Legenda usada na exibição de um banco que doei para a exposição-venda "Aberto ao Público", cuja receita se destinou aos 48 trabalhadores despedidos pelo Público.
Para fazer jornalismo é preciso falar. Falar muito. Não apenas com as fontes mas com as pessoas em geral. E falar com os outros jornalistas, na redacção e fora dela. Para fazer bom jornalismo é preciso discutir muito. Discutir o que se vai fazer, por que se vai fazer e por que se fez, o que se vai dizer e como se vai dizer, por que se escreveu isto assim e não aquilo assado, por que não se devia ter feito aquele título ou por que se devia ter posto aquela chamada na primeira página, como se deve fazer para não voltar a cometer o mesmo erro, como contornar esta dificuldade técnica, como resolver este dilema ético. E as respostas a estas perguntas não estão todas escritas, por muitos Livros de Estilo e Códigos Deontológicos que haja. É preciso encontrar a resposta de cada vez, discutindo, falando, trocando impressões, comparando experiências, analisando alternativas, trocando histórias e lembrando lendas. Tudo é conversa no jornalismo. A prática do jornalismo é um exercício de racionalidade e de racionalização, de argumentação e de alimentação do diálogo social. O jornalismo é uma conversa com os leitores e tem como objectivo alimentar a conversa dos cidadãos entre si. E este banco é uma ferramenta de conversa. Durante os meus anos de editor tive sempre um banco deste tipo e este foi o último que tive. Porquê? Porque uma cadeira é pesada e difícil de arrastar e às vezes não há espaço para a pôr ao lado da nossa e para um banco há sempre lugar. Aqui sentaram-se muitas visitas para conversas sem cerimónia. Mas o banco era principalmente o banco dos jornalistas com quem trabalhei e que vinham discutir os seus textos comigo, com os olhos de ambos no monitor e as minhas mãos no teclado. O banco era usado por toda a gente na redacção - já disse que os jornalistas precisam de conversar uns com os outros - mas era conhecido como o "banco dos estagiários", entre os quais também chegou a ser conhecido (injustamente) como o"banco do castigo". Lembro-me de muitas conversas estimulantes com muitos jovens camaradas de profissão, sentados neste banco, e sei que muitas das minhas ideias sobre jornalismo foram ganhando forma nestas conversas. E é até possível que alguma coisa daquilo que esses estagiários aprenderam sobre jornalismo tenha surgido na sequência de um dos meus "Olha, vai lá buscar o banquinho e senta-te aqui ao meu lado."
A exposição "Aberto ao PÚBLICO" - Mostra e venda de objectos em defesa do jornal PÚBLICO teve lugar na Casa da Imprensa no dia 1 de Novembro de 2012 (http://www.facebook.com/events/287808527996636/?fref=ts98). A organização foi dos jornalistas Ana Rita Faria, Ana Silva, Nicolau Ferreira, Pedro Crisóstomo e Raquel Almeida Correia.
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