a pessoa da sua </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">persona </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">e obrigá-la a exibir-se sem a roupa que escolheu para a sua vida social nos diferentes grupos a que pertence, nos diferentes mundos que frequenta.</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: bold; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Expectativa de privacidade</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">É por isso que, apesar de estarmos em público quando andamos numa rua, não é necessariamente aceitável, por esse simples facto, filmar as pessoas que passem nessa rua e muito menos divulgar essa informação publicamente.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Mesmo nos casos onde essa informação é recolhida - e deve haver um exigente escrutínio das razões para tal, dos benefícios dessa recolha e dos prejuízos possíveis - ela deve ser protegida tanto quanto possível, limitando as imagens colhidas, o tempo de arquivo e os acessos permitidos. E isto porque as pessoas têm, apesar de tudo, uma expectativa de relativa privacidade mesmo quando andam numa rua. A relativa privacidade que lhes é garantida pelo anonimato da cidade, da multidão, da hora de ponta, do lusco-fusco ou o que for e pelo facto de estar aqui e não estar ali (ou seja: de ter a expectativa de poder estar, eventualmente, a fornecer informação sobre a sua localização a um determinado grupo de pessoas, as que se encontram na mesma rua, mas não ao mundo inteiro).</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Se disséssemos a alguém que, sempre que passasse pela rua X, essa informação seria transmitida a todos os elementos da sua rede social, a toda a gente que a conhece ou conheceu, é provável que essa pessoa preferisse escolher outro trajecto. Não porque tencione fazer algo condenável na rua X, mas porque prefere não estar sob o foco da atenção alheia de milhares de pessoas. E tem esse direito. O direito ao anonimato, o direito a ser deixada em paz.</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: bold; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O segredo é condição de liberdade</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A questão é que, quando estamos a ser escrutinados, observados, vigiados, não gozamos da mesma liberdade que quando nos julgamos fora do alcance da observação alheia. Agimos de maneira mais livre quando não somos vigiados, de maneira mais de acordo com o nossa verdadeira vontade, sem receio de críticas, admoestações, condenações, reparos, registo para eventual uso futuro. É por isso que o voto democrático é o voto secreto, o que podemos fazer sem que ninguém nos veja. É por isso que nos sentimos tão incomodados quando alguém espreita pelo buraco da fechadura, violando uma regra social que não parece muito relevante mas é, para todos, preciosa.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A verdade é que somos seres sociais mas somos, também, seres privados, indivíduos com uma mente secreta só nossa e esse espaço virtual de absoluta liberdade é essencial para sermos quem somos. Precisamos desse recato, da certeza de não estarmos a ser observados, para levar a cabo aquele diálogo connosco mesmos que define o nosso eu, os nossos pensamentos, que estrutura os nossos actos, que nos dá a coerência com o nossa história e as nossas ideias. Que escritor conseguiria escrever com alguém a espreitar por cima do seu ombro? Que compositor conseguiria compor? Quem conseguiria criar submetido a um escrutínio constante, a uma observação constante, por discreta e por benevolente que ela fosse? E isso não acontece porque se trate de obras secretas - o escritor e o compositor escrevem para o mundo - mas o momento da criação exige absoluta liberdade e a liberdade exige ausência de escrutínio, de observação alheia, respeito.</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: bold; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Os novos velhos problemas da Internet</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Transplantar a informação pessoal de um contexto para outro, de um tempo para outro, de um grupo para outro, foi algo que a Internet tornou constante. Porque a informação que se partilha nas redes sociais online é informação pessoal (quem sou, onde nasci, com quem namoro, como se chama o meu pai, onde passo férias, de que música gosto, onde estou neste momento e com quem e porquê) e porque toda essa informação, colhida em diferentes momentos, na companhia de diferentes pessoas, em diferentes contextos, é depois colocada num mesmo espaço onde fica para sempre, à mercê dos futuros utilizadores que não sabemos quem serão. É assim que o nosso patrão acede às fotografias da bebedeira que apanhámos em Porto Covo e fica a saber em que partido votámos nas últimas (e provavelmente também nas próximas) eleições. É assim que uma pessoa minimamente interessada que se dê ao trabalho fica a saber praticamente tudo sobre nós, esse conjunto de informações “públicas” que, devidamente articuladas, fazem um detalhadíssimo “retrato privado” da nossa vida.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">É o que se chama o problema da “big data” e do respectivo “data mining”, que coloca nas mãos de não sabemos quem, mais informações do que gostaríamos de lhes ter dado. Alterações no padrão do nosso comportamento (das compras que fazemos no supermercado, por exemplo) permitem a uma entidade com um software sofisticado e acesso aos dados (o nosso supermercado, por exemplo) saber algo que nem sequer contámos a ninguém: que estamos doentes, que estamos a fazer dieta, que estamos com problemas de dinheiro e talvez desempregados, que estamos apaixonados, que vamos ter um filho.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Há inúmeros problemas de privacidade nascidos com a Internet. Outro consiste no facto de que a maior parte dos utilizadores continua a pensar que a informação que disponibiliza (aos sites onde se inscreveu ou a outros utilizadores) apenas é vista pelo seu reduzido e simpático grupo de amigos. Sabem que não é assim, mas querem acreditar que é assim. Afinal, não têm nada a esconder, pois não?</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Outro é o facto de que a maior parte dos utilizadores continua a pensar que a informação que disponibiliza na Internet desaparece no dia seguinte porque não está na última página do Face. Sabem que não é assim, mas querem acreditar que é assim.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">E outro, maior, é o desaparecimento do tal contexto. Em vez de termos o grupo dos colegas, dos amigos do coração, das colegas do liceu, da malta da tropa, do grupo do judo, das amigas da avó, dos colegas da faculdade, que existem no mundo em diferentes mundos, a quilómetros de distância, a horas diferentes, a Internet é um único contexto, onde a avó sabe que patuscadas combinamos e o antigo namorado sabe que mudámos de emprego. Na Internet verifica-se o que chamo o </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">flattening </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">de todos os universos onde existimos - todos passam a ser apenas um. Todos se encontram no mesmo Facebook e o Twitter guarda as mensagens da noite para mostrar no dia seguinte a quem estava a dormir. O mesmo Facebook, o mesmo Twitter.</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: bold; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Velho problema, novas soluções</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Não é um enorme problema, mas obriga a uma nova aprendizagem por parte dos utilizadores. Uma aprendizagem que ainda não amadureceu e que, provavelmente, só vai emergir depois de algum sofrimento, como o caso de Justine Sacco, a directora de comunicação de uma grande empresa que descobriu, ao aterrar no país onde ia passar férias, que tinha sido despedida durante o voo por causa de um </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">tweet </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">que tinha enviado antes de o avião descolar e que o seu chefe considerou racista - assim como muitos milhares de pessoas que o difundiram pela rede, tornando a sua vida um inferno nos anos seguintes.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A Internet torna mais difícil compartimentar a nossa vida, como fazemos IRL (</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">in real life</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">). É fácil dizer, como dizem muitos (Scott McNealy, CEO da Sun; Mark Zuckerberg, CEO do Facebook) que a privacidade morreu e tudo o que temos a fazer é adaptarmo-nos a isso.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Não penso assim. É evidente que a Internet e as redes socias e a descoberta do valor comercial de certos dados (a nossa lista de compras) nos pressionaram a partilhar/difundir/desproteger muita informação, que hoje oferecemos sem pudor. É verdade que a tecnologia disponível permite hoje conhecer quase tudo sobre os cidadãos. É verdade que podemos saber muitas coisas uns sobre os outros que antes era difícil saber e que as empresas e outros poderes podem saber muito mais, quase tudo, com a possível excepção do que nos passa pela cabeça. Habituámo-nos a um certo grau de nudez, maior do que antes. Aquilo que queremos reservar mudou. Há </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">trade-offs </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">que estamos dispostos a fazer. Aquilo a que chamamos “vida privada” não é a mesma coisa a que chamávamos “vida privada” há vinte anos, tal como deixou de ser atrevido mostrar as pernas, mas a protecção da vida privada como conceito não perdeu actualidade, pelo contrário. É o direito a reservar aquilo que queremos reservar do escrutínio público. E aqui quem decide tem de continuar a ser a lei democrática, como tradução da moral, e não as possibilidades da tecnologia. Nem tudo o que é possível é desejável. Nem tudo o que é possível deve ser permitido. A vida privada tornou-se apenas um jardim mais difícil de cuidar. Mas é aí que está o cerne da nossa humanidade.</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">José Vítor Malheiros</span></div>
<span style="font-family: Verdana; font-size: 13.3333333333333px; line-height: 1.38; white-space: pre-wrap;">Julho 2015</span><br />
<div>
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Verdana; font-size: 13.333333333333332px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
José Vítor Malheiroshttp://www.blogger.com/profile/16533268797205629025noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37174427.post-24655951602710580702015-06-23T12:30:00.000+01:002015-06-26T12:31:08.894+01:00Atenas já está a arder?<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><i>por José Vítor Malheiros<br />Texto publicado no jornal Público a 23 de Junho de 2015<br />Crónica 23/2015</i><br /><b>A Espanha e a França estão preocupadas? Draghi e Merkel estão preocupados? Obama está preocupado? Pedro Passos Coelho não.</b><br /><br />O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, considera que é impossível prever as consequências a médio e a longo prazo de um eventual incumprimento por parte da Grécia — que teria de levar inevitavelmente à sua saída do euro. E todos os comentadores são de um extremo cuidado ao tentar prever as consequências de uma saída da Grécia da zona euro. Depois de listar as eventuais vantagens para a Grécia ou para os países que ficassem no euro e as eventuais desvantagens para ambos, acabam por concluir que nada é certo já que, se essa hipótese se tornasse realidade, se entraria em águas nunca dantes navegadas.<br /><br />A realidade é que tudo pode acontecer, desde um efeito dominó que destruiria o euro primeiro, desencadearia uma imensa crise de confiança na Europa e desagregaria a União Europeia depois, até uma estabilização relativamente rápida da UE-sem-Grécia sem desastres de maior. A verdade é que não se sabe porque nunca nada semelhante aconteceu, porque ninguém consegue prever o que farão os diferentes actores políticos e económicos caso a famosa Grexit se concretize e porque é provável que alguns desses actores não reajam da forma mais racional — tal como, neste preciso momento, a União Europeia não está a reagir de forma racional.<br /><br />Todos os comentadores e todos os especialistas são prudentes, mas não o nosso primeiro-ministro que garante que uma eventual saída da Grécia não causará mossa a Portugal. A Espanha e a França estão preocupadas? Draghi e Merkel estão preocupados? Obama está preocupado? Pedro Passos Coelho não. Há algo que Passos Coelho ou a sua professora de Economia, Maria Luís Albuquerque, saibam ou estejam a ver que mais ninguém sabe ou vê? Não. Terão eles uma ideia mais precisa do que os muitos peritos que estudam isto todos os dias ou que os analistas que escrevem e reflectem sobre isto? Não. É apenas mais um exemplo do wishful thinking e da manipulação da realidade que tem dado as famosas previsões de recuperação económica e que hoje fazem um retrato radioso de Portugal, apesar da pobreza, do desemprego, da dívida crescente e da emigração. Eles acham que Portugal vai ficar bem ainda que a Grécia saia do euro. Ou melhor: secretamente, e apesar das suas profissões de fé, rezam para que a Grécia saia do euro, para que uma catástrofe inominável se abata sobre a Grécia e para que o país se enterre na fome e na miséria durante décadas, pária entre as nações, e que isso sirva de lição aos que contestam a austeridade, aos que contestam o seu governo, a todos os que se atrevem a votar à esquerda e a criticar a troika que eles amam acima de todas as coisas. O mundo receia que a UE caia, mas Passos Coelho diz que Portugal não cairá. Seria cómico se não fosse tão estúpido.<br /><br />Os analistas acham que é possível que a Grécia, se sair de facto do euro, consiga usar em seu benefício o facto de voltar a usar um dracma muito desvalorizado, apostando em força nas exportações e no turismo. Outros acham pouco provável que a sua fragilizada economia pudesse aproveitar devidamente essa vantagem, nomeadamente no sector exportador. Uns estão convictos de que uma Grécia fora do euro, depois de um ou dois anos que todos são unânimes em prever como duríssimos, poderia começar a experimentar crescimentos da ordem dos 5% a 10%, levando outros países (como a Itália, a Bélgica e mesmo a França) a pensar se, afinal, não seria melhor saltar fora do euro, dando origem ao efeito dominó e ao fim do euro. Outros acham que a saída do euro e o fim da pressão dos parceiros da UE e dos credores da troika fará com que a Grécia abandone toda a disciplina orçamental e regresse a maus hábitos orçamentais e ao desgoverno total, caindo no caos.<br /><br />Mas, como o prémio Nobel de Economia Paul Krugman escreveu, “o maior risco para o euro não é em caso de fracasso da Grécia mas em caso de êxito da Grécia. Imaginem que um novo dracma muito desvalorizado traga uma enchente de bebedores de cerveja britânicos para o mar Jónico e que a Grécia comece a recuperar. Isso iria encorajar grandemente aqueles que contestam a austeridade e a desvalorização interna noutros países”.<br /><br />E é isto (que está longe de ser apenas a opinião de Krugman) que Passos Coelho não pode sequer sugerir. O conto moral da austeridade exige que os contestatários sejam castigados. Se ficarem no euro e se saírem do euro. Para que aprendam que as veleidades democráticas de eleger governos que não querem ser súbditos da Alemanha se pagam caras.<br /><br />Esta displicência de Passos Coelho em relação à saída da Grécia é mais um sinal da falta de patriotismo demonstrada pelo Governo PSD-CDS já que, em caso de Grexit, todos sabem que a posição de Portugal ficaria particularmente fragilizada. Mas o PM não está preocupado com Portugal. Antes de mais, a Grécia deve ser castigada. Passos Coelho deitaria fogo à Grécia já se lho ordenassem. É esta a sua ideia de solidariedade europeia. Curiosamente, Krugman considera que é tão importante para a Alemanha que a Grécia fracasse se sair do euro que o economista põe mesmo a hipótese de um boicote alemão à economia grega. Passos Coelho gostaria imenso de ajudar, mas pode ser que as eleições o defenestrem antes.<br /><br /><a href="mailto:jvmalheiros@gmail.com">jvmalheiros@gmail.com</a></span><div>
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Artigo no Público: <a href="http://www.publico.pt/mundo/noticia/atenas-ja-esta-a-arder-1699770">http://www.publico.pt/mundo/noticia/atenas-ja-esta-a-arder-1699770</a></span></div>
José Vítor Malheiroshttp://www.blogger.com/profile/16533268797205629025noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37174427.post-60325972156879118862015-06-16T12:27:00.000+01:002015-06-26T12:27:44.160+01:00Confiança e estabilidade para um futuro diferente<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><i>por José Vítor Malheiros<br />Texto publicado no jornal Público a 16 de Junho de 2015<br />Crónica 22/2015</i><br /><br /><b>Este é um daqueles momentos históricos em que não há razão para temer correr riscos, porque o status quo representa um enorme risco.</b><br /><br />Confiança. Estabilidade. Não é por acaso que as campanhas eleitorais, em Portugal e em outros países, batem tanto nestas teclas. Os eleitores prezam estes valores e os partidos acreditam que serão premiados nas urnas se parecerem garanti-los.<br /><br />É verdade que alguns partidos falam de inovação e de rupturas, de grandes apostas e grandes reformas e conquistam uma parte do eleitorado, mas as eleições, diz o senso comum da política, “ganham-se ao centro”. Porquê? Porque é aí que estão os que podem ser ganhos, os indecisos, os que ficam no meio porque não sabem se devem ir para um lado ou para o outro. Daí que os partidos do “centrão” adoptem uma linguagem por vezes estranhamente próxima, que tenta apelar ao espírito conservador do centro. Quem está na oposição ensaia um discurso onde aparece a palavra “mudança” mas essa mudança nunca é apresentada como uma viragem brusca mas apenas como uma reorientação no sentido justo. E o partido no poder, que quer ser reeleito, usa a palavra “renovação “ ou “relançamento” que acaba por sustentar um discurso não muito diferente. E, se por acaso a oposição defender uma viragem de 180 graus, lá estará o partido no poder, usando a vantagem de jogar em casa, para a considerar aventureirista, catastrófica, jogando de novo no medo, usando a chantagem.<br /><br />Mas… e quando o status quo é o desemprego, a crise financeira, o aumento dos impostos e a perda de direitos, o retrocesso, a pobreza, a degradação da democracia, a destruição da saúde e da educação, o êxodo dos jovens, uma dívida crescente, a humilhação dos pobres e a subserviência aos ricos? Será “estabilidade” a destruição das empresas, das famílias, das escolas, dos laboratórios de investigação, das poupanças e do investimento? Será que o partido no poder pode chamar “estabilidade” a esta vil tristeza, ao colaboracionismo e ao empobrecimento que promoveu? Pode, se tiver a lata suficiente para defender que os males actuais e passados foram e são rituais purificadores dos quais nascerá uma fénix, como o PSD e o compère CDS tentam fazer.<br /><br />De facto, a confiança que os partidos tentam merecer é importante para os eleitores porque lhes dá uma informação sobre o que vai acontecer, com base nas garantias e nas promessas dos programas eleitorais e nas declarações dos seus dirigentes. Quanto à estabilidade que os eleitores valorizam ela não deve ser confundida com manutenção do status quo. A estabilidade que os eleitores procuram não é uma garantia de que o futuro será igual ao presente (muito menos nestes anos de chumbo) mas sim uma garantia de que haverá referências e procedimentos que serão respeitados, de que o contrato social não será rasgado nem as leis ignoradas, de que haverá honestidade e transparência, sensatez e competência. Os eleitores querem saber o que podem esperar e têm esse direito natural e constitucional.<br /><br />Numa época onde caminhámos à beira do abismo e em que vimos milhares e milhares de pessoas precipitarem-se no vácuo é evidente que não queremos continuar a viver a mesma vida.<br /><br />Os eleitores não querem ser enganados com a descrição de um futuro radioso que sabem que não vai acontecer. Os eleitores querem objectivos claros e justos e querem coerência, determinação, competência, honestidade. Os eleitores até suportam sacrifícios, mas querem escolher a razão por que os fazem. O que os eleitores não suportam é duplicidade.<br /><br />Este é um daqueles momentos históricos em que não há razão para temer correr riscos, porque o status quo representa um enorme risco. Um momento onde é necessário e justo propor o novo. Este é um daqueles momentos em que se devem fazer escolhas e em que os eleitores percebem as escolhas e querem outra coisa.<br /><br />Este é o momento em que o PS deveria ter a coragem de escolher e de apontar caminhos em vez de se dirigir ao regaço morno e seguro do centrão, onde às vezes defende a reestruturação da dívida e às vezes não, onde às vezes quer privatizar a TAP e às vezes não. Este é o momento em que a oposição pode e deve apresentar verdadeiras alternativas. Este não é o momento de adoçar a austeridade mas de recusar e combater a austeridade, em Portugal e na UE; de defender e negociar a renegociação da dívida que todos sabemos impagável, para Portugal, para a Grécia e para todos; de recusar a “parceria transatlântica” TTIP que colocará os estados da UE na mão das grandes multinacionais; de defender uma Europa de acolhimento e que não tem receio de defender a paz na cena internacional em vez de fingir que não existe guerra na Líbia nem ISIS. A crise que vivemos ensinou-nos que há muitas coisas a que é preciso dizer claramente que não e é essa a confiança e essa estabilidade que os eleitores querem. Confiança em que os políticos se baterão por um futuro justo. Estabilidade nos princípios que devem reger a acção política.<br /><br />Com esta confiança e esta estabilidade, suportam-se com alegria todas as tempestades.<br /><br /><a href="mailto:jvmalheiros@gmail.com">jvmalheiros@gmail.com</a></span><div>
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span><div>
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Artigo no Público: <a href="http://www.publico.pt/politica/noticia/confianca-e-estabilidade-para-um-futuro-diferente-1699063">http://www.publico.pt/politica/noticia/confianca-e-estabilidade-para-um-futuro-diferente-1699063</a></span></div>
</div>
José Vítor Malheiroshttp://www.blogger.com/profile/16533268797205629025noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37174427.post-67257267712381808572015-06-02T12:24:00.000+01:002015-06-26T12:24:56.102+01:00A solução fácil: matar o mensageiro<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><i>por José Vítor Malheiros<br />Texto publicado no jornal Público a 2 de Junho de 2015<br />Crónica 21/2015</i><br /><br /><b>Os hospitais merecem melhores dirigentes e as universidades também.</b><br /><br />Ninguém gosta de trabalhar numa organização que é acusada de ser sede de actos de corrupção, ainda que sejam “de pequena escala”. Menos ainda quando se diz que esses actos não são esporádicos, mas, pelo contrário, “permeiam toda a instituição”. É natural. Mas, quando surgem acusações desse tipo à luz do dia, seria também natural que os dirigentes da instituição em causa tentassem averiguar da sua veracidade e recolher o máximo de informação, para poder confirmar ou desmentir a acusação e resolver os problemas detectados.<br /><br />Não foi essa a atitude que entendeu ter o conselho de administração do Centro Hospitalar de Lisboa Norte, de que fazem parte os hospitais Pulido Valente e Santa Maria, quando, na semana passada, foram publicadas notícias sobre um estudo realizado para a Fundação Francisco Manuel dos Santos que punha em causa o funcionamento do Hospital de Santa Maria e o acusava de ser palco de actos do género e de estar sob a influência de “uma teia de lealdades ideológicas associadas a partidos políticos, a lojas maçónicas e a organizações católicas”.<br /><br />O conselho de administração, pela boca do seu presidente, Carlos Martins, disse aos media ter recebido estas notícias com "surpresa e indignação" e esclareceu que não descartava a hipótese de processar a Fundação Francisco Manuel dos Santos pelo teor do estudo, da autoria dos investigadores Alejandro Portes, da Universidade de Princeton, e M. Margarida Marques, da Universidade Nova de Lisboa.<br /><br />Carlos Martins lamentou que “se coloque em causa, perante um país, uma instituição com 60 anos", como se a idade de uma organização a devesse de alguma forma isentar de escrutínio ou lhe concedesse qualquer tipo de privilégio, e terminou insinuando que as críticas ao hospital pelo qual é responsável se poderiam inserir numa campanha política devida ao “momento politicamente mais quente que o normal” que vivemos neste ano de eleições ou a uma campanha interna devido às eleições para a direcção da Faculdade de Medicina.<br /><br />O administrador poderia ter-nos dado algumas informações relevantes. Poderia ter-nos dito quantas queixas de corrupção ou de irregularidades foram investigadas e concluídas nos últimos anos, quantas sanções foram aplicadas e a quem, que tipo de procedimentos de controlo e auditoria foram adoptados nos últimos anos para os concursos de aquisição de equipamento, de promoção ou de contratação de pessoal e com que resultados, etc. Mas, sobre a matéria substantiva, o administrador preferiu nada dizer.<br /><br />A referência aos 60 anos de vida do Santa Maria poderia ter algum sentido se, ao longo desse tempo de vida, a instituição tivesse sido regularmente submetida a rigorosas avaliações por entidades idóneas, sempre com excelentes resultados ao nível do desempenho clínico, financeiro e ético e este estudo viesse agora contradizer todos os anteriores. Aí, o administrador teria razão para se declarar surpreendido. Mas essa não é a realidade. Pelo contrário, o Hospital de Santa Maria sempre tem sido referido como estando envolvido numa teia de corrupção, pequena, média ou grande, que tem resistido a diferentes tentativas para a destruir. O Hospital de Santa Maria é aquele hospital que, há alguns anos, mereceu uma menção pública do ministro da Saúde a ameaças feitas à integridade física de um administrador e da sua família devido às suas tentativas para romper com essa teia de interesses e influências.<br /><br />Mais: o anterior director clínico do hospital, Miguel Oliveira e Silva, demitiu-se há meses e apresentou queixas às autoridades (ainda não investigadas) devido a irregularidades na compra de material e na realização de obras no hospital. “Não estou surpreendido com as conclusões deste estudo”, foi o seu comentário.<br /><br />Mais ainda: confrontado com as declarações constantes neste estudo, o bastonário da Ordem dos Médicos declarou: “Tenho dúvidas de que nos outros hospitais [a situação] seja substancialmente diferente.”<br /><br />E mais ainda: Adalberto Campos Fernandes, que foi presidente do conselho de admnistração do Santa Maria até 2009, a quem foi pedido um comentário, quis apenas declarar-se “solidário com os 95% de trabalhadores da unidade” que considerou idóneos.<br /><br />Ou seja: existem razões para considerar que a situação no Hospital de Santa Maria, apesar de poder ser melhor do que há dez anos, é ainda profundamente malsã, que existem ineficiências e injustiças no seu funcionamento, corrupção, privilégios de grupos e influências indevidas de interesses privados.<br /><br />E é infeliz que, perante essas razões, o seu responsável máximo pretenda matar o mensageiro.<br /><br />Finalmente, é igualmente infeliz que, perante a polémica, a Universidade Nova de Lisboa tenha querido vir a público afirmar que o “estudo é da exclusiva responsabilidade dos investigadores envolvidos e não reflete a posição institucional [daquela] universidade”. Por um lado, trata-se de declarar o óbvio. Mas quando uma universidade faz questão, à cautela, de se dessolidarizar de um investigador que pode ter pisados alguns calos, isso não diz bem do seu carácter. Os hospitais merecem melhores dirigentes e as universidades também.<br /><br /><a href="mailto:jvmalheiros@gmail.com">jvmalheiros@gmail.com</a></span><div>
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br />Artigo no Público: <a href="http://www.publico.pt/portugal/noticia/a-solucao-facil-matar-o-mensageiro-1697592?page=-1">http://www.publico.pt/portugal/noticia/a-solucao-facil-matar-o-mensageiro-1697592?page=-1</a></span></div>
José Vítor Malheiroshttp://www.blogger.com/profile/16533268797205629025noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37174427.post-87521213031625191402015-06-01T12:42:00.000+01:002015-06-26T12:51:02.857+01:00Apresentação de candidatura às eleições primárias do Livre/Tempo de Avançar para as Eleições Legislativas de 2015<div style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #848484; font-family: Lato, 'Helvetica Neue', Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 27px; margin-bottom: 1.5em;">
</div>
<div style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #848484; font-family: Lato, 'Helvetica Neue', Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 27px; margin-bottom: 1.5em;">
</div>
<center style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #848484; font-family: Lato, 'Helvetica Neue', Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 27px;">
</center>
<div class="x-entry-share" style="background-color: white; border-bottom-color: rgb(229, 229, 229); border-bottom-style: solid; border-top-color: rgb(229, 229, 229); border-top-style: solid; border-width: 2px 0px; box-sizing: border-box; color: #848484; font-family: Lato, 'Helvetica Neue', Helvetica, sans-serif; font-size: 12px; line-height: 1; margin: 0px 0px 1.5em; padding: 10px 0px; text-align: center;">
<div style="box-sizing: border-box; margin-bottom: 10px; margin-top: 8px; text-transform: uppercase;">
</div>
</div>
<div>
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><b>Apresentação pessoal</b><br /><br />Fui jornalista durante quase toda a minha vida e continuo ainda hoje ligado à comunicação e aos media. Muita gente diz que continuo a pensar como um jornalista e é provavelmente verdade. Tenho a maldição de me interessar por demasiadas coisas e, por isso, o jornalismo, que abracei por acidente, como costuma acontecer, foi uma benção, com a sua possibilidade de saltar de tema para tema. A ciência e a política interessam-me tanto como a poesia e a filosofia. Estudei engenharia electrotécnica no Instituto Superior Técnico mas interrompi o curso quando percebi que, se ficasse, sairia de lá engenheiro. Trabalhei de 1983 a 1989 no Expresso, de onde saí (com Vicente Jorge Silva, Jorge Wemans e outros) para fundar o Público, onde estive vinte anos, desde antes do seu lançamento até 2009, e onde criei e dirigi a secção de Ciência e o site Web do jornal. Os anos em que trabalhei com Vicente Jorge Silva, no Expresso e no Público, foram os mais marcantes e mais gratificantes da minha vida profissional. Depois de deixar o jornalismo mantive a minha actividade como colunista do Público, continuei a dar aulas de comunicação na universidade e tornei-me consultor de Comunicação de Ciência (para mais detalhe consultar a minha página LinkedIn). Sempre tive a sorte de poder trabalhar em temas que me apaixonavam e com pessoas interessantes e não sei trabalhar de outra forma. Sou um amante de palavras. Gosto de ler, de escrever e de conversar. Nasci e sempre vivi em Lisboa.<br /><b><br />Apresentação da candidatura</b><br /><br />Após anos de austeridade e de hegemonia neoliberal, vivemos um momento em que nenhum de nós se pode eximir de contribuir para defender a causa pública. Vivemos uma época de urgência, onde estamos a fazer escolhas que vão condicionar o nosso futuro de forma profunda e precisamos de mobilizar toda a sociedade para participar nessas escolhas de forma livre e exigente. Vivemos um momento onde, pela primeira vez em séculos, os portugueses (e cidadãos de muitos outros países) não têm razão para acreditar que os seus filhos viverão melhor do que eles. O futuro aparece-nos mais negro do que o presente, com menos bem-estar, mais insegurança, menos direitos, menos democracia, mais desigualdade, mais riscos ambientais. Isto não acontece devido a um problema de escassez de recursos mas devido à supremacia de uma política que abdicou de garantir direitos iguais a todos e instituiu, perante a apatia da maioria, uma sociedade não só profundamente desigual, onde um pequeno grupo concentra cada vez mais riquezas, mas onde a própria desigualdade é apresentada como fonte de competitividade e progresso. Pelo meu lado, não aceito uma sociedade onde uma parte crescente da população não tem os direitos básicos garantidos e vive situações de grave carência material. Não aceito que uma criança não possa ser professora ou pianista apenas porque nasceu no bairro errado e na família errada. Acredito que ser de esquerda é combater essa injustiça de forma eficaz, nomeadamente através da eleição de um governo de esquerda. Apoio o Livre/Tempo de Avançar porque defendo uma esquerda que se indigna e não abdica de protestar, mas que quer governar à esquerda, construindo alianças à esquerda, com generosidade e sem sectarismos, correndo o risco da acção. Recuso a deriva neoliberal da Europa e os espartilhos jurídicos que a institucionalizam e defendo que é necessário encontrar aliados para reconstruir a UE em torno da ideia generosa e mobilizadora da solidariedade, do progresso e da liberdade.<br /><br /><b>Áreas de intervenção preferenciais</b></span></div>
<div>
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Democracia. Políticas sociais. Educação. Investigação.<br /><br /><b>Como pensa interagir com os eleitores?</b><br />Encontros regulares com os cidadãos (presenciais e via web). Absoluta transparência na informação sobre toda a actividade parlamentar, decisões e votações. Utilização das redes sociais online para debate com cidadãos.<br /><br /><b>Círculos pelos quais concorre: </b></span><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Círculo de Lisboa</span></div>
<div>
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><b><br />Facebook:</b> </span><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><a href="https://www.facebook.com/jvmalheiros">https://www.facebook.com/jvmalheiros</a></span></div>
<div>
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /><b>Site pessoal ou blog: </b><a href="http://versaletes.blogspot.pt/">http://versaletes.blogspot.pt/</a><br /><br />Proponentes de <a href="http://tempodeavancar.net/wp-content/uploads/2015/06/Jos%C3%83%C2%A9V%C3%83%C2%ADtorMalheiros.pdf">José Vítor Malheiros</a></span></div>
José Vítor Malheiroshttp://www.blogger.com/profile/16533268797205629025noreply@blogger.com0