segunda-feira, abril 21, 2014

Sobre a crónica "Um erro e uma vergonha" de Vasco Pulido Valente

Post publicado no Facebook a 21 de Abril de 2014

Vasco Pulido Valente sempre me lembrou o Jaimito das anedotas da minha infância, o miúdo malcriado sempre ansioso por arranjar uma maneira de dizer um palavrão e de ser inconveniente na aula. O Jaimito que, quando a professora lhe pede para dizer uma palavra começada por A, e não se lembra de um palavrão que satisfaça a condição, responde raivosamente: "Anão. Mas a fazer um grande cagalhão!"

Vasco Pulido Valente faz o mesmo, ainda que sem nunca ultrapassar a fronteira da conveniência de classe. O seu cinismo às vezes tem graça. A sua amargura às vezes é compreensivelmente amarga. Até a sua nostalgia de um mundo sem os sobressaltos da modernidade se compreendem. Muitas vezes concordo com o que diz. Na maior parte das vezes não. Desta vez, concordo cem por cento com o título da sua crónica: Um erro e uma vergonha. A sua crónica de dia 19 é um erro e uma vergonha 8
http://www.publico.pt/ciencia/noticia/um-erro-e-uma-vergonha-1632765). Uma defesa vergonhosa do obscurantismo e um ataque tão disparatado à universidade que não vale a pena gastar mais uma linha com o seu conteúdo.

1 comentário:

Unknown disse...

1) o papel da Universidade é muito mais profundo (ou deve ser) do que formar técnicos e profissionais cujos cursos tenham empregabilidade; de outro modo estamos a remeter o ensino superior à pura lógica mercantilista e as universidades ao mero papel de formação tecnocrática: deixando às elites o exclusivo de decidir o destino do país. É porque muitos responsáveis pensam de facto assim que estamos como estamos. A guiar-nos pelos critérios do VPV, a Universidade portuguesa deveria regressar aos padrões do século XIX e dedicar-se em exclusivo a fornecer titulos aos filhos protegidos da "sábia" elite portuguesa.

2) se a "utilidade" dos cursos se medisse pela sua empregabilidade no sector privado, certamente que nem a Filosofia (onde é formado VPV) nem a História (onde se doutorou -- fora do pais, mas presumo que com bolsa do Estado português) teriam direito de existir, pelo menos nestes tempos de austeridade e de desmantelamento do papel do Estado. O Dr Pulido Valente comporta-se nesta matéria com um "enfant terrible" que finge disparar em todas as direções mas na verdade está ao serviço de uma estrita elite privilegiada que gostaria de perpetuar 'ad eternum' as desigualdades e barreiras de classe.