quarta-feira, julho 20, 2011

Critérios para prémios de jornalismo (do Facebook)

Adaptação de um post publicado no grupo "Jornalistas" do Facebook a 8 de Julho de 2011, na sequência da criação de uma lista com os prémios de jornalismo portugueses.


Sou a favor de prémios de jornalismo (e de prémios para outras áreas). Um prémio exigente promove a qualidade, promove a boa concorrência, a emulação, dá a conhecer os bons profissionais e (nos melhores casos) premeia os melhores. Mas é evidente que os prémios, para terem algum valor devem obedecer a alguns critérios.
Proponho alguns: 

  • Ampla divulgação do prémio e com a devida antecedência, para que todos os interessados possam concorrer (há prémios quase secretos, que parecem ter sido pensados para só terem como concorrentes... os três premiados). Essa divulgação deve incluir publicação na Internet e informação ao Sindicato dos Jornalistas, Casa de Imprensa, Clube de Jornalistas e outras organizações com alguma relevância no jornalismo.
  • Um regulamento público (e disponibilizado igualmente com antecedência na Internet). O regulamente deve prever a possibilidade um ou mais prémios não ser atribuído se a qualidade dos trabalhos  a concurso não for julgada suficiente pelo júri.
  • O prémio pode ser limitado a uma determinada área temática, mas não é aceitável que o regulamento imponha qualquer outra limitação, por bem intencionada que seja, ao conteúdo dos trabalhos a concurso. Exemplos de "temas" não admissíveis seriam "trabalhos jornalísticos que promovam a União Europeia” ou que “ajudem a combater a epidemia de obesidade”. Não é admissível que seja criado um prémio para “trabalhos jornalísticos” que constituam na realidade uma promoção de uma dada actividade, de uma dada empresa, de uma dada região, ou a promoção de uma ideia particular - ainda que me pareçam admissíveis prémios para trabalhos que adoptam uma perspectiva de defesa dos direitos humanos (direitos das mulheres, direitos das crianças, combate à fome, paz).
  • Nomeação de um júri cuja composição seja pública e anunciado com antecedência, composto por personalidades de reconhecido mérito e com uma maioria de elementos independentes ligados ao jornalismo (é admissível que uma organização patrocinadora de um prémio de jornalismo nomeie um seu representante como jurado, mas não mais).
  • Publicação dos critérios de pré-selecção e avaliação dos trabalhos (em certos prémios, devido ao elevado número de candidaturas, há uma pré-selecção dos trabalhos submetidos ao júri) ou de forma integrada no regulamento ou em documento independente.
  • Publicação do Regulamento do Júri (quantas reuniões, como é feita a avaliação e participação de cada jurado, a discussão, as votações, resolução de dúvidas e empates)
  • Uma acta da reunião (ou reuniões) do júri, de onde constem os critérios e razões das escolhas feitas.

Há quem se sinta chocado (vejam-se as discussões no referido grupo do Facebook) por haver trabalhos jornalísticos feitos expressamente para ganhar prémios. O facto não me choca nada e penso que estimular a produção de bons trabalhos é, precisamente, um dos bons resultados dos prémios. O que é necessário é que os trabalhos vencedores tenham um mérito indiscutível. 
Se houver bons trabalhos produzidos especificamente para ganhar um prémio, isso significa que o prémio cumpriu a sua função de estimular a qualidade. Se esses trabalhos forem maus, não devem ser premiados - e, se forem premiados, isso significa que o prémio não possui qualidade. 


José Vítor Malheiros

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