por José Vítor Malheiros
Texto publicado no jornal Público a 22 de Setembro de 2010
Crónica 31/2010
Texto publicado no jornal Público a 22 de Setembro de 2010
Crónica 31/2010
Nota: O texto publicado no jornal Público teve de ser cortado por razões de espaço, com o acordo do autor. Esta versão inclui um parágrafo, assinalado a itálico, que não integra a versão impressa.
A Grande Ilha de Lixo tem o tamanho do Texas. Ou talvez o tamanho dos Estados Unidos
Este Verão soube da existência de uma ilha surpreendente no Pacífico. A ilha foi descoberta por um conhecido oceanógrafo californiano, Charles J. Moore, em 1997, quando regressava de uma regata Los Angeles-Havai a bordo do seu catamarã e tem a particularidade de ser uma ilha onde não se pode desembarcar porque é formada de plástico flutuante. O nome oficial é Great Pacific Garbage Patch (ou Grande Extensão de Lixo do Pacífico) mas é mais conhecida pelo nome de “Ilha de Lixo do Pacífico”.
Este Verão soube da existência de uma ilha surpreendente no Pacífico. A ilha foi descoberta por um conhecido oceanógrafo californiano, Charles J. Moore, em 1997, quando regressava de uma regata Los Angeles-Havai a bordo do seu catamarã e tem a particularidade de ser uma ilha onde não se pode desembarcar porque é formada de plástico flutuante. O nome oficial é Great Pacific Garbage Patch (ou Grande Extensão de Lixo do Pacífico) mas é mais conhecida pelo nome de “Ilha de Lixo do Pacífico”.
Dizer que a ilha é feita de lixo não é rigoroso. Na realidade é feita de plástico – o outro lixo ou se degrada ou se afunda. E dizer que se trata de uma ilha também é incorrecto porque não se pode dizer exactamente quais são as suas fronteiras. Na realidade é uma imensa extensão onde existe uma imensa quantidade de pedaços de plástico em suspensão, desde pedaços de embalagens de champô, cápsulas de garrafas, pedaços de brinquedos e bocados de redes de pesca até pedaços microscópicos, invisíveis a olho nu. O plástico desfaz-se, em pedacinhos cada vez mais pequenos, mas não se degrada e vai entrando na cadeia alimentar. Nalguns casos, mata imediatamente os animais que os ingerem ou que se enredam neles. Noutros casos mata-os lentamente, obstruindo vias respiratórias, tubos digestivos, acumulando-se no seu estômago e intestinos, intoxicando-os lentamente. As fotografias que se podem encontrar na Web (nomeadamente no site da fundação Algalita Marine Research Foundation, criada por Moore) são elucidativas. É fácil encontrar, por exemplo, fotografias de carcaças de albatrozes onde se distingue no meio das penas e do esqueleto um monte de rolhas de plástico de diversas cores que era o conteúdo do seu estômago. A carne desapareceu, mas os restos das “refeições” das aves mantêm-se, tão atraentes e coloridas como quando o albatroz as engoliu. Mas as coisas não começam no albatroz mas no zooplâncton, que também vai enchendo a barriga com bolinhas de plástico colorido que sobem por aí acima a cadeia alimentar até regressar a nós.
A Grande Ilha de Lixo tem, diz-se, o tamanho do Texas (os americanos acham que tudo o que é grande é como o Texas). Ou talvez mesmo o tamanho dos Estados Unidos. Mas ninguém sabe ao certo. A ilha não se vê do espaço e é difícil decidir onde se começa a medir o “território”. Na região que ocupa não é a só a superfície do mar que está contaminada. É toda a coluna de água, do fundo à superfície, ou pelo menos uma grande parte dela.
A ilha de lixo é o aterro do mundo. É lá que vai parar todo o lixo que não reutilizámos, que não reciclámos, que não apodreceu, que não foi incinerado. Lembra-se do saco de plástico onde lhe meteram o jornal e que voou pela janela do seu carro na semana passada? Da garrafa de água que deixou cair nas rochas naquele dia na praia? Estão aqui. Ou o que resta delas. A envenenar os peixes, os moluscos, as aves, as tartarugas, a paisagem, o planeta. O mar aqui não é canja, é sopa juliana, caldo verde, sopa da pedra, sopa de lixo, uma lixeira aquática.
Lembra-se de quando se deitavam coisas fora? Quando se deitava uma coisa para o lixo e ela desaparecia e pensávamos que a Terra, no seu generoso reprocessamento, a tinha transformado em malmequeres e melros e carapaus e castanheiros? Isso era quando não sabíamos da Grande Ilha de Lixo do Pacífico. Agora sabemos que tudo o que deitámos “fora” está afinal aqui. Aqui dentro. No Pacífico, onde só gostamos de imaginar ilhas de vahines no te tiares e de corais, praias de águas esmeralda e areia dourada. Está aqui tudo.
Já houve quem tenha pensado em transformar a ilha num território habitável mas o problema é que a ilha não é uma jangada gigante feita de grandes garrafões. O problema é que este lixo está a envenenar todos os mares, todos os animais.
Da próxima vez que usar um saco de plástico ou uma garrafa de água pense na contribuição que está a fazer para a Grande Ilha de Lixo. Agora já sabe que nunca os poderá deitar fora. (jvmalheiros@gmail.com)
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