Por José Vítor Malheiros
Texto publicado no jornal Público a 8 de Julho de 2007
Em Cena 11/2007
É verdade que, desde a semana passada, ela é a nova ministra da Defesa do Japão, mas os japoneses conhecem-na principalmente, por enquanto, como a promotora da campanha Cool Biz. Ainda que isso vá mudar.
O Cool Biz não é um refrigerante mas sim uma nova forma de vestir, que Yuriko Koike tentou promover quando era ministra do Ambiente de Junichiro Koizumi. O objectivo era convencer os empresários e trabalhadores japoneses a deixar de usar gravata (principalmente convencer os primeiros a deixar que os segundos se convencessem), para reduzir os gastos em ar condicionado e poupar uns milhões de ienes em electricidade, ao mesmo tempo que se reduzia a contribuição do país para o aquecimento global. A campanha foi considerada um êxito, como uma outra que Koike lançou no ano passado para levar os japoneses a regressar ao tradicional furoshiki e abandonar os sacos de plástico. O que é o furoshiki? Um tecido rectangular ou quadrado que pode ser usado, graças a um sábio uso de dobragens e nós, para transportar qualquer tipo de objecto, desde as compras de mercearia aos livros da escola - aquilo a que chamaríamos em português uma trouxa, mas uma trouxa elegante e sofisticada. O tecido é sempre lavável e reutilizável, mas Koike para mais lançou um furoshiki de tecido sintético reciclado.
Depois de ser ministra do Ambiente e antes de ser ministra da Defesa, Koike foi conselheira de segurança de Shinzo Abe, o que lhe valeu a alcunha de "Condi Rice do Japão".
Yuriko Koike é uma conservadora, que defende uma posição de grande dureza perante a Coreia do Norte e a China, que apoiou a contragosto a invasão do Iraque mas que se sente próxima dos neocons americanos.
Fala árabe fluentemente (um dos livros que publicou chama-se Árabe em Três Dias!), estudou Sociologia na Universidade do Cairo (o pai negociava em petróleo no Médio Oriente e Yuriko Koike ainda alimenta muitas relações pessoais na região) e começou a sua carreira como tradutora-intérprete (de árabe), tornando-se depois pivot da televisão, durante mais de dez anos. As suas elogiadas competências de comunicação devem algo a esta experiência.
Yuriko Koike, hoje com 54 anos, saltou de partido durante anos até aterrar em 2002 no Partido Liberal Democrático (PLD) com fama de ter uma ambição política igual apenas à sua determinação e uma sólida reputação de especialista no Médio Oriente. A razão da adesão ao PLD que sempre tinha criticado? Disse ter chegado à conclusão de que este era o único sítio de onde seria possível reformar o país.
Se houver uma primeira-ministra no Japão (cenário duvidoso, visto o machismo da sociedade japonesa), alguns analistas pensam que será ela.
A elegância, o ar delicado e a voz suave de Yuriko Koike dão-lhe uma aparência frágil que os críticos aconselham a ignorar. Koike sabe ser extremamente persuasiva e debaixo da pomba está um falcão. Próxima dos sectores mais conservadores, Yuriko Koike pertence ao grupo dos políticos que minimizam o massacre de Nanking, não gosta de abordar o tema das escravas sexuais usadas pelo exército japonês na II Guerra Mundial, tem sido acusada de querer branquear os episódios mais negros da história japonesa (e de defender alterações nos manuais de História nesse sentido) e acha que uma das funções das escolas é inculcar patriotismo nos jovens.
Profundamente desconfiada das intenções de Pequim,
Koike irá ser uma campeã incansável do crescimento das Forças Armadas japonesas, do reforço da aliança de segurança com os Estados Unidos (e também com a Índia e Austrália) e do desenvolvimento do sistema de defesa antimíssil que está a ser estudado pelos dois países há uma dezena de anos. Tem sido porém - como é tradicional no Japão - uma defensora do desarmamento nuclear, que considera que o Japão deve liderar no mundo.
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