por José Vítor Malheiros
Texto publicado no jornal Público a 26 de Junho de 1999
Suplemento Mil Folhas - Crítica do livro "Truth to Tell" de Lanny Davis
"Truth to Tell" conta-nos como escândalos na Casa Branca foram "geridos" e os danos foram "controlados". Sempre na defesa dos interesses do presidente Bill Clinton - a quem Lanny Davis se refere como "o seu cliente".
Os livros mais ou menos memorialistas dos assessores dos presidentes norte-americanos sobre as respectivas passagens pela Casa Branca não são uma raridade. Não há praticamente ninguém que tenha vivido um momento de intimidade ou cumplicidade na Sala Oval que resista a contá-lo ao mundo. O consulado de Clinton tem sido rico neste tipo de produção, de Dick Morris ("Behind the Oval Office") a George Stephanopoulos ("All Too Human") e da história de Gennifer Flowers ("Sleeping With the President") à de Monica Lewinsky ("Monica's Story").
O que o livro de Lanny Davis ("Truth to Tell") tem de particular é o facto de abordar um tema particularmente restrito e que raramente é tratado de forma tão explícita (os americanos diriam "cândida") pelos assessores dos políticos: as relações entre o poder e a imprensa em situações de crise.
Lanny Davis é um advogado de Washington que foi contratado pela Casa Branca em Dezembro de 1996 com um mandato simples: gerir as relações com a imprensa em casos de escândalo. Uma especialidade no domínio da comunicação institucional a que se dá o nome de "gestão de crises e controlo de danos".
É verdade que também existem muitos livros no mercado sobre a gestão de crises, mas trata-se de manuais assépticos que é impossível ler sem algumas dúvidas quanto à exequibilidade dos seus princípios no mundo real.
"Truth to Tell", pelo contrário, conta-nos a história de alguns casos reais onde a crise foi "gerida" e onde os danos foram "controlados". Sempre na defesa dos interesses do empregador de Davis, o presidente Bill Clinton - a quem Davis se refere como "o seu cliente" -, explicando-nos pelo caminho algumas evidências sobre a forma como a imprensa e o público podem ser manipulados... sem ferir a verdade.
"Truth to Tell" tem um "handicap": o seu autor entrou na Casa Branca em Dezembro de 1996, quando o período mais quente de Whitewater já tinha passado (ainda que o caso estivesse longe de ter acabado) e saiu em Janeiro de 1998, quando o caso Lewinsky tinha acabado de rebentar (Davis garante que não há relação de causalidade entre o caso e a sua saída, motivada por razões pessoais).A maior parte dos casos que Davis conta no seu livro dizem respeito ao chamado escândalo do financiamento do Partido Democrata - financiadores pouco transparentes, suspeita de atropelo de várias normas legais, suspeita de venda de certos favores (noites na Casa Branca, viagens no Air Force One) em troca de donativos - mas é fascinante ver como a aplicação de certas normas de "controlo de danos" pelo pessoal da Casa Branca conseguiu anular por completo o impacto de histórias que, noutro contexto, seriam desastrosas.
O truque de Davis? Nem mais nem menos do que uma velha receita na qual é difícil acreditar: contar a verdade, mas fazê-lo de forma a controlar o resultado. O livro traz aliás na capa a epígrafe "Tell it early, tell it all, tell it yourself" (Conte tudo, faça-o cedo e faça-o você próprio).
Como é que se consegue fazer isso e proteger a imagem do seu cliente? Davis explica em pormenor. Quando um assessor de imprensa está perante a iminência da publicação de uma história potencialmente desastrosa, deve tentar antes de mais conseguir a publicação de um artigo de referência sobre essa história, num órgão de comunicação respeitado, de onde constem todas as informações potencialmente prejudiciais.
Para quê? Para que nem o mesmo órgão de informação nem qualquer outro tenha matéria para continuar a explorar a história. O objectivo, em resumo, é esgotar a história ou, como diz Davis, "transformar as más notícias em notícias velhas".
Se houver factos verdadeiramente negativos na história, a opinião pública e os opositores políticos poderão explorá-los durante algum tempo, mas eles acabarão por cair no esquecimento - afogados pelo quotidiano dos jornais, da televisão e da política, por factos novos, que se vão sobrepondo aos outros e nos vão fazendo esquecer as notícias de ontem para impor as de hoje.
Se não se conseguir a publicação da história de referência ou se não se fornecerem todas as informações aos jornalistas, o que acontece é que um escândalo dará origem não a uma história mas a uma série de histórias, exploradas por vários jornais, que se empenharão em cavar mais fundo, para bater os seus concorrentes - com a agravante suplementar que cada jornal não deixará de sublinhar que os visados tentaram sonegar informação ao público. Com a publicação da história de referência, tudo morre à nascença. E Davis tem um currículo para provar a tese.
Como é que se consegue que um órgão de comunicação sério escreva a história que convém? Oferecendo-lhe um exclusivo. Garantindo-lhe que terá toda a informação que os outros nunca terão, que poderá falar com toda a gente com que os outros nunca poderão falar. E garantindo desta forma que os pontos de vista do seu cliente serão ouvidos, compreendidos e referidos.É claro que, depois, o assessor de imprensa verdadeiramente eficaz usa outros truques: por exemplo, tenta publicar a história no dia em que ela possa ter menos impacto (uma manhã de sábado é uma boa ocasião) e - truque supremo - oferece-a a uma agência noticiosa como a Associated Press, sabendo que jornais como o "New York Times" ou o "Washington Post" jamais publicarão uma história da AP na primeira página se não lhe puderem acrescentar absolutamente nenhuma informação nova.
Sublinhe-se que não há aqui qualquer venalidade: os jornalistas que Davis escolhe como seus interlocutores privilegiados são excelentes profissionais, independentes e rigorosos, dos melhores jornais, que tentam dar aos seus leitores a melhor informação possível. Mas, devido às idiossincrasias da prática dos jornais (que valorizam mais uma história própria do que uma descoberta pela concorrência; a história de hoje em detrimento de uma história com três dias, independentemente da sua importância relativa) é possível manobrar o noticiário de forma a servir os interesses do inquilino da Casa Branca ou de qualquer outro que pague o salário de Lanny Davis.
Como é que se pode ter a certeza de que um jornalista distraído não voltará a publicar a história, se se faz tudo o que é possível para que ela passe despercebida? Graças à gigantesca base de dados Lexis-Nexis, que reúne os artigos da imprensa norte-americana e que os repórteres consultam sempre antes de começar a escrever sobre algum assunto, para ver o que já foi dito sobre a questão. Se o assunto já foi objecto de uma história de referência, a consulta da Lexis-Nexis revelará que não há nada, absolutamente nada, que possa ser acrescentado à questão. E, por muito quente que o tema seja (ou tenha sido), ele irá para o cesto dos papéis.
Depois de ler "Truth to Tell" e de termos visto como o caso Lewinsky viveu do facto de Clinton ter tentado escondê-lo (e como ele se esvaziou depois de conhecermos tudo) é impossível não pensar no que (não) teria acontecido se Lanny Davis tivesse sido encarregado de o controlar.
sábado, junho 26, 1999
sexta-feira, junho 25, 1999
A vida é sonho?
por José Vítor Malheiros
O tema da irrealidade do mundo material que nos rodeia não é novo. Ele está presente há milénios em religiões que tentam libertar-nos das misérias da realidade e compensar-nos no futuro pelas insuficiências do presente.
A grande diferença entre estas teorias e o mundo que nos oferece "The Matrix" é que, para as primeiras, aquilo a que chamamos "mundo" é uma ilusão provisória, oferecida aos sentidos enquanto esperamos a verdadeira e eterna existência, num mundo talvez sem substância mas que é o único dotado de realidade e que nos pode oferecer a completa felicidade - um Paraíso. No filme, a única coisa que se esconde por trás da ilusão da nossa realidade é o Inferno sem apelo.
Como "eXistenZ", de David Cronenberg, também actualmente em exibição (com quem as comparações são inevitáveis), "The Matrix" aborda um tema que já foi pura filosofia mas a que as descobertas das neurociências vieram trazer uma dimensão física (uma expressão só aparentemente mais segura do que "realidade"): a realidade é um mundo construído pelo nosso cérebro, a partir dos elementos que lhe são fornecidos pelos sentidos e com base em regras de coerência interna.
Dito de outra forma: ninguém sabe como as coisas são; sabemos apenas como elas nos parecem. E sabemos hoje que, quando essa percepção é alterada, o nosso cérebro cria com facilidade visões alternativas do mundo, de forma a integrar nelas de forma coerente as novas mensagens que lhe chegam.Um exemplo simples disso é o que acontece quando uma pessoa coloca uns óculos prismáticos que invertem as imagens que vê. Depois de algumas horas a ver as coisas de pernas para o ar (o que contraria tudo aquilo que ela sabe sobre o funcionamento do mundo), o cérebro da pessoa que é objecto da experiência inverte a imagem recebida e coloca o mundo no seu sítio, de pés no chão, sem que tenha sido preciso tirar os óculos. A imagem que se forma na retina é a mesma, o seu processamento pelo córtex visual mudou. A visão do mundo volta a ser coerente com a história pessoal do indivíduo, com as restantes experiências e as restantes mensagens dos seus sentidos. Se, passados uns dias, os óculos forem retirados, o mundo volta a estar de pernas para o ar, mas tudo se recomporá de novo (não sem umas náuseas ou enxaquecas) passadas umas horas.
Os míopes tem uma experiência quotidiana destas experiências: apesar de os seus óculos mostrarem uma imagem muito mais pequena do que a vista sem óculos, uns dias depois de colocar pela primeira vez umas lentes à frente dos olhos, os míopes passam a ver as coisas das suas verdadeiras dimensões: as suas mãos parecem-lhes da mesma dimensão vistas através dos óculos ou não, porque o seu cérebro sabe que elas não mudam de dimensão e faz, por isso, o necessário ajustamento.
Ou seja: o mundo é fabricado pelo cérebro e a sensação da sua "realidade" não é mais do que o resultado da coerência das várias mensagens recebidas pelos nossos sentidos ao longo do tempo. Sabemos que o filme que vemos no ecrã não é real porque sentimos a cadeira em que estamos sentados e o nosso cérebro atribui uma maior pontuação na escala da realidade a essa sensação. Mas o que acontecerá quando não a sentirmos?
As tecnologias de informação permitem hoje criar mundos virtuais e injectar no nosso cérebro (via órgãos dos sentidos) um grande número de sensações artificiais (imagens, sons, pressão, vibrações). E a ficção científica imagina há décadas o momento em que essa injecção poderá ser feita directamente no cérebro, sem a perturbação da tradução pelos sentidos, e ser tão rica de pormenores como a realidade. Mas o que nos dizem as experiências de realidade virtual, curiosamente, é que não é o aspecto realista do mundo virtual que nos faz acreditar mais nele, mas sim a sua coerência com a nossa experiência, a capacidade de reagir aos nossos gestos. Um mundo de realidade virtual com uma estética de "desenho animado" mas onde as portas se abrem quando rodamos a maçaneta parecer-nos-á mais real que um cenário hiperrealista onde nada reage como devia.
"The Matrix" é, à boa maneira americana, um filme de citações (ou de "clichés", se se quiser), onde o espectador pode reconhecer em cada passo referências estéticas e narrativas, da ficção científica dos Humanoïdes Associés aos contos infantis e aos jogos de computador (as sequências de luta são puro "Mortal Kombat" e é impossível não pensar no jogo de simulação "SimCity"). No entanto, oferece algo de mais interessante: as histórias de ficção científica só costumam ser verosímeis (quando o são) se aceitarmos as premissas do mundo que nos é proposto - e que podem ser muito difíceis de aceitar -, mas a história de "Matrix", sendo a mais fantástica e fantasmagórica que se possa imaginar, é surpreendentemente verosímil no nosso mundo, para aquilo que sabemos hoje.
Em termos de verosimilhança científica, há porém um problema (que não é menor): a ausência de corpo. Ao contrário do que acontece no filme, não seria possível a um corpo que teve durante anos apenas uma existência puramente cerebral, "acordar" e aprender em dias o que nunca aprendeu, de forma a poder viver num mundo real. É que, se para ver é preciso ter cérebro e olhos, isso não basta: é também preciso uma longa, lenta e sedimentada aprendizagem. Um ratinho nascido e mantido num mundo de riscas verticais não consegue ver linhas horizontais: é cego para o que não aprendeu a ver, ainda que os seus olhos e o seu córtex visual funcionem.
Da mesma maneira, um cérebro que não aprendesse a receber sinais do seu corpo (não se trata apenas dos sinais dos sentidos, mas de toda a "paisagem hormonal" que retrata as emoções, de que fala o neurologista António Damásio) não poderia aprender a funcionar nalguns dias e não poderia ser senão um catálogo de psicoses. Por outras palavras: se é possível imaginar que os humanos vivam na Matriz e estejam mergulhados numa vida imaginária, de forma a poderem continuar a experimentar as emoções sintéticas que lhes permitem manter-se vivos, é mais difícil imaginar que eles possam algum dia sair dessa escravidão.
O tema da irrealidade do mundo material que nos rodeia não é novo. Ele está presente há milénios em religiões que tentam libertar-nos das misérias da realidade e compensar-nos no futuro pelas insuficiências do presente.
A grande diferença entre estas teorias e o mundo que nos oferece "The Matrix" é que, para as primeiras, aquilo a que chamamos "mundo" é uma ilusão provisória, oferecida aos sentidos enquanto esperamos a verdadeira e eterna existência, num mundo talvez sem substância mas que é o único dotado de realidade e que nos pode oferecer a completa felicidade - um Paraíso. No filme, a única coisa que se esconde por trás da ilusão da nossa realidade é o Inferno sem apelo.
Como "eXistenZ", de David Cronenberg, também actualmente em exibição (com quem as comparações são inevitáveis), "The Matrix" aborda um tema que já foi pura filosofia mas a que as descobertas das neurociências vieram trazer uma dimensão física (uma expressão só aparentemente mais segura do que "realidade"): a realidade é um mundo construído pelo nosso cérebro, a partir dos elementos que lhe são fornecidos pelos sentidos e com base em regras de coerência interna.
Dito de outra forma: ninguém sabe como as coisas são; sabemos apenas como elas nos parecem. E sabemos hoje que, quando essa percepção é alterada, o nosso cérebro cria com facilidade visões alternativas do mundo, de forma a integrar nelas de forma coerente as novas mensagens que lhe chegam.Um exemplo simples disso é o que acontece quando uma pessoa coloca uns óculos prismáticos que invertem as imagens que vê. Depois de algumas horas a ver as coisas de pernas para o ar (o que contraria tudo aquilo que ela sabe sobre o funcionamento do mundo), o cérebro da pessoa que é objecto da experiência inverte a imagem recebida e coloca o mundo no seu sítio, de pés no chão, sem que tenha sido preciso tirar os óculos. A imagem que se forma na retina é a mesma, o seu processamento pelo córtex visual mudou. A visão do mundo volta a ser coerente com a história pessoal do indivíduo, com as restantes experiências e as restantes mensagens dos seus sentidos. Se, passados uns dias, os óculos forem retirados, o mundo volta a estar de pernas para o ar, mas tudo se recomporá de novo (não sem umas náuseas ou enxaquecas) passadas umas horas.
Os míopes tem uma experiência quotidiana destas experiências: apesar de os seus óculos mostrarem uma imagem muito mais pequena do que a vista sem óculos, uns dias depois de colocar pela primeira vez umas lentes à frente dos olhos, os míopes passam a ver as coisas das suas verdadeiras dimensões: as suas mãos parecem-lhes da mesma dimensão vistas através dos óculos ou não, porque o seu cérebro sabe que elas não mudam de dimensão e faz, por isso, o necessário ajustamento.
Ou seja: o mundo é fabricado pelo cérebro e a sensação da sua "realidade" não é mais do que o resultado da coerência das várias mensagens recebidas pelos nossos sentidos ao longo do tempo. Sabemos que o filme que vemos no ecrã não é real porque sentimos a cadeira em que estamos sentados e o nosso cérebro atribui uma maior pontuação na escala da realidade a essa sensação. Mas o que acontecerá quando não a sentirmos?
As tecnologias de informação permitem hoje criar mundos virtuais e injectar no nosso cérebro (via órgãos dos sentidos) um grande número de sensações artificiais (imagens, sons, pressão, vibrações). E a ficção científica imagina há décadas o momento em que essa injecção poderá ser feita directamente no cérebro, sem a perturbação da tradução pelos sentidos, e ser tão rica de pormenores como a realidade. Mas o que nos dizem as experiências de realidade virtual, curiosamente, é que não é o aspecto realista do mundo virtual que nos faz acreditar mais nele, mas sim a sua coerência com a nossa experiência, a capacidade de reagir aos nossos gestos. Um mundo de realidade virtual com uma estética de "desenho animado" mas onde as portas se abrem quando rodamos a maçaneta parecer-nos-á mais real que um cenário hiperrealista onde nada reage como devia.
"The Matrix" é, à boa maneira americana, um filme de citações (ou de "clichés", se se quiser), onde o espectador pode reconhecer em cada passo referências estéticas e narrativas, da ficção científica dos Humanoïdes Associés aos contos infantis e aos jogos de computador (as sequências de luta são puro "Mortal Kombat" e é impossível não pensar no jogo de simulação "SimCity"). No entanto, oferece algo de mais interessante: as histórias de ficção científica só costumam ser verosímeis (quando o são) se aceitarmos as premissas do mundo que nos é proposto - e que podem ser muito difíceis de aceitar -, mas a história de "Matrix", sendo a mais fantástica e fantasmagórica que se possa imaginar, é surpreendentemente verosímil no nosso mundo, para aquilo que sabemos hoje.
Em termos de verosimilhança científica, há porém um problema (que não é menor): a ausência de corpo. Ao contrário do que acontece no filme, não seria possível a um corpo que teve durante anos apenas uma existência puramente cerebral, "acordar" e aprender em dias o que nunca aprendeu, de forma a poder viver num mundo real. É que, se para ver é preciso ter cérebro e olhos, isso não basta: é também preciso uma longa, lenta e sedimentada aprendizagem. Um ratinho nascido e mantido num mundo de riscas verticais não consegue ver linhas horizontais: é cego para o que não aprendeu a ver, ainda que os seus olhos e o seu córtex visual funcionem.
Da mesma maneira, um cérebro que não aprendesse a receber sinais do seu corpo (não se trata apenas dos sinais dos sentidos, mas de toda a "paisagem hormonal" que retrata as emoções, de que fala o neurologista António Damásio) não poderia aprender a funcionar nalguns dias e não poderia ser senão um catálogo de psicoses. Por outras palavras: se é possível imaginar que os humanos vivam na Matriz e estejam mergulhados numa vida imaginária, de forma a poderem continuar a experimentar as emoções sintéticas que lhes permitem manter-se vivos, é mais difícil imaginar que eles possam algum dia sair dessa escravidão.
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