por José Vítor Malheiros
Texto publicado no jornal Público a 19 de Junho de 2001
Crónica x/2001
Há dez anos, quando alguém precisava de se informar rapidamente sobre um tema sobre o qual sabia pouco ou nada, tinha um problema bicudo entre mãos.
As fontes possíveis não eram muitas: ou se tentava identificar um especialista que nos pudesse informar e recomendar as leituras adequadas, ou se visitava uma biblioteca em busca de uma publicação onde as respostas pudessem ser debulhadas.
É claro que já havia grandes bases de dados recheadas de artigos, mas a sua consulta era cara e difícil e o seu conteúdo, com raras excepções, estava restrito aos temas das ciências duras. As pesquisas eram longas e produziam uma massa de respostas de manipulação impraticável.
A situação mudou radicalmente com o aparecimento da World Wide Web. De súbito, milhões de instituições e indivíduos começaram a disponibilizar a sua informação, a criar bases de dados de acesso livre e, o que é mais importante, começaram a aparecer os famosos motores de busca (ou de pesquisa): programas gratuitos capazes de, na Babel inimaginável da Web, localizar em segundos o que procuramos, de vasculhar não uma base de dados mas milhares e milhares de bases de dados.
Há dez anos, a informação procurava-se; hoje, colhe-se. A sua localização deixou de ser um problema de maior.
Os primeiros motores de busca da Web, quando procurávamos a palavra "árvore", encontravam todas as páginas que contivessem a palavra e consideravam-nas tanto mais relevantes para a nossa pesquisa quanto mais vezes essa palavra aparecesse. Depois, apareceram os motores de pesquisa actuais, que consideram as páginas tanto mais relevantes para nós quanto maior for o número de links da Web que aponta para elas. Como um programa de pesquisa não consegue avaliar a qualidade do conteúdo, faz o que pode: usa o "efeito de citação" para o avaliar, para o validar.
Assim, quanto mais links apontarem para uma página, mais visitantes ela receberá, enviados pelos motores de pesquisa, e cada vez mais links apontarão para ela, criando um efeito de bola de neve, facilitando a concentração de poder que a mundialização arrasta ao criar vasos comunicantes. Não é fácil resistir a este critério, pois toda a gente quer usar "a melhor pesquisa", "encontrar o melhor resultado" e ninguém está disposto a abdicar de uma funcionalidade deste tipo quando ela está ao alcance de um clique.
Claro que, em certos casos — quando sabemos bem o que procuramos, quando discriminamos a idoneidade das fontes —, possuímos critérios adicionais que nos permitem resistir às primeiras propostas dos programas de pesquisa. Mas quantos o fazem?
Contrariamente ao que esperavam da Internet os mais optimistas — um mundo de comunicação aberta e democrática, onde todos pudessem fazer ouvir a sua voz e fazer valer as suas ideias —, a Web corre assim o risco de levar a uma dramática perda da infodiversidade (a variedade das fontes, a multiplicidade de pontos de vista), que poderá ser tão desastrosa como a perda de biodiversidade.
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